Saturn

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Saturno

''Eu daria qualquer coisa para ouvir

Você dizer mais uma vez

Que o universo foi feito

Só para ser visto pelos meus olhos''

Só para ser visto pelos meus olhos''

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Trinta e oito

[Epílogo]

Dias depois

É muito difícil saber o que fazer quando uma pessoa falece você não sabe se crema o corpo ou se enterra. Faz-se cerimônia religiosa, se opta pelo velório em casa ou em lugar público como; capela e templo. Meus pais sempre foram pessoas religiosas e optaria pela cerimônia em uma capela dentro do próprio cemitério. E logo depois o sepultamento, no mesmo cemitério que Camila foi enterrada, esse foi meu trato depois que eu voltei e conversei sobre um dia eu falecer.

Sento-me no banco da igreja enquanto observo algumas flores sendo posicionadas nos lugares que meu pai mandara. Meu pai está com uma aparência ruim, olhos inchados de tanto chorar, nariz avermelhado e rosto também inchado. Vendo-o assim parece que envelheceu uns dez anos a mais e fico a pensar se um dia ele vai conseguir caminhar novamente sem se torturar pela minha morte.

Passo minha mão pela parede enquanto observo Calebe suspirar profundamente se admirando no espelho, desanimado. Noto seus ombros decaírem gradativamente enquanto seus olhos observam a aliança ainda em seu dedo. Seus olhos enchem-se de lágrimas e ele respira fundo afastando a vontade de chorar no tempo em que ajeita sua gravata preta que faz conjunto ao seu terno também preto. Nunca pensei que o veria vestido em um terno de funeral, indo ao meu próprio funeral. Respiro fundo saindo do quarto e admirando Daniela em seu vestido preto no tempo em que discute com o pai de Calebe:

— Por que esta reagindo assim? Como se ela não fosse nada? — coloca as mãos na cintura.

— Não disse que ela não é nada, ela foi alguém, mas comparar a morte dela com a ausência da mãe é um absurdo Daniela. — o justifica.

— É a mesma dor João. Ele perdeu a mãe pra ele, ela esta morta, e perde-la reacendeu a dor.

— Acho isso uma bobagem. — revira os olhos.

— Você não entende quando entender vai saber como é. — sai do quarto ajeitando o relógio no braço.

Entro na casa de Paula que se encontra com a porta aberta subo as escadas chegando a seu quarto, notando ela se arrumando para meu enterro a pior parte de permanecer e ter que ver o quanto as pessoas sofrem quando você não esta mais presente. Consigo sentir a frustração dela de estar se arrumando novamente para um enterro, não faz nem um ano que enterrou a mãe. Ela limpa as lágrimas quando percebe a empregada entrando em seu quarto com seu irmão no colo dizendo:

— Paula... Ele não quer parar de chorar, me desculpa.

— Me dê ele aqui. — estica as mãos para pega-lo.

Ele se prende ao seu colo parando de chorar na hora ela sorri para ele explicando a ele que esta usando aquelas roupas para o enterro de uma pessoa muito amiga da irmã. Sorrio de canto percebendo que por um momento enquanto termina de arrumá-lo ela parou de pensar nas dores que as consome.

Ela volta a se olhar no espelho quando nota seu irmão correndo em direção a empregada que o pega no colo saindo do quarto sem dizer mais nada. Já é o ruim bastante que eu tenha partido e vê-la suspirar desejando ser a próxima na lista da morte me corta o coração. Ela pega uma bolsa pequena preta e sai do quarto descendo as escadas a caminho do carro que levara para a cerimônia.

***

Seguro a mão de Camila no tempo em que entro na igreja, com tudo já pronto. Corro com os olhos reconhecendo cada rosto presente tentando conversar sobre mim, mas muitos estão quietos sem saber o que dizer. Papai e Calebe não conseguem nem abrir a boca e já se desmancham em lágrimas, sento-me do lado deles enquanto ouço meu pai comentar com a voz rouca:

— Já perdi minha irmã. E agora minha garotinha. De novo eu estou passando por isso.

Calebe o abraça de lado e os dois começam a chorar novamente e eu respiro fundo observando Camila olhando minha foto pendurada perto de um caixão fechado, penso que meu corpo esta todo ajeitadinho dentro. Deixo uma lágrima escorrer pelo meu rosto e eu o limpo com o dorso da mão. Depois da cerimônia em minha memória, veio o circulo de oração onde seguraram velas e fizeram orações a mim e logo depois caminharam com o meu caixão até o lugar de enterro e eu fico feliz de me ver sendo enterrada quase ao lado de Camila. Sento perto do meu tumulo enquanto observo jogarem rosas brancas dentro e Calebe pressionando seu peito sabendo que está perto do fim, eu daria qualquer coisa para ouvi-lo dizer que as estrelas nos guiarão para casa novamente. Eu vislumbro uma pessoa perto de uma arvore e desconfio ser minha mãe. Levanto-me caminhando ate ela e poucos metros antes de chegar nela, eu percebo realmente ser minha mãe. Observo-a esticar o pescoço tentando de alguma forma conseguir me ver, está tão envergonhada do que fez que não esta com coragem de aparecer na frente de todo mundo, coragem de aparecer na frente do meu pai e enxergar o olhar de ódio dele. Ela não parece estar tão abatida com minha morte, feito meu pai. Inclino minha cabeça para o lado e me pergunto se um dia ela realmente me amou.

— Sim amou. — responde Camila atrás de mim.

— Verdade?

— Sim. No fundo, ela percebia que você não duraria muito. Acho que isso a fez ficar insensível.

— Não tente achar justificativas para o que ela fez comigo. Por favor. — reclamo.

Afasto-me da minha mãe ao observar sobre o ombro Calebe olhando para ela. Toco em seu ombro e faço-a me enxergar de relance, noto seus olhos observarem os meus e logo em seguida se afastar achando que fora só o seu pensamento relembrando de mim. Respiro fundo ao ouvir a terra sendo jogada em meu caixão. Seguro a mão de Camila e caminho vagarosamente com ela para algum lugar tentando descobrir alguma forma de eu e ela subirmos ao céu, juntas, enquanto ela não poder partir comigo irei me privar de partir. Amigos de verdades nunca desistam. Ela não desistiu de mim e eu não irei desistir dela. Talvez Calebe esteja certo, um dia as estrelas nos guiarão para casa.

''As raízes poderosas e compridas da Oliveira podem chegar à profundidade de seis metros da qual sempre tem a possibilidade de obter água para seu desenvolvimento, a árvore – dependendo da variedade – chega aos 20 metros de altura. A oliveira, no entanto, pode viver centenas de anos suas folhas são persistentes nunca perde totalmente sua folha; em vez disso, as folhas velhas vão caindo com o passar do ano. A partir da flor que nasce, forma-se depois da polinização o fruto: a azeitona. A fruta pequenina de sabor suave. ''

Meu nome é Nadia Oliveira eu tinha 15 anos quando fui morta no dia 19 de dezembro de 2014. E assim, o meu sobrenome morreu comigo.

FIM DO LIVRO UM.

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