LUKE
Voltar pra casa tinha sido, sem dúvidas, a melhor escolha que eu havia feito nos últimos tempos. Estava sendo bom passar um tempo com a minha avó e fazer companhia a ela, mas não havia nada melhor do que estar em casa.
Além do mais, era bem complicado ir da casa da minha avó para a escola todos os dias, visto que ela morava numa cidade afastada de Los Angeles. Voltar pra casa faria, também, com que eu pudesse trabalhar mais horas na oficina, pois considerando a distância para a casa da minha avó, eu costumava fecha-la mais cedo, o que fazia com que eu tivesse, naquele momento, algumas entregas de carro atrasadas.
Thor, meu Golden Retriever, mal conseguia conter sua animação quando me viu entrando pela porta da frente com minhas coisas. Correu até mim como se não me visse há anos - o que não era verdade, tendo em vista que eu ia em casa praticamente todos os dias depois da escola quando minha mãe não estava - e quase me derrubou com sua empolgação. Balançou o rabo animado, aninhando-se entre minhas pernas e afagando sua cabeça em minhas mãos. Eu tinha sentido saudade dele.
A Emma, assim como o Thor, desceu as escadas correndo, pulando degraus, e praticamente pulou em cima de mim quando anunciei minha presença em casa. Ela jogou seus dois braços no meu pescoço e se aninhou num abraço, deixando para mim apenas a opção de segura-la no ar e aperta-la tão forte que ela pediu pra eu parar.
Minha mãe estava ao meu lado segurando uma de minhas mochilas, e sorria como se não precisasse de mais nada na vida além de mim e da Emma para ser feliz. E eu esperava que aquilo fosse verdade. Eu não dizia isso sempre, mas minha mãe era uma mulher incrível que havia perdido o marido cedo demais e que trabalhava dois turnos para criar seus dois filhos. Ela era foda e não precisava de um homem ao lado dela pra provar isso.
Tinha sentido saudade daquilo, do cheiro das flores da minha mãe, do jantar posto à mesa por ela todos os dias impreterivelmente às oito, da briga pela TV com a Emma e de sentir que eu tinha uma família.
Agora tudo estava diferente. Eu me sentia mais leve, apesar de ainda sentir dor. Meu passado não seria apagado, então eu teria que aprender a viver com ele. Estava cansado de abraçar a dor e querer viver com ela pra sempre. Estava cansado de me esconder, de ter raiva, de ser tóxico.
E, acima de tudo, estava cansado de mentir para todos - e para mim mesmo.
ANNIE
Raras vezes na minha vida eu vi meu pai tão feliz quanto quando no dia em que contei pra ele que eu e o Tyler estávamos... saindo. Ele estava simplesmente deslumbrado, sem conseguir - ou ao menos tentar - disfarçar o sorriso de satisfação em seu rosto.
Repetidamente ele falava que gostava do Tyler, que ficaria feliz se nós dois levássemos isso mais adiante e que faria muito gosto do nosso relacionamento - mas, na realidade, eu sabia que aquilo tudo era somente por conta de sua amizade com o Senador Hilfiger, pai do Tyler.
Era estranho ver o contraste entre o tratamento que meu pai dava ao Luke e ao Tyler. Tão estranho que eu chegava a me sentir enojada com meu próprio pai, por tamanho preconceito e futilidade. Era conveniente pra ele que eu e o Tyler ficássemos juntos, e ele nem tentava disfarçar isso, forçando encontros, jantares e sorrisos.
Depois de organizar mais um jantar em nossa casa, meu pai alugou os ouvidos do Tyler por horas falando sobre política, bolsa de valores e investimentos. Honestamente, eu não sabia como o Tyler, com apenas dezenove anos, sabia tanto sobre esses assuntos, mas acreditava que estava no sangue dele. Ele praticamente devia ter sido criado no meio de campanhas políticas, números e cifrões.
Entediada com o rumo da conversa dos dois, eu apenas prestava atenção no episódio de Friends que passava na televisão. Quando me dei conta, já passava das uma da madrugada e meu pai havia sugerido que, em razão do adiantado da hora, o Tyler dormisse conosco. E ele nem fez questão de pedir que o Tyler dormisse no quarto de visitas: eu estava praticamente sendo jogada nos braços do Tyler a todo momento e meu pai nem se importaria se eu transasse com ele no quarto ao lado do seu.
Graças a Deus, o Tyler era bem respeitador, e aparentemente tinha medo de dar qualquer passo em falso comigo, então não costumava tentar mais nada além de beijos e mãos-bobas.
Subimos para o meu quarto e, depois de emprestar pra ele um pijama do Andrew e vestir o meu moletom, deitamos juntos na minha cama e adormecemos.
Eu não sabia exatamente que horas eram da madrugada, mas acordei assustada com o toque do meu celular, na escrivaninha. Ainda estava escuro e, do meu lado, o Tyler parecia não ter escutado nenhum barulho e dormia num sono inabalável.
Tateei no escuro o celular, encontrando-o apenas por conta do brilho que ele emanava, e olhei o visor.
"Luke Reed."
Meu coração disparou ainda mais e eu sentei na cama num pulo rápido. Cocei os olhos, tentando afastar a sonolência, e atendi o celular num cochicho para que o Tyler, ao meu lado, também não despertasse.
- Alô? - eu respondi -
- Oi, sou eu. - ele informou, do outro lado da linha - Não fala nada, só me escuta. - ele pediu - Sim, tenho plena consciência de que são três e meia da manhã, ou melhor, da madrugada, e que você odeia que te acordem. Sei também que você tá com o coração acelerado porque como sempre, o toque do seu celular é estridente. Mas olha, estou fazendo tudo isso por um bom motivo. - ele fez um breve pausa - Eu sei que me fecho feito concha as vezes, e fico meio deprimido do nada. E não é uma questão de estar alegre ou triste. Às vezes eu tenho a ligeira impressão de que todas as pessoas ao meu redor estão vivendo, menos eu. É como estar perdido dentro de mim mesmo. Aliás, tenho plena conciencia de meus defeitos, se quer saber. Eu até enumerei todos eles pra você, que talvez, o que eu duvido mundo, ainda não me conheça por inteiro. Bem, pra começar, eu não consigo cumprir uma promessa, e eu não sou um com que se possa contar sempre. Some à isso o fato de eu ser um covarde, medroso demais pra admitir o que você significa pra mim. - eu gelei, sentindo como se meu coração pudesse explodir dentro de mim a qualquer momento - Também sou um mentiroso, às vezes mais mau do que bom. Além do mais, tenho um ego impiedoso, ninguem é menos humilde do que eu. Mas acho que você já sabe de tudo isso, e mesmo assim escolheu ficar, durante um bom tempo. - ele falou -
- Luke... - eu cochichei, fazendo menção de falar algo, mas fui interrompida -
- Flor, preciso que você me escute. - ele exigiu - Não sei o que está acontecendo comigo, mas minhas emoções têm emergido sem qualquer filtro, sem qualquer disfarce. E pela primeira vez, não sei porque, eu tô me permitindo ficar com elas, dando a cada uma a importância que me pedem. Então depois de tudo que passei, sinto que meu coração prepara, em silencio, uma nova fornada de coragem.
- Luke, o que você está dizendo? - perguntei com a voz praticamente falhando ao sair da minha garganta -
- Estou dizendo que cansei dessa paz que cheira à covardia, Annie. E que vou à guerra por você. - ele finalizou -
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Proibida Pra Mim
Teen FictionAnnie Thompson tinha apenas algumas certezas na vida. Uma delas é de que o amor verdadeiro existia, e outra era de que não queria ir para Harvard após a conclusão do seu último ano na escola. Luke Reed, por outro lado, tinha convicção de que o amor...