Uma Vida - Inacabada

Who's Laughing Now?

Quem Está Rindo Agora?

''Mamãe, eles me deram apelidos

Eles não me deixavam jogar

Corro para casa

Sento e choro quase todos os dias''

(2011 - Jessie J)

Quinze

O sinal toca pelos corredores até atingir a caixa de som do banheiro me dando um leve susto, suspiro no mesmo tempo em que limpo minhas lágrimas rapidamente engolindo cada vontade que surge de chorar novamente. Olho-me no espelho e meu nariz e meus olhos estão todos avermelhados e inchados, respiro contando até dez enquanto lavo meu rosto e saio do banheiro secando com as mãos. Vou em direção ao meu armário e pego meu livro de português e caminho lentamente em direção a sala. Sento-me na ultima carteira com vista para a janela, observo onde eu sentava que era atrás de Lena, e Calebe do meu lado, eles continuam em seus lugares de costume, no entanto, não pretendo mais sentar perto deles. Conversávamos muito durante o tempo livre que tínhamos nas aulas, mas acho que Lena não vai permitir que a putinha faça parte do seu novo grupinho de amigos, onde não me inclui. Cruzo meus braços na mesa e abaixo minha cabeça sobre meus braços enquanto ouço a sala lotar de alunos, eu consigo ouvi a pronuncia '' prostituta'', ''putinha'' e ''vadia'' ser falada entres os amigos e logo as risadinhas irritantes, olho para onde eu costumava sentar e adivinha quem está sentada no meu ''ex-lugar'', aquela vaca amiguinha — na verdade namorada — do Victor, chamada Paula. Odeio essa garota insuportável.

Sua risadinha ao referirem à palavra putinha reflete em minha mente.

Sinto minha testa se franzir pela raiva que estou sentindo dela e principalmente de todos eles. Lembro-me da primeira vez em que éramos amigas ''para sempre'' — o que de sempre, não tinha nada. E de repente como se '' Rumpelstichen'' tivesse surgido dos contos de fadas para o mundo real, num passe de mágica a amizade entre eu e ela deixou de existir tal como se nunca fossemos amigas, de maneira que tudo que vivemos por alguns meses não passou de uma fase passageira. Só não sei o que dei em troca a nossa amizade. Ela dizia que o motivo de não ter durado é porque ela não gosta de meninas como eu, taxada a ''esquisita'' como ela diz. Ela me acha um nojo, e todos aqueles que ela usa o termo esquisito. E que somos um peso no mundo, que não deveríamos existir na fase da Terra, pelo menos, essa ultima parte é isso que eu penso que passa pela cabecinha miúda dela. Tudo na vida tem seu propósito para sua existência, quem é ela para dizer que não é?

— Quer fazer um favor para mim? Pare de se torturar pelos seus ''amigos'' falsos.

— Eles não são falsos, só estão precisando de um tempo, Camila. — respondo-a em pensamento.