Capítulo 16

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S/N POV

Estávamos há mais de duas horas aguardando numa sala privada. Eu alternei entre momentos de choro cruciante e de quietude absoluta. Sentada no chão, encostada na parede, fitando um ponto fixo na parede branca à minha frente, minha vida passava na minha frente como um maldito filme em preto e branco. Imagens de Camila. Tudo que eu fiz. Tudo que eu disse. Como trovões melódicos e suas estrondosas melodias tempestuosa, com raios luzidios que riscam todo um céu, um seguido do outro, e seus pingos grossos e cortantes, que em poucos segundos já haviam alagado minha face. Um céu nublado, um arco-íris preto e branco e um sol sem cor. Assim se resumia meu mundo se eu a perder...

Há uma hora, um dos médicos, que estava operando-a, veio até nós. O quadro dela é muito grave. Teve uma forte pancada na cabeça. E estão tentando drenar o sangue do cérebro. Quebrou três costelas e o pulso esquerdo. Mais lágrimas desceram pela minha face. Eu não emitia mais nenhum som, apenas as lágrimas silenciosas. Lágrimas por tudo que eu poderia estar perdendo agora, enquanto Camila lutava lá dentro entre a vida e a morte. Lágrimas, porque fui covarde demais e nunca a deixei saber o quanto a amo. Engasguei com mais lágrimas. Lauren sentou-se ao meu lado e me envolveu em seus braços, bem apertado.

— Eu entendo que tem sido difícil para você, S/N. Que a vida tomou todos que eram importantes pra você. Tirou de você todas as coisas boas e que te enchiam de felicidade. Sei que aí dentro de si carrega cicatrizes, angústias e lembranças das quais não gostaria de ter. As mesmas que ao longo do tempo a fizeram se degastar aos poucos. Sei também que ela é forte e mesmo que tudo seja difícil, perdido, ela consegue se levantar, consegue erguer a cabeça. Porque o que essa garota aprendeu ao longo de tudo foi que, embora seja doloroso, precisamos passar por maus bocados e amadurecer com isso. – Beijou minha cabeça, como se eu fosse uma criança que tinha feito travessura. – Não se deixe perder a esperança, S/N. Camila é forte. Ela é muito mais do que aparenta ser. Do que você imagina. Ela não vai entregar os pontos assim de cara. Ela vai viver. Não perca a esperança. – Eu apenas assenti, me sentia fraca e impotente demais até para falar.

Camila saiu da sala de cirurgia quase seis horas depois. Eu estava a ponto de invadir a sala e exigir que eles me dissessem por que estavam demorando tanto para me levar até ela. Contudo, quando o cirurgião chefe veio até mim e me levou até o quarto dela, eu entendi a dimensão de tudo.

Deus! Não! – Sufoquei um soluço, ao me aproximar da cama. Seu perfeito rosto estava completamente cheio de hematomas. Oh, Deus! Eles haviam raspado todo o seu lindo cabelo. Seus olhos estavam meio abertos. Queria tanto tocá-la, mas eu não tinha ideia do que fazer. Enterrei as mãos nos meus cabelos, sentindo-me sufocar com a visão do seu corpo brutalmente machucado. – Ela está...

Em coma, Majestade. – O médico informou com voz cautelosa. – Seus olhos parecem abertos por causa do inchaço no cérebro. Ela chegou aqui já inconsciente. Precisamos esperar pelos próximos dois dias. Se reagir, poderemos deixar que respire sem aparelhos. Mas agora ela precisará deles, pois teve duas paradas cardíacas na sala de cirurgia. – Respondeu as últimas palavras em um tom fraco, enquanto me direcionava um olhar penoso.

E se ela não reagir? – Perguntei respirando fundo, tentando, sem sucesso, controlar o tremor do meu corpo e as lágrimas que caiam, embaçando minhas vistas. Estava completamente desesperada com a possibilidade de perdê-la.

— As características clínicas e a evolução dos pacientes são variáveis, Majestade. A verdade é que não se tem certeza de muita coisa. Só o tempo responderá. Eu já vi pacientes considerados casos praticamente perdidos, pela gravidade das lesões, saírem daqui melhores do que alguns considerados pacientes com um bom prognóstico.

CROWN ( Camila/You G!P )Onde histórias criam vida. Descubra agora