Correndo Com Os Lobos
''Reme o barco para terrenos mais seguros
Mas você não sabe que nós somos mais fortes agora?
Meu coração ainda bate e minha pele ainda sente
Meus pulmões ainda respiram, minha mente ainda teme''
(2015 - Aurora)
Sete
Entro na sorveteria enquanto ouço Miranda e Evelyn conversando atrás de mim sobre que sabores escolherem. Fito meus olhos na criança a minha frente que parece um pouco indecisa, ouço Evelyn sussurrar em meu ouvido esquerdo se a garotinha iria demorar muito? Tento evitar sorrir, mas é inevitável. A garotinha pega o cascão com enormes bolas coloridas: rosa, preto, branco e roxo. Uma linda torre de arco- íris, cores diferenciadas como diversidade étnica. Escolho sabor coço e floco com cobertura de chocolate e peço um canudinho Wafer Biju, sorrio para a moça atrás do balcão que ao mesmo tempo retribui e começa atender Miranda que olha o meu sorvete por alguns segundos com uma leve expressão pensativa. Saio da sorveteria e encaro meu pai que está encostado no poste de luz do lado de uma lixeira, ele me observa com uma fisionomia preocupada e um tanto cansado seguro sua mão apertando-a de leve e esclareço:
— Papai eu estou bem. Estou gostando de estar aqui. Você está comigo é o que importa.
Ele sorri de canto e acaricia minha bochecha sinto meu corpo querer se afastar, mas eu não me afasto. Eu seguro sua mão contra meu rosto fechando meus olhos enquanto sinto o sorvete começar a pingar pelos meus dedos, ouço a voz distante de Miranda me tirar dos meus pensamentos:
— Está derretendo tudo Nadia.
Eu rapidamente começo a lamber desesperadamente e logo já não pinga mais e já me sinto segura novamente com o meu sorvete em mão, começo a comer com a pazinha e em pouco tempo depois, já estou apreciando a casquinha que é crocante e doce. Respiro fundo sentindo um leve cheiro de terra molhada e olho para o céu identifico gotas começarem a cair sobre meu rosto fazendo a cada pequena gota em minha pele causar certo arrepio, uma sensação de relaxamento e vontade de deixar a mente vagar para bem longe.
Despeço de Miranda e Evelyn que viram no fim da rua, disseram que não podiam ficar por muito tempo por causa das coisas para fazer. Uma vai trabalhar e a outra irá cuidar da casa. Olho para meu pai enquanto ainda posso sentir a garoa fina cair sobre meu corpo, meu pai parece ainda mais apreensivo olhando para rua dos dois lados a cada cinco segundos, a espera de a qualquer hora mamãe aparecer, no entanto, ele sabe que ela não vai. Ela se esqueceu de nós e não é a primeira vez que ela faz isso.
Papai olha-me nos olhos e o noto tirar algo do seu bolso mostra-me a nota de dez reais sorrindo, o mesmo indica com a mão o ponto de ônibus do outro lado da rua, eu sorrio de canto para ele que estende sua mão para eu segurar e eu a seguro caminhando em direção ao ponto enquanto sinto minha mão formigar, desistimos da minha mãe que não veio até agora. Se ficarmos a espera dela capaz de chegarmos a casa tarde da noite, é melhor evitar a opção de esperar por alguém que não percebe que o tempo voa enquanto está ocupada com algo importantíssimo, que para nós não devia ser mais importante que sua filha e seu esposo.
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Uma Vida - Inacabada
Teen Fictionvolume:1 * ''Nosso sobrenome é Oliveira, igual à árvore oliveira que nasceu há mais de 3.000 anos antes de Cristo e que demora quase 10 anos para poder cultivar. O sobrenome Oliveira está na nossa família desde século XVIII e nunca mais morreu''. É...