Capítulo 38

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Eduarda


Tudo parecia certo, tudo parecia no lugar e tudo parecia se encaixar. Sentada no meu escritório depois de ter um dia – como descerve-lo? – quente, tudo fazia sentido.

Depois de ter passado o dia todo com ela, eu fui pra casa. Nos iríamos devagar e era o que queríamos. Aproveitar o máximo, sem atropelar nada.

- Espero que esse sorri seja por minha causa! – Talita me assustou ao entrar na minha sala. – Desculpa eu não queria te assustar é que eu bati duas vezes mais você não atendeu.

- Foi mal, eu não ouvi. Estava meio longe – dei um sorriso de canto.

- O motivo parece ser bom. Você estava completamente alienada.

- O motivo é ótimo – Me levantei e enlaçei seu pescoço – Você é sempre um bom motivo.

Ela sorriu sem graça, parecia com vergonha.

- Você está com vergonha? – perguntei incrédula.

- Ah, para com isso... – ela me deu um selinho.

Meu celular tocou e o dela também.

- Vixi boa coisa não deve ser. – ela comentou com o aparelho na mão.

- E não é mesmo.

Os patrões estavam nos aguardando.

- Não importa o que eles digam, Eduarda. Faz apenas o que seu coração mandar, ok?

- Certo.

Respirei fundo e nos fomos até a sala de reuniões.

- Oi Júlia, eles estão nos aguardando. – Talita informou.

- Podem entrar.

Ela foi primeiro, parecia querer me proteger.

Linda!

Entrei e me deparei com mais duas pessoas além do Fabiano e o Ricardo. Lá também estava a Flávia e a Isadora.

O que estava acontecendo aqui?

- Obrigada, por virem. – Fabiano começou – Como podem ver, estão todos os envolvidos presente e queremos esclarecer tudo da melhor maneira possível.

- Sentem-se por favor! – esse foi o Ricardo.

Eu me sentei na cadeira ao lado da Talita, mais fiquei entre ela e a Flávia.

- Todos nos sabemos que a vida pessoal não pode e nem deve interferir no profissional, mas já que chegamos a esse ponto queremos resolver da melhor forma possível. Para que ninguém aqui saia dessa sala se sentindo lesado. – Fabiano falou muito seriamente – Nos não queremos perder nenhuma de vocês, que isso fique bem claro. Vocês três são profissionais incríveis, com números de dar inveja e queremos manter todas no nosso quadro.

- E vocês chegaram em alguma solução? – Talita perguntou.

- Talita, a única maneira de resolver seria uma possível transferência para uma de vocês. – Ricardo tentou argumentar – Não existe a possibilidade de manter vocês três na mesma filial. Fizemos o possível e o impossível, para tentar agradar a todas, mas não tem como.

- Bom então pra mim essa reunião acabou... – ela se levantou – vou pegar as minhas coisas e deixo minha carta de demissão ao me retirar.

- Prepotente! – Isadora cuspiu.

- Prepotente? – Talita se voltou para ela com uma sobrancelha erguida – Eu sou profissional, querida. Não uso papai e nem mesmo minha namorada – ela se dirigiu a Flávia -  para tirar vantagem de nada.

- Você se acha muito superior, não é mesmo? Só que você não passa de uma vadiazinha...

- Opa, vamos guardar as ofensas para outra ocasião? – Fabiano interviu – nos não viemos aqui para trocar elogios. – Ele se virou para Isadora – Você pediu para participar dizendo que iria se comportar, então por favor...

- Senta! – peguei em sua mão e a puxei para baixo.

Ela se sentou e respirou fundo, tomando o que parecia ser um gole de calma.

- Olha só, não queremos que vocês entrem em conflito, não existe necessidade disso.

- Olha pai, eu sei que vocês estão tentando resolver tudo da melhor maneira possível, mas não existe outra forma de fazer isso – Isadora tomou a frente do que deveria ser uma reunião de solução – Elas humilharam de forma categórica a Flávia e isso eu não vou perdoar. E sim eu vou usar o poder que tenho – ela olhou para Fabiano – para defender minha amiga. Então cheguem em um acordo logo, eu não quero nenhuma das duas aqui.

- Você não tem o poder de tomar decisões sozinha, Isadora. Lembre-se de que tenho 50% de tudo isso aqui. Se o meu amigo aqui foi estúpido a ponto de deixar você no poder, eu não sou. Então nós vamos continuar com o que foi combinado desde o início.

Ele olhou para nós, a Talita já tinha perdido a paciência. Dava para notar pela forma com a qual ela balançava a perna sem parar.

- Talita eu sei que você acha que uma transferência é pior que o desligamento, mas nós não queremos chegar nesses fins.

- Olha Fabiano, sei que você quer agir com sensatez. Mas tudo aqui se tornou insano, quando a filha de um de vocês está decidindo quem fica e quem sai. Minha vida pessoal não diz respeito a ela, só e somente só a mim e minha namorada. Vocês deveriam se preocupar se o nosso namoro influenciaria negativamente nos nossos números. Caso contrário isso não deveria ser pauta de reunião e por isso que eu me demitir sim. Minha vida pessoal não é motivo de reunião e muito menos capricho de uma garota mimada.

- Talita sejamos adultos...

- Eu acho que o que está faltando aqui é exatamente isso – eu interferir – sermos adultos. Nos transferir vai resolver o problema? – eu não deixei ninguém responder – Vamos dizer que sim... Mais e você Flávia? Vai se sentir melhor com isso? Nos tirar daqui vai me separar da Talita? Vai me leva de volta pra você? Vai resolver sua vida? – eu não deixei ela responder – Eu acho que não, já que você não abriu a boca um momento se quer. A única que eu vejo falar aqui é a Isadora, como se ela fosse a traída aqui. Como se a ofensa fosse dela, agora me diz você. O que você quer?

Eu tremia de raiva, nada fazia mais sentido pra mim. Tudo o que estava acontecendo ali era muito surreal. Todos nós ficamos a encara-la esperando por sua resposta.

- O que você quer? – Fabiano reforçou a minha pergunta.

Ela respirou fundo como se avaliasse a pergunta.

- Eu não quero nada para dizer a verdade. Eu pedi para a Isadora recuar, mas ela me disse que não dava mais – Isadora a fuzilou com os olhos – nada disso faz sentido. – Ela me olhou – me desculpa, por um momento eu achei que você voltaria para mim, mais agora eu percebo que é ela, sempre foi a Talita. – ela abaixou a cabeça e deixou uma lágrima escapar.

Agachei na sua frente e por um segundo eu encarei a Talita para ver sua aceitação. Ela fez um pequeno gesto me encorajando a continuar.

- Olha para mim! – eu pedi – Eu sei que o que eu fiz não é digno. Sim, eu devia ter sido mais sincera com você, mas como eu ia fazer isso se eu não conseguia ser sincera comigo mesma? Eu não quis te trair e não quis fazer pouco caso dos seus sentimentos. Longe de mim... Eu não sou melhor que ninguém, não sou melhor que você e sinto muito se não agi da maneira correta com você – eu respirei fundo e a encarei – Eu sinto muito de verdade.

Ela deixou as lágrimas caírem descontroladamente, me cortando o coração.

- Eu sinto muito por tudo isso  - ela olhou em volta – eu não sabia mais o que fazer.

- Eu sei... – acaricei seu rosto – eu espero de verdade que você possa ser feliz, você merece.

- Obrigada! – ela limpou o rosto e eu me levantei.

- Agora que tudo parece acertado, podemos voltar ao trabalho? – Ricardo perguntou com ar de brincadeira.

- Não! – eu me virei pra ele – Eu me demito!

E lá estava o choque no rosto de todos que ali estavam, até a Talita pareceu não acreditar no que havia escutado.

- Duda você não precisa fazer isso. – eu olhei para Talita.

- Eu sei, Tali... Mais eu preciso. – ela pegou na minha mão dando forças para continuar.

- E por que esse atitude descabida? – Ricardo bufou – nos não acabamos de chegar em um acordo?

- Vocês podem ter chegado a um acordo, mais eu não vou aceitar receber ordens da sua filha Ricardo. De uma pessoa que não entende de engenharia e muito menos de gestão de pessoas. Que coloca o pessoal a frente de qualquer coisa. Ela não será imparcial e podemos notar que você não apita mais nada aqui, não é mesmo?! – ele me olhou espantado – já que a empresa não mantém mais os padrões pelos qual um dia eu me encantei, eu me demito. Não tem mais nada aqui pra mim.

- Eduarda, podemos resolver tudo isso de maneira calma e pensada. Não tome nenhuma decisão impensada. – Fabiano se pronunciou com calma e cautela.

Eu olhei para Talita que ainda segurava minha mão, sentindo a segurança necessária e me vendo realizada ao lado dela. Jamais me perdoaria se eu não tentasse.

- Eu mantenho minha decisão, Fabiano. Obrigada por tudo que vocês fizeram. Mas minha jornada nesta empresa acaba aqui. – Declarei com firmeza.

- Sendo assim, esperamos sua carta de desligamento. – Isadora entrou na conversa.

Em momento algum ela tentou argumentar para me manter junto a equipe.

- Não é assim que vamos resolver as coisas Isadora, a Eduarda é peça fundamental para essa equipe.

- Não se dê ao trabalho de tentar fazê-la entender, Fabiano. Ela nunca vai saber o que é tudo isso de verdade. E não se preocupa, estou em paz com a minha decisão. – Me virei para ela – Minha carta estará na sua mesa Fabiano, no fim do dia de hoje.



Senti o ar tomar meus pulmões assim que me retirei daquela sala. Não sei por quanto tempo prendi a respiração, eu estava nervosa demais.

Deixei que meu corpo caísse na cadeira da minha sala, olhei em volta ainda aturdida com tudo que acabará de acontecer.

Eu realmente havia me demitido, eu não sei em qual momento decidi aceitar a proposta da Talita. 

Acho que já tinha dito sim antes mesmo dela acabar de propor qualquer coisa.

- Tem um minuto? – levantei a cabeça e vi a Flávia não minha porta.

- Entra Flávia, pode se sentar.

Ela caminhou devagar até a cadeira a minha frente, deixando o clima ainda mais pesado. Não havia nada que ela me disse agora que mudaria o que eu estou sentindo.

- Eu fui uma completa idiota e não há nada que eu diga que vá mudar alguma coisa. Mais eu quero que saiba que eu sinto muito e que se você estiver saindo daqui por minha causa, eu gostaria que reconsiderasse. Você ama esse trabalho e não há razão para deixá-lo.

- Agora eu não vou mais voltar atrás na minha decisão Flávia. Eu perdi um sentimento primordial, respeito. Deixei de acreditar no que essa empresa prega, apartir do momento que a filha de um dos donos é quem dá as cartas e de forma pessoal. Não existe imparcialidade vindo dela. – eu me ajeitei na cadeira – e outra talvez esse seja o empurrão que eu precisava pra montar meu próprio negócio. Já estava em tempo.

- Você deveria pensar melhor, não decidir nada de cabeça quente.

- Não foi nenhuma decisão impensada, eu já planejava tudo isso, só que a longo prazo. A única diferença é que agora vou ter que acelerar o processo.

- Hum... Entendi. – ela mexeu as mãos impaciente – Você e a Talita estão realmente juntas? – ela baixou os olhos, não conseguindo me encarar.

- Sim, estamos! – tirei sua dúvida.

- Eu realmente espero que finalmente consiga ser feliz com ela, já passou da hora de vocês darem um final para essa linda história.

- E terá um final. E será feliz! – eu sirri com a possibilidade de enfim estar com a Talita.

- Eu desejo que sim. Pois assim vocês param de magoar as pessoas no processo. – senti o tapa na cara. – eu não estou te cobrando nada como já disse antes, só que vocês duas realmente precisam dar um fim para essa história, para que se não der certo entre vocês... – ela deixou uma lágrima cair – aí, enfim você possa se entregar por completo.

- Não existe palavras que eu possam expressar o quanto eu sinto muito pelo que te fiz passar. Não há nada que eu faça que vá mudar a idiota que eu fui... – ela me interrompeu.

- Existe sim... – ela limpou suas lágrimas – seja feliz, viva enfim sua história com ela e viva intensamente cada segundo com ela. Pra que não se arrependa depois.

- Eu farei isso! – me levantei e fui na sua direção – obrigada! – eu abracei e me despedi com carinho. – Eu desejo do fundo do meu coração, que você encontre a mulher da sua vida. Que ela seja melhor do que eu e que te faça muito, muito feliz. Por que você, mais do que eu merece.

- Valeu! – ela se dirigiu até a porta e antes de sair me deu um último sorriso, deixando meu coração mais tranquilo.

Enchendo-o de paz, pois ali eu tive certeza que ela faria de tudo para ser feliz.



Talita


Avalanche de discussão e nenhuma solução. A Eduarda chegou ao extremo, um lugar que ninguém imaginou que ela chegaria, nem mesmo eu. Quando ela explodiu e suas razões e me fez entender que minha proposta estava sendo aceita por ela, meu coração inflou.

Senti uma alegria que a muito não sentia. Ela era minha melhor parte, minha alegria e meu desejo de ser melhor. Não havia nada que eu pudesse dizer a não ser apoia-la. Trazer para ela a segurança que precisava e isso eu sabia fazer bem.

Sua saída de forma tempestuosa fez com que todos se calassem, não deixando a menor dúvida que eles haviam acabado de perder uma de suas melhores arquitetas.– se não fosse a melhor – Com q cara mais deslavada do mundo Isadora resolveu se pronunciar.

- Já foi tarde!

- Cala boca! Você não sabe o que está falando Isadora – Ricardo muito nervoso esbravejou.

- Como não?! Acabei de resolver um enorme problema.

Será que essa garota vive em um mundo paralelo? Parecia completamente fora de realidade.

- Você é muito juvenil, Isadora – Fabiano disse passivamente – e você Talita tem mais alguma coisa que queira nos dizer? – ele se concentrou em mim.

- Me demito! – disse simplesmente.

- Vocês não vê? Elas já estavam planejando isso, estão agindo de caso pensado. – Isadora abriu a boca para mais uma de suas bobagens.

- PARA! – Flávia gritou – Você não percebe que já deu. Não há nada que diga ou faça, não irá mudar o que houve. Então chega Isadora! Deixa os adultos fazer o trabalho deles. – ela se levantou e saiu.

Deixando a nossa “amiga” sem palavras.

- Você mantém sua decisão, Talita? – Ricardo perguntou desanimado – não há nada que possamos fazer para que as convença de ficar?

- Acho que não há mais nada a ser feito, Ricardo. Simplesmente não dá mais, ultrapassamos a barreira que separa nossa vida pessoal da profissional. Sem contar que acabou o respeito. – apontei para a mulher sentada no canto.

Que estava cabisbaixa com a atitude da sua amiga.

- Vou ver o que ainda tenho de pendência e entregarei minha carta até o fim do dia.

- Tudo bem! – Fabiano aceitou com certa relutância – Se vocês mudarem de idéia, nos procurem.

- Claro! – eu saí os deixando a sós. Mais antes pude ouvir um Fabiano nervoso.

- Você viu o que aprontou? Eu espero que elas não tenham a brilhante idéia de abrir uma firma de engenharia, senão estamos ferrados.

O que ele queria dizer com ferrados?


Trabalhei um pouco tentando por a cabeça em ordem, antes de conversar com a Eduarda. Eu sentia que ela estava sensível com tudo que estava acontecendo e não queria me tornar mais um peso para ela neste momento.

- Toc Toc, posso entrar? – lá estava ela.

- Sempre! – me levantei e caminhei ao seu encontro.

- Achei que você ia na minha sala... – me deu um selinho.

- Achei que você precisava de espaço. – me justifiquei.

- E precisava mesmo, obrigada! – ela sentou na cadeira a minha frente e eu segui para minha – minha cabeça estava um turbilhão, eu necessitava colocar minha ideias em ordem.

- E conseguiu? – perguntei com um pouco de cautela.

- Um pouco. Tudo parece novo, mais acho que só vou sentir a diferença amanhã, quando acordar e não vier trabalhar.

- Eu nem imagino como vai ser meu dia amanhã, não estou acostumada ficar em casa sem ter o que fazer. Sempre estou trabalhando.

Ela riu.

- Eu também. – pensou um pouco – a proposta de abrir um negócio comigo ainda está de pé?

- Sim! – fui direta.

Ela respirou aliviada, e me deixou feliz por saber que ela realmente queria estar comigo, alçando altos vôos.

- Então acho que teremos muito trabalho, amanhã talvez seja uma boa ideia descansarmos.

- Esta pensando em algo? – perguntei com certa espectativa.

- Talvez! – ela sorriu travessa – Quer passar uns dias fora? Tipo férias?

Eu cocei a nuca fazendo um suspense. Dava para ver como ela estava nervosa.

- Claro! – respondi enfim – para onde pretende me levar?

- Pensei em de repente irmos para Natal, o que acha?

- Caramba. Assim de repente? Será que consigueremos voo tão encima da hora?

- Se você me disse que sim, eu corro atrás do resto.

- Ok! Vamos sim.

- Perfeito! – ela levantou – arruma suas malas bebê, vamos para Natal.

Eu sorri nova com a empolgação dela. Me surpreendeu como ela ainda era impulsiva, como da vez que fomos para Brotas. Ela decidiu e pronto. Foi mexendo seus pauzinhos e já estávamos indo viajar.

Ela é incrível.

Complicações do Amor ( Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora