Pardon

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Detroit, Michigan.

POINT OF VIEW JULIETA SMITH

Remexi meu cereal, vendo todos em completo silêncio durando o café da manhã. Olhei Henry rapidamente, notando olheiras fundas e a ressaca estampada em sua cara, me fazendo rir. A atenção de todos foi para mim e deixei meus lábios em linha reta.

— Precisa de carona? – Henry perguntou e assenti.

— Vou passar no banco e fazer minha conta, espero que não aconteça um roubo de novo. – Minha mãe engasgou com o suco.

— Roubo? – Assenti. — Você estava no dia?

— Sim, fui pagar suas contas e ver sobre a indenização, quando chegaram armados e matando algumas pessoas. Por sorte saí viva.

— E fala isso com essa naturalidade? – Arqueou a sobrancelha.

— Foi triste, Lucy. E eu só tenho a agradecer por estar viva. – Limpei meus lábios, levantando da cadeira. — Eu vi coisas quando estavam na cadeia, mulheres sendo estupradas e mortas na minha frente, da pior maneira possível. E tudo que eu pude fazer é dar assistência, mas se pudesse, mataria todos que fizeram aquilo.

— Você não é uma assassina.

— Tem razão. Eu não sou. – Dei de ombros. — Mas naquele momento eu poderia ser.

— Julieta! – Levantei as mãos em rendição.

— É a realidade, Lucy. Se estivesse na minha situação teria dito o mesmo. – Desviou o olhar. — Foi naquele momento em que percebi que podia salvar vidas, eu ajudei pessoas o máximo que pude com o pouco que eu sabia. Mas me dói saber que teve de ser daquela maneira que notei isso.

— Sinto muito que teve que passar por isso, querida. – Scott disse e sorri de canto.

— Agora... Se me derem licença, tenho um serviço para arrumar e quero ver se consigo comprar um carro, é horrível ficar pedindo seu carro ou o de Henry. – Bufei e peguei meus documentos em uma pasta, colocando minha bolsa no ombro após escovar meus dentes. Entrei no automóvel de meu irmão, pondo o cinto.

— Está tenso lá dentro.

— Ela sempre foi assim? – Perguntei para ele.

— No primeiro ano de casamento ela falava sempre de você, o tempo todo, depois não tanto e ficava chorando ás vezes. Então, digamos que talvez, ela não aceite que a Julieta dela não existe mais. – Explicou.

— Ah, existe, eu acho. Mas não como antes. – Concordou.

Henry me deixou no centro da cidade e voltou para sua escola, me prometendo que não faltaria desta vez. Andei algumas quadras, antes de achar uma lanchonete e entrar, ouvindo o som de um sino. Não estava muito cheio.

— Olá, em que posso ajudar?

— Um cappuccino, por favor. – Assentiu sorrindo e em poucos minutos me entregou. — Poderia me dizer quem é o gerente?

— Vou chama-lo. – Agradeci e uma mulher entrou, sorridente junto da que me atendeu. — Essa mulher gostaria de falar com a senhora.

— Tudo bem, Kim. Obrigada. – Disse e tomei um gole da bebida, aquecendo-me por dentro.

A cidade não estava ensolarada como nos dias anteriores, mas o tempo estava nublado e a brisa era gélida, de fazer muitos trocarem suas regatas por moletons quentes. As pontas dos meus dedos estavam geladas, mas aos poucos a bebida me aquecia e agradeci mentalmente por isso.

Abstinence | CONCLUÍDAOnde histórias criam vida. Descubra agora