Camila POV
Todos ao redor da mesa conversavam.
Dinah se manteve em silêncio, fazendo questão de aparentar todo o seu tédio, atraindo olhares de advertência de mama e papa, como sempre. Bea conversava com Lauren. Shawn Jauregui Mendes, irmão mais novo de Lauren e S/N, era o típico homem que completava um grupo, cheio de piadas obscenas sem nenhum filtro ou timidez. S/N às vezes respondia quando meus pais, ou sua irmã falavam com ela, mas na maioria das vezes ela decidiu dedicar seu tempo a me encarar. Eu estava tão desconfortável quanto possível, e ela não parava.
Olhei mais uma vez ao redor e não consegui me encaixar em nenhuma roda de conversa. Já estava ficando cansada daquele meio onde a maioria das pessoas nunca eram verdadeiras, pensando assim, peguei uma taça do champanhe que o garçom oferecia e me dirigi para o jardim onde encontraria um pouco de paz.
Papa e mama com certeza ficaram insatisfeitos com minha atitude impensada.
O jardim bem cuidado se estendia até a areia branca da praia, onde as ondas quebravam mansamente.
— Pelo menos coloque um dólar no chapéu. – Falei, olhando para a figura espetacularmente bela à poucos centímetros de mim quando me virei pra encará-la.
— Um dólar no chapéu? – Questionou com aqueles castanhos olhos enigmáticos e intensos cravados em mim. Meu coração gaguejou de novo. Puta mierda! Senti-me uma corsa atordoada diante de faróis, não consegui piscar, nem respirar. Havia algo naquele olhar que me fazia estremecer e meu estômago realizar pequenas acrobacias.
— Se vai ficar me encarando, pelo menos me dá o dólar que deixaria no chapéu de qualquer outro palhaço de circo. – S/N sorriu com aqueles lábios levemente cheios de curvas absurdamente sensuais.
— Está cada vez mais com a linguinha afiada, esposa. – Ela se aproximou mais, deixando-me sentir seu maravilhoso perfume, uma mistura cítrica amadeirada, enquanto me observava com os olhos semicerrados e postura sultão de eu sou a maioral.
— Quando decidir terminar com esse jogo, talvez, possamos jogar Ludo, ou Monopólio, e, quem sabe, Batalha Naval? – Comuniquei irônica. – Imaginando que você já tenha atingido o nível de maturidade, é claro.
— Ótimo. – Ela retruca, no mesmo tom de voz. – Jogos de tabuleiro não exigem perna não operacional. – Sinto uma pontada de pena. Sei que o danoso acontecimento de quatro anos atrás a deixou manca de uma perna. Talvez, eu esteja sendo dura demais com ela, mas S/N vem sendo dura comigo, desde que a corte anunciou nosso casamento, e antes mesmo que eu perceba, minha mão já está sobre o ombro dela. Eu esperava que S/N tirasse meu braço com um xingamento, ou até mesmo que me empurrasse. Contudo, em vez disso, ela me encara, deixando que eu veja direito a forma como seus olhos não revelam nada e aquilo parte meu coração. É quase como se pudesse vê-la bloqueando seu lado humano.
Meu coração acelerado exige que eu dê um passo para trás, mas me mantenho imóvel. Nervosa, umedeço os lábios e noto a maneira como seus olhos seguem o movimento da minha língua. Finalmente aceito que, apesar do medo e contra todas as probabilidades, essa mulher me atrai, e muito. De um jeito forte e animalesco como nunca senti antes.
Mas parece que não sou a única que pode surpreender, porque, em vez de me afastar de si, seus dedos enlaçam meu pulso sem força o bastante para machucar. Sem aviso, S/N passa a língua na ponta dos meus dedos, e eu, sobressaltada, tento recuperar minha mão de volta desse contato levemente erótico.
Ela está brincando comigo.
S/N agarra meu pulso antes de me puxar com força para si e me beijar.
Esse beijo não tem nada a ver com desejo e muito menos com romance.
Esse beijo envolve domínio. S/N está tentando me assustar.
A raiva emana de mim e eu cravo os dentes em seu lábio inferior. Não para tirar sangue, mas com força o suficiente para deixar claro que eu quero que ela pare com isso.
Mas, em vez de me soltar, ela grunhe e se aproxima mais de mim, prendendo-me com eficácia sobre seu próprio corpo, enquanto enfia a língua na minha boca.
Dios mio.
Aperto os dedos sobre seus ombros, não para afastá-la. É como se uma parte selvagem e sombria de mim tivesse sido libertada ao sentir o gosto dela e a sensação de seus músculos rígidos me segurando foi demais. Em vez de recuar e dar um tapa nela, faço o impensável: retribuo o beijo. Um beijo faminto sobre a batalha sedenta de nossas línguas para obter o controle.
E eu não quero que pare.
Mas foi a leve vibração do celular de S/N, que fez com que nos sobressaltarmos e nos afastarmos, olhando de forma confusa uma para a outra.
— Vá embora, Camila. – Ela me olhou com tanta intensidade que quase tirou meu ar.
Não pude evitar uma risada.
— Se eu corresse de qualquer beijo morno de criança, nunca teria terminado a escola, Majestade. – Adoto um escárnio olhar, para logo depois me afastar da sua carranca enraivecida, confiante de que ganhei aquela batalha, mas a um custo muito, muito alto. Porque estou morrendo de tesão por essa mulher que acabei de casar-se.
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CROWN ( Camila/You G!P )
Fanfiction- Que saco! Eu não sou mais criança! - Usei o mesmo tom de voz que ela. - Ah, não? Não foi o que me pareceu, mas escute aqui, Princesa. - Praticamente ela cuspiu as palavras, cheias de desprezo. - Irá morar no meu palácio, cumprirá com suas obrigaçõ...