CAPÍTULO 84

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ANNIE

Já era tarde da noite quando recebi uma mensagem de texto do Adam.

Eu estava em minha cama assistindo pela milésima vez um episódio de Friends quando meu celular apitou.

"Oi. Desculpa o horário, acabei de sair do plantão. Tá podendo falar?"

Peguei o celular e respondi:

"Oi! Não tem problema! Tô sim, aconteceu alguma coisa?

"Estou na frente de sua casa há alguns minutos. Não sabia se iria te mandar essa mensagem ou não... enfim, será que você pode vir até aqui?"

Levantei da minha cama e fui até a minha janela. Quando afastei as cortinas, vi o jeep que pertencia à ele parado em frente ao jardim. Troquei o pijama por um short jeans e blusa e desci para encontra-lo.

- Oi... - eu sorri, ao entrar no carro dele - Está tudo bem? Você parecia nervoso...

- Sim, está tudo bem. - ele sorriu, tocando minhas mãos - Senti saudades suas. Já fazem alguns dias que não nos vemos.

- Sim, é verdade. - eu concordei -

- Você está bem? - ele questionou, preocupado - Desculpe aparecer aqui a essa hora. Eu não pensei muito. Eu só queria muito te ver e... bem, sei que você teve uma semana difícil, por causa do acidente do Luke. - eu o olhei, em silêncio - Ainda não tivemos a oportunidade de conversar sobre isso.

- Eu sei. - assenti - Sinto muito por isso. Essa semana foi realmente difícil e sinto muito que eu tenha te arrastado pra toda essa loucura.

- Está tudo bem. - ele me tranquilizou - Medicina é o meu trabalho. E isso inclui cuidar do ex-namorado da garota que eu gosto, mesmo que a idéia não me agrade tanto. - ele brincou, me fazendo rir -

Apesar do momento de descontração, um silêncio constrangedor pairou no ar logo em seguida. Aquela era a primeira vez que eu e ele estávamos conversando sobre o Luke, e eu desejei ter tido a oportunidade de ter falado sobre isso com ele antes de tudo acontecer. Não queria que ele tivesse sabido do Luke naquelas circunstâncias.

- Obrigada por ter cuidado tão bem dele. - falei, com sinceridade - Sei que ele é teimoso e pode ter dificultado muito a sua tarefa.

- Ele é um cara complicado. - concordou - O Dr. Carson deu alta pra ele hoje pela tarde, mas quando ele soube que não poderia mais lutar, foi bem difícil.

- Como assim, ele não vai mais poder lutar? - questionei, incrédula -

- Eu achei que você soubesse. - ele respondeu - O Luke lesionou uma área do cérebro que não conseguimos recuperar com a cirurgia. - explicou - Ele vai viver sem restrições, mas não pode mais lutar, porque caso ele se lesione novamente ele pode ficar cego ou epiléptico.

Eu não conseguia acreditar. Como o Luke estava se sentindo, diante de tudo aquilo? Lutar era a coisa que ele mais amava na vida. Era algo que fazia parte dele. E agora ele tinha perdido isso.

Chegava a ser injusta a forma com que a vida sempre dava um jeito de arrancar do Luke tudo aquilo que ele mais gostava. Ele parecia estar certo quando dizia que não podia amar nada nem ninguém. O amor custava caro pra ele. E vinha com um preço que ele nem sempre esteve disposto a pagar.

- Ele deve estar muito mal. - falei, quase num sussurro -

- Vocês dois... - o Adam falou, parecendo procurar as palavras certas - Tem muito tempo que a história de vocês terminou?

O tom da sua voz demonstrava que ele se sentia um pouco preocupado por estar no meio de toda aquela situação. Ele parecia ter medo de se magoar.

- Não. - eu respondi,  com sinceridade - Quando eu te conheci, nós havíamos terminado há pouco mais de um mês. Ainda é tudo muito recente, e admito que não sei lidar muito bem com tudo isso.

- Eu vi como você ficou por causa do acidente dele. - ele admitiu - Você ficou muito triste e preocupada. E eu entendo, juro que entendo. Vocês dois tem uma história juntos, e ver ele entre a vida e a morte não deve ter sido fácil. Mas eu... - ele parou, por alguns segundos - Não me entenda mal, Annie, eu só quero saber onde estou pisando com tudo isso. Gosto de verdade de estar com você.

- Adam... - eu o olhei - Sou muito sincera quando digo que gosto de ter sua companhia também. Mas não vou mentir, com o Luke sempre foi tudo muito complicado, e como falei, é tudo muito recente. Quando eu estou com você eu me sinto leve e despreocupada. Você faz eu me sentir bem. Mas preciso ser sincera com você e te dizer que, nesse momento da minha vida, eu ainda não estou pronta pra me doar completamente pra você. - ele me olhou, com tristeza - Pode ser que amanhã eu acorde e decida virar completamente a página. Eu achei que tinha feito isso quando conheci você, mas então o Luke sofreu o acidente e me fez questionar tudo novamente, porque o medo que eu tive de perde-lo para sempre foi algo que eu nunca havia sentido antes. Mas ao mesmo tempo, sei que eu e ele não temos mais futuro. - falei - Sei que arrisco te ferir te dizendo isso, mas prefiro que você me odeie por ter sido sincera do que por ter te enganado.

Ele lançou um sorriso triste.

- Eu te agradeço pela sua sinceridade, Annie. - respondeu - Percebi que vocês tem algo muito forte e que talvez você não o esqueça nunca. Acredite, sei disso porque eu já tive um amor assim. - ele sorriu, parecendo se lembrar - Acho que nunca mais vou encontrar um amor igual ao que ja senti pela minha primeira namorada, e está tudo bem. Acho que nem quero isso, pra falar a verdade. Era um amor que me consumia e me deixava louco. Acabou que não deu certo e seguimos caminhos diferentes. Mas eu sei que sempre vou amá-la. Não da forma que sempre amei, mas de uma forma mais pura e bonita. O amor que sinto por ela hoje é um agradecimento por tudo de bom que vivemos. - eu o olhei, achando beleza naquelas palavras - Mas é preciso entender que estou em outra fase da minha vida agora, e que eu preciso de um amor que me traga paz e me faça crescer. - ele acariciou minha bochecha com seus polegares - E sei que talvez você não esteja pronta pra isso ainda. Mas como te falei, gosto muito de estar com você. Você é a primeira pessoa que fez eu me sentir assim depois dela. - ele admitiu - Então se você me disser que existe uma chance mínima de eu e você darmos certo no futuro... bem, eu gostaria de tentar.

Eu sorri e fechei os olhos, sentindo suas mãos tocarem meus cabelos e meu pescoço. O toque dele era gentil - a alma dele era gentil. Ele se aproximou e selou meus lábios sem pressa, grudando nossas testas logo em seguida.

- Você é incrível. - admiti, ainda com os olhos fechados -

- Você também é. - ele respondeu - E está completamente louca se acha que sou capaz de te odiar por algum motivo.

Proibida Pra MimOnde histórias criam vida. Descubra agora