ANNIE
O Tyler havia insistindo para me buscar em casa antes das aulas na segunda-feira, razão pela qual chegamos juntos na escola.
O que foi claramente uma má-ideia, pois eu conseguia sentir o olhar de todos nos queimando enquanto eu descia do banco do carona do seu carro e ele segurava minha mão. Senti como se estivesse caminhando em câmera lenta e como se pudesse ouvir os pensamentos de todos que nos olhavam.
Enquanto passávamos pelo grupo de líderes de torcida, tive a leve impressão de que elas queriam literalmente me matar. O Tyler era o garoto mais popular da escola e o quarterback do time de futebol americano, então era meio previsível que elas sentissem ciúmes e agissem assim.
Assim que o Tyler se despediu de mim selando os meus lábios para ir para a sua aula de física, esbarrei com a Sarah no corredor.
- Posso saber o que está acontecendo? - ela falou levemente irritada, me puxando pelo braço -
- Como assim?! - questionei -
- Até ontem você amava o Luke e hoje você chega na escola de mãos dadas com o Tyler? Que parte de tudo isso eu perdi?
- Saí com o Tyler ontem e foi bem legal. Não sei explicar, mas gosto de estar com ele. - informei -
- E quanto ao Luke? Sabe, o cara que você ama. - ela ironizou -
- É complicado. - respondi -
- Se fosse simples se chamaria miojo, não relacionamento. - ela opinou -
- Eu não tenho todas as respostas do mundo, Sarah, mas estou tentando seguir com a minha vida. - respondi, impaciente -
- Estando com um e amando outro? - ela questionou -
- Sabe aquela música? - perguntei -
- Que música? - devolveu a pergunta -
- Se não pode estar com quem ama...
- Ame quem está com você. - ela completou, vencida -
- Você tem facilidade pra gostar das pessoas, hein? - o Luke ironizou, passando por nós duas no corredor -
Sua voz não estava cheia de raiva, como costumava estar. Ele estava machucado, aparentando ser um passarinho ferido que necessitava de cuidados. Senti como se tivesse levado uma facada no peito ao ver a mágoa em seus olhos.
- Da mesma forma que você tem facilidade pra magoar quem gosta de você. - respondi num tom alto o suficiente para que ele me ouvisse -
LUKE
Ver a Annie e o Tyler chegando juntos na escola me causou ânsia de vômito. Meu estômago estava embrulhado e a sensação que eu tinha é que algo dentro de mim precisava sair antes que eu explodisse. E isso me assustava, porque a última vez que eu havia sentido essa urgência foi quando eu havia perdido meu pai.
Certo de que não poderia ficar mais naquele local naquele momento, subi na minha moto e
decidi ir até o cemitério ver o túmulo do meu pai. Já fazia um tempo desde que eu o havia visitado, mas eu não conseguia me lembrar de um momento em que eu tivesse precisando mais dele nos últimos anos do que aquele.Cheguei no local e procurei por sua lápide. Era estranho e ao mesmo tempo triste estar ali, no único local em que eu poderia encontra-lo. Me sentei ao lado do nome dele "Thomas Reed: 1963-2016", sob o mármore frio e cinza. Cinza. Eu odiava essa cor.
Ele foi a primeira pessoa que eu perdi e isso me custou caro. Todo mundo falava que entendia a minha dor e que eu iria superar, mas eu nunca iria superar a morte do meu pai. Todas aquelas pessoas não sabiam nada sobre a perda real, porque isso só ocorre quando você amou algo mais do que ama a si mesmo. E eu o amava.
Mas agora... eu estava perdido e não tinha mais seus conselhos pra me guiar. Tudo que eu sabia era que a Annie apareceu na minha vida, bagunçando tudo e destruindo tudo que eu achava que sabia sobre sentimentos. Desde o princípio eu disse para mim mesmo que não iria me apegar. Não acreditava nessas buscas, além do mais, metade de laranja alguma completaria metade de uma melancia. Mas aqueles olhos, a maneira como ela gesticulava, o sorriso torto meio tímido...
Tudo era convidativo, desde os defeitos às mais surreais qualidades. Mas agora estava tudo acabado, e ela tinha feito bastante questão de mostrar isso pra mim e pra qualquer um que tivesse olhos. A sensação de perda que me invadia era avassaladora.
Absorto em devaneios, comecei a travar comigo mesmo um cabo de guerra, onde razão e emoção disputavam a vez. Minha vontade era de ligar pra ela, dizer meia dúzia de desaforos e beija-la em seguida. Mas minha outra metade dizia que eu tinha que aceitar o fim. Merda. A razão, amiga íntima do raciocínio, finalmente ganhou o o duelo onde a emoção, tão devastadora e hipnotizante, virava poeira a ser varrida pelo vento.
Aquela foi a primeira vez na vida, desde que havia enterrado meu pai ali, naquele mesmo local, que não consegui me enrolar e acabei deixando a dor vencer. Pela primeira vez a realidade falou mais alto que a fantasia. Pela primeira vez a realidade da ausência dela falou mais alto que a fantasia de sua espera.
Tentei burlar a dor, mas ela não era facilmente enganada, e eu estava cansado de sempre tentar fugir dela. Diariamente eu acordava com a sensação de que algo em mim doía, mas escondia isso entre sorrisos e frases de efeito, usando uma máscara de durão pra que ninguém percebesse o quanto era difícil ter um coração que sangrava dentro de um corpo de ferro.
Finalmente livre de qualquer auto-julgamento, e sabendo que as lágrimas desciam de forma tão intensa que não podia segurar nem se tentasse, resolvi me entregar de vez. Então, depois de fechar meu peito e ter passado três anos sem chorar, calei, me entreguei e chorei por três horas sem parar. Quem sabe assim as lágrimas colocavam um fim na dor que eu sentia aqui dentro?
Quando menos percebi, eu estava conseguindo voltar a respirar novamente, porque as lágrimas que eu havia escondido dentro de mim por três anos estavam começando a encharcar o meu rosto. Sentir o sabor salgado das lágrimas na minha boca não me trazia boas lembranças - me lembrava a última vez que eu havia chorado, no funeral do meu pai. Mas agora eu chorava por outro motivo.
Como ele podia ter seguido em frente tão rápido? Como podia ter me esquecido assim, da noite pro dia, se eu lutava todos as horas do dia pra tirá-la da cabeça? E a saudade que eu sentia dela... Deus! Como cabia tanta saudade no peito de um só homem? Naquele momento de fraqueza, eu abriria mão de tudo pra te-la novamente. Desejei nao ser mais eu pra ser qualquer coisa que pudesse ser dela.
Por quê tudo aquilo que você evitou pensar ao longo do tempo simplesmente aparece como uma bomba no seu colo? E por que você não consegue ignorar? Eu não sabia. Apenas sabia que eu era mais frágil do que eu gostaria. E que eu tinha alma, e que mesmo corrompida, destruída, manipulada e sofrida, ela ainda existia.
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Proibida Pra Mim
Novela JuvenilAnnie Thompson tinha apenas algumas certezas na vida. Uma delas é de que o amor verdadeiro existia, e outra era de que não queria ir para Harvard após a conclusão do seu último ano na escola. Luke Reed, por outro lado, tinha convicção de que o amor...