Bound To You | pjm

mandão

Jimin empurrou o óculos na ponte do nariz, visivelmente satisfeito. Eu ainda me sentia um pouco receosa por saber que empurraria uma mentira a diante, ainda mais para Yoora, que me pareceu muito doce desde a primeira vez. Uma pessoa inocente, fácil de ludibriar.
— O que foi? – vejo Jimin unir as sobrancelhas.
— Sua mãe pareceu ser tão gente boa... Por que ela ainda não percebeu a intenção de Sojin, assim como você?
Ele balançou a cabeça como quem lamenta.
— Minha mãe é tão ingênua, Bel. – suspirou — Logo que meu pai faleceu Sojin ficou ao lado dela, até mais que eu e meu irmão. Ele cuidou dela e fez com que se sentisse feliz novamente. Quando ela nos contou que se casaria com ele, Jin e eu soubemos onde ele queria chegar. Porém omma estava apaixonada, cega e nunca pode ver a verdade.
— Vocês tentaram alertá-la?
— Sim, mas isso causou uma grande briga entre nós. Mas tivemos de permitir, pois ele nunca fez mal a ninguém da família. Conosco Sojin é frio e inexpressivo, mas para minha mãe ele é o homem perfeito.
— Mas... Assim, tem certeza que ele está com ela por interesse? Como chegou a essa conclusão?
— Acha que eu inventei tudo? – apertou os olhos.
— N-não! Eu só estou curiosa. Ele me pareceu tão distante...
— É exatamente isso que minha mãe não vê. Sojin pode até ter aprendido a gostar dela. Me dói dizer, mas ele não a ama. Eu ainda me lembro de como meu pai a olhava, aquilo era amor de verdade, Bel. Em Sojin eu vejo uma ganância excessiva. Para ele minha mãe é a chave do baú de ouro.
— Eu sinto muito por ela. De verdade, mas preciso perguntar... Qual sua intenção depois de conseguir o que quer?
Jimin hesitou mordendo o lábio. Isso me fez desejar beija-lo.
— Vou seguir como presidente da construtora e vou tirar Sojin da minha casa.
— Você parece não nutrir sentimento algum por ele.
— Tem razão. Não faço.
— Ele já te fez alguma coisa?
— Isso não importa, Bel. – umedeceu os lábios se voltado ao computador. — Vamos trabalhar, sim? Depois sairemos para o almoço.
Fiquei de pé alisando meu vestido.
— Sim senhor. – fingi bater continência.
—  De onde veio tanta graça? – fez careta.
Eu apenas ri seguindo para minha sala o deixando sozinho.

(...)

O dia se seguiu como sempre. Muito trabalho, eu quase não tive tempo de me sentar para descansar, nem por um instante. Em um momento Jimin me chamou em sua sala e me vi ansiosa para saber do que se tratava.
Mais trabalho. Dessa vez externo.
— Você vai com o motorista da empresa levar esses documentos. Precisa me trazer todos assinados e quero que esteja aqui antes do horário do almoço. – entregou-me uma pasta grossa e um cartão com um endereço. — Quem vai receber já sabe que mandei um representante, então está a sua espera. Seja rápida e não me deixe esperando.
— Okay.
— Vai. O carro está na entrada esperando por você.
Assenti e dei as costas carregando os documentos nos braços.
— Ah, Bel?
O olhei por sobre o ombro.
— Sim?
— Eu adorei o vestido. – sorriu cheio de charme.
Mordi o lábio.
— Obrigada. – respondi no mesmo tom provocativo.
Sai do sala sabendo exatamente onde seus olhos estavam. Já na entrada da empresa o motorista me aguardava e abriu a porta do carro preto de vidros escuros, para que eu pudesse entrar.
— Bom dia senhorita.
— Bom dia. – respondi lhe entregando o pequeno cartão com o endereço.
— Acomode-se por favor. – assentiu. Eu entrei no banco traseiro colocando a pasta no colo. Encostei a cabeça no banco enquanto ele seguia caminho. Eu não conhecia o endereço, porém pareceu importante para Jimin.
O início do dia havia sido muito intenso para o meu gosto. Contudo, fui capaz de perceber que minha resposta para ele, seria sim e nunca precisaria pedir uma segunda vez. Eu queria ajudá-lo mesmo que fosse de uma forma “errada”. Sentia muita gratidão pelo que tinha feito por mim, foi Jimin que apareceu exatamente quando eu não via mais saída.
E é como dizem : uma mão lava a outra. Não podia ser tão ruim ser noiva dele. Aliás, eu gostava de ficar em sua presença. Jimin era uma pessoa calma com um jeito mandão e autoritário, ainda sim tinha uma tranquilidade imensa. Uma pessoa cheia de suavidade.
Sentia-me diferentemente ansiosa para experimentar daquilo. Já podia imaginar a comoção de todos na empresa quando a notícia começasse a se espalhar. Teria de ter sangue frio para lidar. Sorte a minha que nessa vida aprendi a sempre manter a cabeça erguida, fazendo sempre o que tivesse de ser feito. Sem pensar muito com que os outros tem a dizer. Uma mulher como eu aprende a manter a dignidade sempre.
Tinha de estar pronta para enfrentar a família dele. Mesmo sendo uma união fictícia, tinha clara noção do que esperava por mim. Soltei um suspiro tendo um rápido flashback da minha época do ensino médio...
Meu primeiro namorado; Lucas. Nunca tive muita certeza de como ficamos juntos, já que nunca tinha sido alvo dos garotos da escola. Na verdade hoje em dia eu tinha noção do que se passou na época.
Ainda me recordo da cara de espanto dos pais dele quando ele me convidou para almoçar em um tarde de domingo em São Paulo. Na segunda-feira seguinte ele terminou comigo com a desculpa de que “a gente não daria certo”. Algumas semanas depois ele apareceu de mãos dadas com Clara, uma garota branca, rica ,magra de cabelos naturalmente lisos e loiros. Ela sim seria certa para ele. No final, Lucas teve razão. Porque em certo momento de minha vida não haveria espaço para ele.
“Você será vista como uma intrusa por ele, Bel.” – dissera Jimin sobre Sojin.
De repente sinto o carro parando aos poucos. O motorista desce e abri minha porta, estávamos diante um prédio comercial. Menor que a construtora Park.
— Vou esperar a senhorita.
— Certo.
Caminhei para entrada passando pelo detector de metal. O lobby tinha pouca decoração, mas o que havia ali, tudo em cores escuras. Tinha um longo balcão bem a minha frente onde três mulheres atendiam. Acima delas uma grande placa de aço escrito :
Acessória e contabilidade