Alívio

2.1K 143 2
                                    

Kagome sentia que todo um universo resolvera eclodir dentro da sua mente e o deserto se instalar em sua garganta, o corpo estava todo dolorido, parecia que levara uma surra gigante.
Ao abrir os olhos a claridade lhe atrapalhou, lhe enviando ondas de dores para a sua já dolorida cabeça, seu olfato também lhe causava problemas a mistura de dezenas de odores lhe revirava o estomago e as vozes altas lhe davam vontade de choramingar.
- Kagome?
A voz suave e rouca da senhora Kaede chegara a seus sensíveis ouvidos como um berro.
- Mais... baixo... Kaede-obaa-chan.
- Céus criança eu já estou falando o mais baixo que posso.
- Estou.... com.… sede.
Com alivio ela suspirou ao sentir o liquido gelado descer por sua garganta ressecada.
- Kagome, como se sente?
Kagome afastou a bebida dos lábios e suspirou.
- Como se eu houvesse contraído a pior gripe da minha vida ou estou tendo a pior ressaca.
- Consegue sentar-se?
Kagome bufou e com dores em todas as juntas sentou-se e ao notar a falta de sua barriga gigante ela franziu o cenho e as lembranças do ocorrido voltaram com força total, a jovem acabou encarando a velha sacerdotisa com total desespero.
- Onde ele está?
- Ele quem querida?
Kagome suava frio e olhava para os lados desesperada, como que em busca de algo.
- O meu bebê, Kaede, onde ele está?
O choramingo veio do lado de fora da cabana e a jovem praticamente voou até o exterior para dar de cara com a cena mais fofa que veria na vida. Sesshoumaru segurava um pequeno ser nos braços e este brincava com uma mexa dos cabelos albinos do mais velho.
Um sorriso se formou nos lábios da miko enquanto que o alivio tomava conta de seu corpo.
- Sesshoumaru está com ele desde que retornara do seu cativeiro, claro que antes tive de manda-lo se banhar, não deixaria ele pegar aquela coisinha minúscula com o corpo coberto de sangue e entranhas.
Kaede tinha a face neutra, desprovida de qualquer sentimento.
- Kaede, você sabe o que aconteceu? Como Sesshoumaru me encontrou e como me trouxe para cá?
- Só sei que Koga lhe trouxe para cá enquanto que deixava Sesshoumaru lidando com o hanyou dragão.
- Koga?
- Vamos para dentro que eu te conto mais algumas coisas, pelo menos as que eu sei.
- Hmn.
Kagome deu uma última olhada para seu bebê e para o pai dele, para pôr fim voltar para dentro da cabana.
Vendo a jovem a sentar-se a miko mais velha suspirou, a mudança na aparência de Kagome ainda lhe causava certo desconforto.
- Então, vamos começar pelas coisas mais obvias, você minha querida, deu à luz durante seu cativeiro e se Sesshoumaru não houvesse chegado a tempo e lhe marcado como fêmea dele neste momento você não estaria aqui, tendo está conversa comigo.
Kagome franziu o cenho, sua mão involuntariamente foi movida até o ponto onde estava a marca.
- Marcou? O que seria isso? E porque isso me ajudou?
Kaede suspirou, era claro que a menina lhe faria perguntas que não saberia responder.
- A marca para os youkais é como a concretização de um casamento, mas pelo o que consegui arrancar do Sesshoumaru é algo um pouco mais complicado, como uma ligação de almas.
- E como isso me ajudaria?
- Não faço ideia criança, o único que pode lhe responder é o Sesshoumaru.
E foi só dizer o nome dele que ele se materializou na porta da cabana, seus olhos ambares repousaram na jovem e o alivio tomou as pupilas do youkai. O pequeno ser em seus braços olhou para o mesmo ponto que o pai e assim que pousou os olhos safiras na jovem começou a tentar alcança-la e ao não conseguir começou a chorar desesperadamente. Kagome esticou os braços e encarou Sesshoumaru em dúvida.
- Posso?
Sesshoumaru deu um meio sorriso e colocou o pequeno nos braços da miko.
- Não precisa perguntar miko, está cria não iria parar de chorar até estar perto da hahaue dele. - O sentir aquele pequeno peso em seus braços e poder ver a face daquela criança, a jovem não pode evitar de que as lagrimas lhe enchessem os olhos. – Já escolheu o nome da cria, miko?
Kagome brincava com a mãozinha que a criança segurava firmemente.
- Sim.
Seus olhos não deixavam por um único instante os olhos azuis com raias douradas e prateadas. Sesshoumaru mudou o peso da perna impaciente.
- E qual seria?
Kagome sorriu e o encarou com os olhos brilhantes.
- Porque tanta pressa em saber Sesshoumaru?
- O nome é algo importante para o youkai, define muito o que ele é e a cria já ficou muito tempo sem saber o próprio nome.
Kagome riu.
- Mas ele sabe o nome dele.
O filhote olhou para o pai e deu um sorriso banguela, Sesshoumaru colocou sua máscara fria na cara por conta da surpresa.
- Como?
- Eu lhe disse assim que o tive em meus braços, mas assuma Sesshoumaru, você está curioso para saber que nome eu escolhi e ver se não é algo inapropriado para o filho do grande lorde do Oeste.
Kagome se levantou e caminhou para perto do youkai, parou bem em frente a ele, enquanto o mesmo soltava um rosnar frustrado.
- Nossa cria se chama Yue, Sesshoumaru.
Os olhos do youkai se arregalaram e Kagome sorriu docemente enquanto depositava o pequeno nos braços de Sesshoumaru.
- Yue?
- E aparentemente ele é um youkai completo, assim como você.
- E assim como a miko.
Kagome tirou os olhos do filhote e encarou os ambares de seu marido.
- Como?
- A miko se tornara uma youkai completa após a marca.
Kagome piscou algumas vezes aturdida.
- Como isso é possível, eu sou humana.
Sesshoumaru sorriu de canto e tocou a face da miko com a mao livre.
- Não é mais, a miko agora é uma youkai completa e a senhora do Oeste.
Kagome abriu a boca em espanto e arregalou os olhos.
- Como é que é?
Sesshoumaru emaranhou seus dedos nos cabelos da nuca da jovem e trouxe os lábios dela até os seus.
- Isso mesmo minha fêmea, eu lhe marquei logo você pertence a mim e agora é a senhora de minhas terras.
Antes que pudesse dizer mais algumas coisas o youkai tomara os lábios da miko com necessidade, fazendo-a perder a linha de raciocino antes mesmo que pudesse realmente acha-la.
O limpar de garganta da velha sacerdotisa fizera o youkai retroceder, mas este ficou maravilhado com o rosto vermelho da sua fêmea, assim como a falta de ar dela lhe deu um imenso prazer.
- Vocês dois poderiam se conter? Ainda estão com o filhote nos braços.
Sesshoumaru se separou e entregou o filhote novamente para a miko.
- Este Sesshoumaru tem de levar a miko e a cria para as terras do Oeste, pelo menos assim o conselho deste Sesshoumaru o deixara em paz.
Kagome ajeitou seu filho nos braços e tombou a cabeça de lado.
- Problemas com o conselho?
- Sim, aparentemente este Sesshoumaru está a tempo demais sem uma fêmea e isto está incomodando meus conselheiros, eles querem que este Sesshoumaru arranje uma fêmea e um herdeiro.
Kagome mordeu o lábio inferior e desviou o olhar para o pequeno ser que brincava com uma mexa negra de seus cabelos.
- Eu lhe disse quando descobri a gravidez Sesshoumaru, eu não iria exigir nada de você, apenas queria proteção e você já cumpriu essa parte, matou Hebigon, agora não há necessidade de me apresentar como sua fêmea e nem de fazer Yue seu herdeiro, você pode encontrar alguém mais adequado para a tarefa.
Os olhos da jovem se arregalaram ao ouvir o rosnar enfurecido do youkai à sua frente e quando o encarou viu que os olhos ambares possuíam raias rubis.
- A miko agora pertence a este Sesshoumaru e este Sesshoumaru não irá aceitar qualquer outra fêmea que não seja a miko.
Kagome suspirou e entregou o seu pequeno para Kaede.
- Kaede-baa-chan, você poderia, por favor, dar uma volta com o Yue, preciso resolver isso.
- Será um prazer, querida.
Kagome observou a velha sacerdotisa sair cantarolando algo para o pequeno youkai que carregava, por fim suspirou e se voltou para Sesshoumaru.
- Agora podemos conversar sem nos preocupar.
- Sim.
- Então, porque, diachos, você quer tanto que eu assuma o posto de lady do Oeste e que Yue seja seu herdeiro?
Sesshoumaru fechou as mãos em punhos.
- Porque a miko agora é a fêmea deste Sesshoumaru, pertence a ele.
Kagome cruzou os braços abaixo dos seis e estes atraíram e muito a atenção do youkai.
- Sesshoumaru, eu não sou um objeto para pertencer a alguém.
Sesshoumaru suspirou, sabendo que deveria explicar tudo a jovem a sua frente.
- Este Sesshoumaru está muito ciente de que a miko não é nenhum objeto, porem este Sesshoumaru a marcou como sua fêmea, não há como desfazer a marca e mesmo se houvesse este Sesshoumaru não o faria.
- E porque não?
Se Sesshoumaru usasse calças com toda a certeza ele estaria pondo as mãos nos bolsos naquele instante, enquanto queimava seus neurônios para responder aquela pergunta.
- Porque este Sesshoumaru não se arrepende de sua escolha, a fera deste Sesshoumaru a escolheu antes mesmo que este Sesshoumaru se desse conta.
Kagome deu um meio sorriso e se manteve com a cabeça tombada.
- Você tentou me matar inúmeras vezes Sesshoumaru.
Fora a vez do youkai dar um meio sorriso.
- Mas este Sesshoumaru não matou, não é?
Kagome ficou encarando-o em silencio, tentando decidir como interpretar a fala do youkai.
- Certo, não matou, mas isso não quer dizer nada.
Sesshoumaru rosnou frustrado.
- A miko vai realmente me fazer dizer?
Kagome se endireitou e sorriu matreira.
- Dizer? Dizer o que?
Sesshoumaru se aproximou dela e a enlaçou pela cintura, grudando seus corpos da ponta dos dedos até o ultimo fio de cabelo.
- Que desde o momento em que este Sesshoumaru pos os olhos na miko ele não conseguiu pensar em qualquer outra fêmea, que a miko é a única para este Sesshoumaru.
Kagome passou seus braços pelos ombros do youkai.
- Sesshoumaru você deveria parar de me chamar de miko, agora sou uma youkai, não?
- Apesar de a miko ter uma forma e poderes youkais, seus poderes sagrados estão aí, intocados, por isto este Sesshoumaru continuará lhe chamando de miko.
Kagome o encarou fundo nos olhos ambares.
- Então voltando ao assunto, o que pretende? Me seduzir para me livrar até o palácio do Oeste?
Sesshoumaru arrastou um sorriso lentamente e roçou seus lábios nos da miko.
- E isso daria certo?
- Com toda a certeza.
Kagome não saberia dizer quem começou o beijo, ela ou ele, ou se fora os dois juntos, mas céus como ela desejava aquele contato com youkai. Um choro estridente chegou aos seus novos sentidos super aguçados e ela teve de se esforçar para se afastar do youkai.
- Creio que Yue esteja com fome e por falar em fome, como vocês tem feito para alimenta-lo enquanto eu estava apagada?
Sesshoumaru suspirou cansado, sentia que aquela não seria a última interrupção que teriam.
- A velha arranjou uma ama de leite.
Kagome suspirou e se afastou.
- Bom, então irei alimentar meu filhote pela primeira vez.
Kagome saiu e viu Kaede tentando acalmar o pequeno que não parava de chorar, se aproximou e pegou o filhote no colo.
- Céus menina, esse garoto tem uma garganta.
- Deve ter puxado isso de mim, mas deve ser porque está com fome.
- Sim, já estava pronta para leva-lo para a Sango.
- Sango estava sendo a ama de leite?
Kagome olhava para o pequeno em seus braços que se aconchegava mais seu seio, sabia que ele sentia o cheiro de seu leite.
- Sim, ela se ofereceu ao ver que você estava desacordada e o pequeno não parava de chorar.
As duas caminhavam para dentro e encontraram Sesshoumaru sentado em um canto com a expressão congelada.
Kagome sentou-se em frente a ele e se livrou das mangas do kimono e libertou seu seio para dar a criança que logo se alimentava com gana, sem perceber a jovem começou a cantarolar enquanto remexia nas curtas madeixas platinadas de seu filho e o pensamento de querer apresenta-lo a sua mãe se fez presente, porem ela o afastou, sua mãe jamais conheceria o primeiro neto.
O silencio na cabana só era cortado pelo som do pequeno sugando o leite de sua mae, a jovem estava perdida em seus pensamentos e Sesshoumaru encantado demais com a cena a sua frente. Quando o som de algo batendo na madeira chamou a atenção deles e ambos viram InuYasha parado na porta. O hanyou tinha os olhos pregados no chão, pois temia o que Sesshoumaru pudesse fazer com ele, caso ele olhasse para a fêmea do irmão com os seios de fora.
- Vejo que já acordara Kagome, está tudo bem com você?
Kagome sorriu, sabia que apesar de amedrontado, InuYasha estava legitimamente preocupado.
- Estou bem Inu, só gostaria de entender o que houve com o meu corpo para ter acabado me transformando em uma youkai completa.
- Este Sesshoumaru terá de perguntar a sua hahaue sobre isso, era suposto a miko ter um aumento na longevidade da vida e algumas características youkais, porém não se tornar em um.
- E sobre o filhote? Não era suposto ele ser um hanyou?
InuYasha ergueu levemente os olhos para olhar o irmão, não podia sequer desviar os olhos dele, pois se não, estes cairiam sobre o corpo da miko.
- A hahaue deste Sesshoumaru também deve ter a resposta sobre isso.
Kagome limpou a garganta, chamando a atenção do youkai e ela acabou por desviar os olhos dele.
- Será que eu poderia não estar presente quando você for falar com ela?
- Porque, miko?
Kagome mordeu o canto do lábio e olhou constrangida para o youkai.
- Pois eu me encontrei com ela uma vez e digamos que não foi algo muito agradável.
Sesshoumaru acenou em concordância.
- Sim, um encontro com a hahaue deste Sesshoumaru nunca é um evento agradável, mas a miko terá de estar presente quando este Sesshoumaru for encontrar com sua hahaue.
Kagome murchou na hora.
- Tenho mesmo?
- Sim.
- Tsc.
- Bom, vejo que você já está bem, então eu vou indo.
Kagome suspirou.
- Inu?
O hanyou parou em meio a um passo.
- Sim?
- Obrigada, por tudo.
InuYasha levantou a cabeça e olhou para o céu do lado de fora da cabana.
- Quem deveria agradecer sou eu Kagome, você sempre fez o que pode por mim, o mínimo que eu poderia fazer era fazer o mesmo por você.
Kagome sorriu e viu o amigo se afastar, apesar de toda a dor que InuYasha lhe causara, ela ainda sentia um carinho especial por ele, ela o via da mesma forma em que via Souta, como um irmão.
- Assim que a miko se recuperar iremos partir para o Oeste.
Kagome piscou atordoada, ele realmente iria ignorar o fato de ela não querer ir para o Oeste.

Insano PesadeloOnde histórias criam vida. Descubra agora