inveja

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Em todos os cantos que eu passava, as pessoas sussurravam baixinho. Não precisava parar para pensar ou até mesmo questionar do que se tratava. Era sobre mim, o meu nome. Era sobre nós. Mas como Jimin havia me dito; não precisava me importar com que os outros estavam fuxicando.
Soltei meus cabelos do elástico assim que terminei de organizar a sala de reunião. Hoje seria um dia importante como o próprio presidente havia nos informado no início do expediente. Olhei bem ao redor conferindo tudo.
— Certo.
Depois do quase beijo, há alguns dias atrás, Jimin e eu havíamos nos “distanciado” um pouco. Ele tinha parado com os flertes e não tivemos mais nenhum encontro, nem mesmo o almoço. Bom, por um lado eu pude compreender porque eu era a responsável por sua agenda e tinha plena noção de que estava muito ocupada. Visivelmente estressado, mesmo quando tentava esconder.
Até tentei puxar conversa, porém Jimin não quis papo, permanecia na frente do computador trabalhando sem dar atenção para o que eu dizia. Então decidi fazer o mesmo, tratar apenas de trabalho sem insistir na minha falha tentativa de jogar conversa fora.
Todavia, minha vontade de beijar aquela boca continuava a rondar minha mente. Uma curiosidade crescendo assustadoramente. Por que ele tinha de ser tão difícil? Precisava me conter.
Girei nos tornozelos e neste momento alguém irrompeu pelo porta. Meredith, seus cabelos de visual novo, ainda mais bonitos.
— Ah, Oi. Eu já terminei aqui para te poupar. Sei que tem muito a fazer, agora terá tempo de terminar seus afazeres antes da reunião e-
— Não seja cínica. – ela cruzou os braços me encarando com desdém.
— Como? – indaguei confusa.
— Você não é surda, disso eu sei. Chegou como quem não quer nada, mas já colocou as asinhas de fora. Típico do seu tipo.
Sem esforço algum percebi onde ela queria chegar. A mesma vinha me ignorando nos últimos dias e eu ainda não tinha entendido o por quê. Só não esperava por um ataque.
— O que quer comigo, Meredith? Parece tão... Inconformada.
— Por que você é sonsa! – sibilou — Se fez de boazinha conquistando todos por aqui, até chegar no seu alvo.
— Alvo?! – Ri em escárnio vendo ela ficar visivelmente irritada. — Está falando do seu chefe? Ele nunca foi um alvo se é isso que quer saber. Não tem de insinuar que entrei aqui para qualquer outra coisa que não fosse fazer meu trabalho bem feito.
— Sinceramente cheguei a pensar que você fosse diferente, Isabel.
Ergui a sobrancelhas.
— O que tudo isso tem haver com você? Não consigo entender...
— Golpista. É isso que você é!
— Oras! Eu sinceramente não compreendo a razão por quê veio aqui me atacar.
— Como foi que conseguiu, huh? Mal chegou e agora vai se casar com ele?! – riu sem humor — Eu deveria ter percebido suas intenções desde o começo.
— Ah, então está preocupada como consegui? – mudei o peso do corpo para uma perna, também cruzando os braços no peito.
— Seja lá qual é seu plano, espero que não dê certo.
— Guarde essa negatividade para si, Meredith. Eu não preciso e se preocupa-se tanto com Jimin, saiba que ele está em boas mãos. Ficar comigo foi escolha dele. Cuide da sua vida, acho que tem coisa o suficiente para fazer. Assim pode ocupar a mente. Agora me dê licença.
Passei por ela ouvindo meus saltos batendo forte contra o chão. Ela conseguiu me tirar do sério. Entrei na sala da presidência irrompendo pela porta sem bater. Como sempre. Andei de um lado para o outro com várias idéias, tentando entender por que não coloquei aquela abusada no devido lugar.
— Se continuar vai gastar todo o salto do seu Tom Ford. – Jimin diz chamando minha atenção. Me voltei para o mesmo; que de pé segurava uma folha com desenho de uma  planta, com certeza da ampliação do resort. O negócio mais valioso do mês. Ele me encarava por cima das lentes do óculos.
— Pode me tirar uma dúvida? – indaguei me aproximando de onde ele estava.
— Talvez... – colocou a planta sobre a mesa. — Sobre o que é sua dúvida?
Umedeci os lábios.
— O que houve entre Meredith e você?
Jimin não expressou surpresa como eu imaginei. Sua face ainda se manteve impassível.
— Por que a pergunta?
— Pode me responder, Jimin?
— Por que precisa saber?
— Oh, então algo realmente aconteceu entre vocês. A piadinha sobre secretaria faz muito sentido agora. Pois saiba que a sua veio me atacar, me chamando de golpista!
— Provavelmente é o que todos estão dizendo, Bel. Já lhe disse para não se importar-
— Tá, tá! Dane-se os  fofoqueiros, mas eu não vou admitir que sua ex-parceira  venha ofender minha honra!
No instante seguinte ele toma minha frente, tão perto que sua respiração tocou minha face. Eu me afastei por reflexo vendo sua boca retorcida no canto indicando irritação.
— Baixe o tom! Não tenho nada com ela.
— Então me diga, posso pelo menos saber porque ela está tão inconformada com nosso noivado?
Jimin suspirou retomando a postura.
— Já faz tempo. Nós ficamos juntos uma única vez, mas Meredith foi meio resistente em aceitar que eu não queria mais nada além de um momento apenas. – falou como se não fosse nada importante, caminhando de volta para sua mesa. — Mas depois de uma conversa ela compreendeu e continuamos como profissionais que somos. Mas se ela está te perseguindo posso dar um jeito.
— O que ? Não! – neguei com a cabeça — Só precisava entender, se bem que eu imaginei que fosse algo do tipo.
Jimin tomou seu assento.
— Eu não faço isso Bel. Confesso que fora meu único erro aqui nesta empresa, desde que assumi a presidência.
— Tudo bem, a vida é sua.
— Meredith é temperamental, posso conversar com ela se assim preferir.
— Não, pode deixar que com ela eu me viro. Mas é bom ficar de olho nela.
— Por que diz isso?
— huh, é só... Intuição feminina.
— Certo. Agora pode me ajudar nisso aqui? Preciso de uma visão feminina neste projeto.
— Não é minha área.
— Eu sei. Sente-se, vamos.
(...)
Então Meredith estava com ciúmes... Enquanto ele me explicava um pouco de como aquela construção funcionava, eu pensava. Meredith havia conseguido ir para cama com Jimin, coisa que muitas desejavam pois a maioria o via como um baú de ouro. Outros encontravam-se apenas instigados por sua beleza e  natural sensualidade.
No fundo sentia uma pitada de inveja dela por saber que tinha conseguido muito mais que um selinho, como fora no meu caso. Ela era muito bonita e inteligente, mais alta que eu e sua pele escura tinha um brilho intenso. Não culparia meu chefe por ter se deixado levar pelo charme de Meredith. Mas a mesma pareceu-me ressentida e no fundo esse fato me incomodava. 
— Acha que vai ficar bom? – ele perguntou. Eu estava sentada na cadeira de frente a sua mesa.
— O quê? – perguntei saindo dos devaneios.
— Não estava prestando atenção. No que está pensando? – colocou os cotovelos sobre a mesa.
— Nada.
— Me fala.
— Não é nada... Olha, o projeto está muito bonito de verdade. Apesar de não entender muito sei que vai ficar perfeito.
Ele apertou os olhos e não me respondeu.
— O que foi? – perguntei.
— Por que não gosta de compartilhar seus pensamentos?
— Eu deveria?
— Comigo sim. – o óculos arredondado combinava tanto com o formato de seu rosto...
— Não estava pensando nada demais.
— A ruga entre suas sobrancelhas me diz  o contrário.
Pestanejei. Ele era mesmo observador.
— Uh, só pensei na sua mãe. – menti. Ele não precisava saber que eu sentia inveja de Meredith. — Ela ainda quer fazer o tal jantar?
Jimin me analisou por segundos antes de responder:
— Tenha certeza. Ela quer fazer neste fim de semana, amanhã.
— Pelo menos estou de férias da faculdade para poder ir. – dei um meio sorriso. — E quando planejava me contar? Já é amanhã.
— Quando fosse te levar para casa.
— Não vai me levar. Ainda bem que perguntei antes.
Ele soltou o ar pelo nariz encostando na cadeira, correndo os dedos entre os fios. Eu também mudei de posição cruzando as pernas.
— Acredito que precisamos acertar um outro ponto entre nós, ippeuni.
— Qual ponto?
— O que eu te levo para casa.
— Eu disse que não quero, Jimin.
— E eu não perguntei. Até que compre um carro eu te levo. Sem mais. Falando nisso, está na hora da reunião. Vai me acompanhar.
— Claro chefe. – coloque-me de pé, amarrando o cabelo no elástico novamente. Jimin pegou algumas pastas na mesa e veio para o meu lado.
— Gosta muito de usar branco. – sussurrou.
— Para trabalhar, eu gosto. – respondi olhando seus olhos. O vi erguer uma mão a levando a minha nuca, no meu rabo de cavalo baixo. O toque foi suave.
— Gosto quando usa ele preso assim.
— Por que?  – sussurrei.
— Porque sim, Bel. Vamos.
Receber seu toque depois de um tempo sem, me fez querer mais. Ele me deu mais, apoiando a mão na minha lombar no tempo em que seguimos para sala de reuniões.
Meredith não apareceu e isso não foi surpreendente. Sabia que daquele momento em diante seríamos como cão e gato que se estranham ao se ver. Estava bem claro que a mesma não havia superado Jimin e eu havia entrado em seu caminho.
A reunião durou mais tempo que o normal. Saímos da sala e já era fim do horário. Fui até a minha sala pegar meus pertences pessoais e logo voltei para Jimin que também estava pronto para ir. Naquela noite não houve muita conversa, ele parou na porta de casa. O seu cheiro gostoso de colônia e cigarro impregnado na minha roupa.
— Está entregue.
— Obrigada. – tirei o cinto de segurança.
— Disponha. – ele girou o tronco olhando para mim. — Vai precisar de um vestido novo para o jantar.
— Vou? Fala como se já tivesse visto meu closet. – eu ri.
— O que quer vestir?
Ergui uma sobrancelha.
— Como assim?
— Versace, Alexander McQueen, Dior, Chanel. Você tem muitas opções é só me dizer qual.
— Por que não me deixa resolver isso sozinha, huh? Posso me virar.
Ele se curvou um pouco pegando a ponta do meu queixo.
— Só quero que esteja impecável, mais que normalmente.
— Relaxa. – digo sentindo o calor do singelo toque. — Terá uma noiva de tirar o fôlego. – brinquei.
— Ah, disso não tenho dúvidas. – afasta a mão. Nos olhamos sem dizer nada, pareceu-me intermináveis segundos. Até ele voltar a falar:
— Entre para descansar. O dia será longo amanhã. – os lábios movendo-se de forma hipnotizante. Pisquei algumas vezes.
— Sim... Eu vou. – abri a porta. — Tenha uma boa noite, Jimin.
— Você também. Bons sonhos, ippeuni.
Da calçada eu acenei e ele buzinou seguido pela rua. Entrei em casa ainda sentindo seu cheiro, tirei os saltos deixando minhas coisas no lugar de sempre. Tudo que precisava era um bom banho e algo para comer. Então depois de sair do chuveiro fiz um prato de carne com batata e arroz fresco.
Sentei na sala ligando a TV assistindo o noticiário local, um quadro que falava sobre fofoca de celebridades. Quase caí para trás ao ver minha foto com Jimin, saindo da empresa na primeira vez em que almoçamos juntos.
— Puta que pariu! – larguei a colher no prato de olhos arregalados. A jornalista loira falava enquanto nossa foto aparecia no canto da tela.

“... O bilionário herdeiro de uma rede de construtoras, uma das mais importantes e famosas dos Estados unidos, foi visto na última semana com uma mulher misteriosa.
Todos sabemos que a família Park é muito reservada e que o jovem playboy, que apesar de muito cobiçado, nunca apareceu em público com nenhuma mulher. O que no passado gerou dúvidas sobre sua sexualidade.
Estamos todos muito curiosos para saber mais informações sobre a tal que até agora não tem um nome. Porém, alguns internautas admiradores do empresário dizem estar surpresos pelo tipo da felizarda.”

— Tipo?! – peguei o controle mudando de canal. Dei mais algumas colheradas na comida sentindo-me inquieta. Ao voltar da cozinha para sala após lavar a pequena louça, vou até minha bolsa pegando meu celular. Mordi o lábio hesitante, me joguei de bruços no sofá discando o número.
Tocou e tocou, quando pensei em desistir a chamada é recebida.
— Alô? – ele atendeu.
— A-alô.
— Bel?
— Sim, sou eu.
— Não me lembro de ter lhe passado meu número.
— É porque não passou. – conti o riso. Ele parecia surpreso e gostaria de poder ver sua cara. — Eu peguei escondido.
— E por que está ligando? Aconteceu alguma coisa? – sua voz era ainda mais gostosa pelo celular, e dessa vez não tinha o tom profissional como nas nossas rápidas chamadas na empresa.
— Sim.
— Bel, você está bem? – seu tom se ergueu.
— Sim, sim. Estou bem. Foi só algo que eu vi e achei que precisava falar com você.
— O que seria?
— Ah,uh... nós dois na TV. Eles tem uma foto nossa. Confesso que fiquei meio sem reação quando vi. Foi agorinha pouco.
— Está preocupada?
— Um pouco. Seus admiradores estão surpresos com meu tipo.
— Seu tipo? Não se preocupe, tenho gente para dar um jeito nisso. Sua identidade será preservada.
— Ah, certo. Acho que posso ficar tranquila, não é? Mesmo com as pessoas  confusas por você não estar com uma branca de cabelo natural.
—Não dou a mínima para estas pessoas, Isabel. Fique sossegada. – no fundo, por trás de sua voz calma, ouço som de água, como em uma piscina.
— Onde você está? – questionei.
— No banho. – respondeu — Demorei a atender, porque estava me afundando na minha banheira quando ligou.
Oh.
— Ai, me desculpe por incomodá-lo.
— Não foi um incomodo, Bel. Fez bem em me ligar porque não sou do tipo que assiste jornal de fofocas.
— Eu também não, mas foi a primeira coisa que vi então... – balancei a cabeça tentando afastar a imaginação de Jimin pelado na banheira. Meu rosto começou a queimar e não conseguia evitar a imagem se formando. Jimin estava realmente nu falando comigo no celular.
— Bel? Esta aí?
— Uh, sim... Estou.
— Tudo bem?
— Uh-hum.
— Sua voz está estranha...
— Impressão sua. – como seriam seus cabelos escuros molhados? Ou seu peito de pele lisa... As coxas. Oh, Deus! O calor estava aumentando.
— Onde você está? – ele sussurrou. Um sussurro não me ajudaria em nada!
— Na sala. – respondi.
— Sozinha?
— Sabe que não tenho mais ninguém morando comigo.
— Sei... Não se sente solitária, às vezes?
— Raramente. Eu gosto de ficar sozinha.
— Isso não pode ser bom para você. Acho que devo te fazer companhia fora da empresa também.
— Quer dizer... Aqui em casa?
— Pode me oferecer uma xícara de café, eu ficaria com muito gosto.
— Mas aqui não tem todo o luxo com que está acostumado.
Ele riu brevemente.
— Bobagem, eu não me importo. Ficar perto de você é muito bom.
— Por que? – lambi ao lábios que estavam secos com toda aquela conversa.
— Está pronta para amanhã? – mudou de assunto de repente. Cara de pau.
— Com certeza. – afirmei com segurança.
— Ótimo.
Silêncio.
— Acho melhor desligar agora. – Jimin diz — Descanse. Até mais.
— Okay... Até.
Fim da chamada.
Deixei o celular de lado para apertar minhas próprias bochechas, que estavam em chamas. Efeito Park Jimin. Naquela noite foi a primeira vez que sonhei com ele.











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