Canção do Assassinato
''E ele me segura apertado
Ah, ele fez tudo para me poupar das coisas horríveis
que a vida traria
E ele chora e chora''
(2016 - Aurora)
Dezenove
Esfrego meu rosto fortemente enquanto encaro meu corpo pelo espelho do guarda-roupa, tiro um vestido turquesa com bolinhas brancas na barra e prendi um cinto marrom na cintura, passo um perfume que cheira a rosas vermelhas na região do pescoço e visto uma jaqueta. Penso em passar um batom cor de pele, no entanto, passo só um hidratante labial. Respiro fundo um, dois, três quatro, cinco... E saio do quarto contando mentalmente, querendo ignorar de toda forma que eu abandonei por um tempo o grupo de apoio, abandonei os amigos que eu fizera lá. Será que sentem minha falta? Se eu não sinto a deles. Engulo em seco sentindo o estomago gelar. Um, dois, três, quatro, cinco... Recomece. Entro no carro olhando para a janela, noto meu pai me observar pelos cantos dos olhos. A mesmo segura minha mão por alguns segundos e esclarece:
— Vai dar tudo certo. — sorri.
Concordo positivamente mesmo no fundo não acreditando tanto em suas palavras, sei que devemos sempre acreditar no que nossos pais dizem, porém não sinto tanta confiança. Efeito colateral de ter sido machucada. Ajeito-me no banco e fico a pensar no dia anterior, eu estava realmente muito mal, contudo, me sinto melhor agora, ainda mais com o consolo do meu pai. Eu só o tenho agora.
Contemplo a paisagem e percebo que faltam poucos quilômetros para chegarmos ao — temido — grupo de apoio. Acho que Pedro ficará feliz em me ver, depois de semanas sem ir para as consultas. Saio do carro admirando o local tentando relembrar de todos os detalhes, a cor bege por dentro, o sofá marrom, o globo-de neve que costumava balançar todas as vezes que entrava. Fecho meus olhos tentando me familiarizar novamente com todos os cheiros da rua. A padaria do outro lado da rua, servindo pão francês quentinho, o cheiro do pudim cozinhando do restaurante ao lado. Uma mistura agradável de aroma. Sinto minha boca salivar quando subitamente lembro-me do dia em que sai com as meninas para tomar um sorvete. Sorvete geladinho e doce.
Entro no edifício pela porta de vidro fosco escrito em letras de forma suave GRUPO DE APOIO e noto que a balconista, não é a mesma da ultima vez que pisei meu pé nesse lugar. A balconista parece estar na casa dos trinta anos 30 anos a idade do sucesso. Ela tem um rosto triangular, pele rosada, cabelos castanho-claros e muito bem cuidados. Sua roupa é formal, camisa de manga curta de cor nude-claro com botões em branco, uma calça vintage azul-escuro. Ela é muito bonita e elegante por si só. Acho que Pedro se daria bem com ela. Vou até ela e chamo atenção da mesma, passando minha mão pelo balcão impecavelmente limpo:
VOCÊ ESTÁ LENDO
Uma Vida - Inacabada
Teen Fictionvolume:1 * ''Nosso sobrenome é Oliveira, igual à árvore oliveira que nasceu há mais de 3.000 anos antes de Cristo e que demora quase 10 anos para poder cultivar. O sobrenome Oliveira está na nossa família desde século XVIII e nunca mais morreu''. É...