Kagome sentia sua cabeça rodar, suas costas estavam repousadas em uma superfície lisa e gelada, seus pulsos e tornozelos estavam presos por algemas de couro e a dor lhe atravessava o corpo. Lá estava ela novamente em uma cela só que desta vez a cela tinha uma abertura no teto que lhe dava uma visão do céu, a chuva havia parado ou não chegara até ali.
Os intervalos entre as contrações estavam cada vez menores e a jovem mãe sentia cada vez maior o impulso de fazer força, mas não podia, não possuía dilatação suficiente, seu corpo se encontrava febril e a única coisa que conseguia mirar era a lua no céu.
- Como está minha paciente número um?
Kagome sentia as lagrimas escorrerem por seus olhos e as dores se intensificarem.
- Porque eu Hebigon?
O hanyou acariciou a face da jovem e sorriu docemente.
- Você sabe o porquê minha jovem, você é a miko mais poderosa desta era.
- Me deixe ir embora, por favor.
- Não posso, depois de você dar à luz a cria que carrega você irá carregar a minha.
Kagome encarava os olhos amarelos e a sua dor se foi quando uma luz se acendeu, a jovem não conseguiu se segurar e caiu na risada.
- Você está louco se acredita que eu irei mesmo lhe dar uma cria sua.
A mão que lhe acariciara agora lhe segurava com força.
- Você não tem o direito de escolha.
Kagome continuava a rir histericamente.
- É claro que eu não tenho, porem você nem ao menos sabe que eu não vou sobreviver a está gestação, você não terá como me fazer passar por uma segunda pois eu não estarei viva!
- Não seja tola.
E pela primeira vez aquele sorriso irritante sairá da face do hanyou e Kagome sentiu-se feliz pela pequena vitória.
- Eu irei morrer assim que este bebê nascer e você não poderá fazer nada para mudar este fato.
- Eu vou.... Eu irei.... Vou pesquisar isso e irei lhe salvar.
Kagome gargalhou alto ao ver a confusão nos olhos amarelos e o pavor em sua face.
- Não há o que fazer e nem tempo viável, eu terei meu filho logo e vou morrer, é melhor você procurar outra pessoa para carregar uma cria sua, isso se a escolhida não decidir morrer depois de descobrir sobre a gravidez.
O hanyou saiu voado da cela/laboratório e a miko suspirou aliviada e seus olhou pousaram na lua.
- Seja rápido Sesshoumaru, meu tempo está se esgotando. – Kagome se retorcia um pouco de vez em quando e choramingava, segurava-se para não gritar por medo que aquele demônio pudesse voltar. – Por favor meu anjo, espere até seu pai chegar, pelo menos até lá.
Lentamente ela foi envolta pela escuridão e a abraçou enquanto caia na inconsciência.
Sesshoumaru corria sem um rumo definido, só sentia seu sangue ferver e a mais absoluta raiva lhe dominar, um forte rugido escapou de sua garganta e ressoou por toda a sua volta, estava furioso demais, preocupado demais, até que algo lhe deteve e ele parou abruptamente, ele teve de fechar os olhos e se acalmar, precisava restabelecer seus sentidos para poder seguir em frente.
Lá estava aquele youkai imponente, no meio do nada, de olhos fechados, punhos cerrados e tentando com afinco se acalmar, quando reabriu seus olhos eles continuavam escarlates, porém gora ele podia pensar e sentir, havia controlado todos os instintos que gritavam para ele revirar aquelas terras do avesso.
Seus olhos fixaram-se em um ponto a sua frente enquanto que sua consciência seguia em todas as direções, expandira seus sentidos ao limite de sua espécie e partira rapidamente, em direção ao sul, mas fora interceptado no meio do caminho.
- O que está acontecendo Sesshoumaru?
O rosnar do youkai sairá alto e ameaçador.
- Não é da sua conta lobo.
- Ouvi algo interessante, algo relacionado a Kagome e uma cria, então é claro que é da minha conta.
Sesshoumaru parou e encarou o lobo, este por sua vez dera um passo para trás, todos seus instintos lhe mandavam correr para o mais longe possível daquele youkai.
- A miko carrega a cria deste Sesshoumaru, Kagome fora sequestrada e está prestes a dar à luz, este Sesshoumaru precisa encontra-la antes que o pior aconteça.
Koga observava a inquietação de Sesshoumaru e não parecia ser apenas de um youkai que estava preocupado com sua cria.
- Vá na frente, irei lhe seguir e ajudar, Kagome é uma amiga preciosa.
Sesshoumaru nem mesmo o ouviu, apenas corria, ele sentia um aperto no peito e sua besta estava descontrolada.
Kagome acordou novamente, mas desta vez estava em uma nova pose, estava meio sentada, meio deitada, em uma posição de 140 gruas, suas pernas sustentadas separadas por pedestais de metal, a sua frente estava o odioso hanyou. A miko não sabia se ficava constrangida, zangada ou qualquer outro sentimento que poderia irradiar de si, mas antes que pudesse se decidir, ela gritou com toda a sua força, sentia-se ser partida ao meio.
- Isso, o projeto 145A já está pronto para sair, você só precisa fazer um pouco mais de força.
- NÃÃÃÃÃÃÃO!
Kagome tentava segurasse, mas a dor era tanta que ela não via outra alternativa senão fazer o que o hanyou mandava, afinal era a vida de seu bebê que estava em jogo, a cada nova onda de dor ela fazia uma força sem igual, não sabia de onde a tirava, porem agradeceria a qualquer santidade por isso.
- Você está sangrando demais, mas já posso ver a cabeça da cobaia. - Lagrimas escorriam pelo rosto da miko, lagrimas de dor e tristeza, de desespero, de revolta. – Só mais um pouco Kagome, só mais um pouco de você consegue.
Kagome gritou com toda a potência que suas cordas vocais lhe permitiam, seu poder se descontrolou e explodiu, jogando tudo a sua volta e causando uma enorme destruição. Hebigon fora jogado contra uma parede enquanto segurança um pequeno corpinho.
Rapidamente o hanyou enrolou o bebê em uma toalha e o deixou de canto, teria de tentar estancar o sangramento da jovem, depois limparia a criança.
Kagome chorava compulsivamente, seu corpo tremia todo.
- Hebigon, deixe-me ver o meu bebê.
- Eu tenho que parar esse sangramento antes...
As grossas lagrimas caiam pelo rosto da miko.
- Não tenho muito tempo Hebigon, deixe pelo menos eu ver meu bebê.
O hanyou bufou e pegou o pequeno pacote e o entregou para a miko, voltando novemente a tentar estancar o sangramento. Kagome mal podia enxergar o pequeno bebê por conta de suas lagrimas, poré pode identificar um tufo de cabelos platinados e olhos azuis iguais aos seus, apesar de algumas raias serem douradas e perolados.
- Já pensou em um nome?
Kagome soltou um pequeno riso sem humor, sentia-se pesada, letárgica, sabia que suas forças estavam chegando ao fim.
- Você dá nome a suas cobaias?
- Nenhuma delas chegou a nascer com vida, então não, mas essa está bem viva e precisa de um nome.
Kagome aconchegou a criança em seu colo e lhe beijou o topo da cabeça, os pequenos olhinhos lhe analisava com muita curiosidade, a espera de ser nomeado e ganhar sua própria identidade.
- Perdoe a okaa-san por não poder acompanhar a sua vida, mas saiba que ela lhe amou desde o primeiro instante que soube que teria você. – Hebigon xingava em todos os idiomas e formas que conhecia, a cada nova tentativa de salvar a miko mais parecia que ela sangrava. – Você será nossa pequena lua, você se chamará...
Sesshoumaru acelerou ao sentir a explosão de energia espiritual e uma nova ligação feita a sua fera, e seguiu em direção ao centro da explosão.
Após alguns minutos um palácio apareceu em sua visão, claramente abandonado, obviamente sem guardas, uma clara armadilha, mas naquele instante nada daquilo importava ao youkai, ele só queria sua fêmea de volta e sua cria, nem que para isso tivesse que enfrentar um mundo inteiro de youkais.
Sesshoumaru mal entrara no terreno e já sentira o cheiro do sangue de Kagome, muito sangue e aquilo despertou sua fera de vez, agora quem controlava o corpo não era Sesshoumaru, este havia perdido totalmente o controle e só Deus poderia ajudar aquele que se metesse em seu caminho.
Uma explosão fizera Hebigon pular de seu lugar e colar suas costas na parede, seu sangue gelara e sua pele já pálida ficara ainda mais branca, ele buscava rotas de fuga, mas nada encontrara até que um youkai tomado pela cólera invadira aquele lugar e o analisara de cima a baixo, suas lábios se repuxaram para cima das presas sobressalentes, seus dedos contrariodos já estavam prontos para transformar aquela cobra em pedacinhos, quando um sussurro chamou sua atenção.
- Sesshoumaru...
E ele viu Kagome meio sentada em uma cama, os fios de seus cabelos grudavam por seu rosto e pescoço por causa das lagrimas e do suor, seus olhos estavam vermelhos e sua feição outrora angelical agora era marcado pela dor e o cansaço, seu sangue formava uma poça abaixo de si e ela segurava algo.
- Onde pensa que vai?
Koga segurava por trás a gola do kimono de Hebigon, que tentava escapar de fininho.
- Fugir?
Koga aproximou seu rosto do hanyou e o encarou.
- Tente novamente.
O hanyou engoliu em seco e olhou para o youkai albino que o observava por cima do ombro e estremeceu.
Sesshoumaru voltou a encarar a miko.
- Miko?
Kagome suspirou e encarou os olhos dourados, apesar de não conseguir enxergar muito bem, sua visão entrava e saia de foco, assim como os pontos negros que pareciam tomar conta de seus olhos.
- Eu não tenho muito tempo.... Sesshoumaru....
Sesshoumaru tirou o pequeno embrulho dos braços da miko e o deitou em uma mesa, que milagrosamente se encontrava inteira e voltou-se novamente para Kagome.
- Não diga bobagens miko.
Kagome sorriu meiga, sentia seus sentidos lhe abandonando e corpo leve, queria fechar os olhos e descançar.
- Não dizendo bobagens.... Digo a verdade.... Não consigo mais me manter alerta....
Sesshoumaru a fez se sentar a puxando pela nuca e expos a pele do ombro da jovem.
- Este Sesshoumaru jura que a miko irá sobreviver e me dizer o nome de nossa cria.
Kagome sorriu enquanto era levada pela escuridão, seu corpo já estava pesado demais, dormente demais, já era tudo demais para ela aguentar, então simplesmente se deixou levar.
Sesshoumaru rosnou quando a sentiu ficar mole em suas mãos e sem perder mais um único segundo e ainda em sua forma quase transformada cravou suas presas na curva do pescoço da jovem, descarregando seu youki com rapidez.
Hebigon ainda tentava escapar quando viu pela primeira vez a marcação de uma fêmea na integra, era raro youkai marcarem suas pareceiras, mais raro ainda quando eles se deixavam marcar, claro que o ultimo não era o caso do youkai à sua frente. Ele observou como Sesshoumaru deitou a jovem na maca e estremeceu ao vê-lo se virar em sua direção, seus olhos rubros não possuíam um único traço de misericórdia ou simpatia.
- Agora.... Meu assunto é com você.... hanyou.
Koga jogou o hanyou para mais perto de Sesshoumaru e com sua velocidade pegou Kagome e a cria no colo, pronto para partir.
Hebigon tremia por cima de suas pernas.
- Meu lorde, por favor, tenha misericórdia.
Sesshoumaru ainda não havia se movido, quase não prestava atenção no hanyou, ele acompanhava com os olhos o youkai lobo sair de lá com sua fêmea e sua cria recém-nascida.
- Este Sesshoumaru não possui misericórdia com quem atravessa seu caminho, imagina com alguém que sequestra sua fêmea prenha.
- Me entenda, meu lorde, eu só.... Só estava.... hmn.... Querendo saber.... Saber como seria uma cria sua com aquela miko.... Ambos são poderosos demais e.... e.... e com certeza a cria seria diferente.
Sesshoumaru sorriu com malicia e se aproximou do hanyou.
- Oras Hebigon, este Sesshoumaru entende.... – O hanyou ergueu os olhos do chão com os olhos brilhando com esperaça. – Mas este Sesshoumaru também espera que você entenda que este Sesshoumaru não pode ser feito de trouxa e que também possui muitas curiosidades, sendo uma delas, a de saber como um hanyou dragão é por dentro.
A esperança se foi e o pavor lhe dominou, sabia que ao capturar Sesshoumaru estaria mexendo em um vespeiro, porem imaginou que se safaria como fizera com dezenas de outros youkais no decorrer dos séculos, porem desta vez ele escolhera sua vítima errado, guiado por seu orgulho e ambição e agora pagaria um preço a altura.
Kagome no começou sentia-se flutuar, mas logo a boa sensação passou e sentiu-se ser queimada por dentro, quebrada e reconstruída, sentia cada fibra de seu ser mudar, sentia que agulhas imaginarias lhe penetravam a pele apenas com o intuito de lhe causar dor. Ela se contorcia e retorcia, mas não soltava uma única exclamação de dor, se recusava a dar este gostinho a quem quer que fosse que lhe torturava, jamais permitiria isso.
Kaede olhava preocupada para a menina deitada, ela estava frágil demais, pálida demais, em seus braços ela observava um pequeno rostinho adormecido em uma calma serena e ao seu lado havia um youkai logo e um hanyou inu agitados.
- Vocês querem fazer o favor de se acalmarem, irá acordar novamente a criança.
Koga bufou e voltou a encarar a miko, ignorando a velha sacerdotisa propositalmente.
- Keh, fácil falar, baba, não consigo me manter calmo quando sei que ela está sentindo tanta dor.
Koga levantou de supetão, assustando os dois.
- Eu preciso ir, Ayame precisa de mim, me avisem se algo acontecer com a Kagome.
E antes que qualquer um dos dois pudesse responder o lobo havia sumido.
- Keh, aparece do nada e some do nada, poderia ao menos dizer onde está o imprestável do Sesshoumaru, que não está aqui para nem ao menos cuidar da própria prole.
InuYasha sentiu um frio descer por sua espinha e ao olhar para trás ficou mais branco que cera, ali na porta da cabana estava um Inu Day-Youkai coberto de sangue, olhos vermelhos, presas sobrepostas aos lábios, porem em controle total de suas emoções.
- Como está a miko?
Kaede suspirou e se virou para ficar em frente ao albino coberto de sangue.
- Sentindo muita dor, mas ainda viva, a hemorragia estancou, agora temos de esperar ela se recuperar.
- E a cria?
Kaede olhou para o pequeno pacotinho em seus braços.
- Dormindo igual a um anjo.
Sesshoumaru estendeu os braços.
- Entregue a cria a este Sesshoumaru.
Kaede bufou e apertou o pequeno em seus braços.
- Vá se banhar primeiro Sesshoumaru, você está coberto de sangue.
Os braços entendidos do youkai voltaram para as laterais do corpo e seus olhos brilharam com a irá.
- Entregue miko.
Kaede bufou irritada e nem um pouco amedrontada, para a surpresa do youkai.
- Lhe entregarei assim que voltar limpo, você não tocara nesta criança enquanto estiver coberto de sangue e entranhas.
InuYasha estava em um canto da cabana, queria desaparecer, afinal, desde que seu meio irmão descobriu ser pai, que ele o amedrontava mais que o usual. E para a surpresa geral o youkai deu meia volta e sumiu em meio as arvores. Kaede respirou aliviada e InuYasha pode se aproximar da mais velha.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Insano Pesadelo
RomanceAfinal, sempre quando estava na era feudal alguma coisa de ruim lhe acontecia. Parecia que aquele era seu destino afinal, sentir-se deslocada no tempo e atrair problemas para si. Agora o que faria? Estava presa em algum lugar para ser cobaia de um...