CAPÍTULO 87

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LUKE

Dezessete. Esse foi o número de treinadores que me rejeitaram em Los Angeles.

Por mais que eu fizesse esforços para que eles não soubessem do meu estado de saúde, o Tony se antecipou e fez várias ligações, utilizando-se da sua influência no ramo da luta pra que treinador nenhum me aceitasse.

Em questão de horas, todos os treinadores de Los Angeles já sabiam que eu, o garoto de ouro do Tony, havia sofrido um acidente com danos cerebrais e que estava condenado a abandonar a minha futura carreira como lutador por isso.

As desculpas eram sempre as mesmas:

"Desculpe, mas não posso aceitar treinar alguém como você."

"Sinto muito, Luke, você é muito promissor, mas não posso arriscar minha carreira treinando você."

"Eu adoraria que as circunstâncias fossem diferentes, filho, mas você sabe que é muito arriscado."

"Eu gostaria, mas tenho certeza que sua família me processaria se eu colocasse você em cima de um ringue e você acabasse morto."

Em um só dia, eu havia escutado mais a palavra "não" do que havia escutado durante toda a minha vida. O recado dado era simples e bastante óbvio: eu não encontraria ninguém disposto a me treinar em Los Angeles. E o Tony havia se certificado disso.

Eu estava puto da vida. Por mais que ele achasse que suas atitudes eram justificáveis, ele não tinha o direito de fazer isso comigo. O que ele esperava? Que eu fosse ficar parado de braços cruzados só porque ele não aceitava mais me treinar? Que eu ia sentar e assistir enquanto Jason White, o seu novo garoto de ouro, tomava o meu lugar?

Ele certamente não me conhecia se esperava isso de mim. Continuei minhas buscas incessantemente até que anoiteceu, mas absolutamente todas as academias em que eu havia ido haviam batido as portas em minha cara.

E o que mais me doía é que a rejeição não era por causa da minha falta de talento ou comprometimento com a luta, e sim por causa do meu estado de saúde. Antes do acidente, eu tinha treinadores dispostos a me treinar saindo pelas orelhas. Eu já havia recebido propostas irrecusáveis de vários treinadores de Los Angeles.  A cada luta importante que eu vencia, eu recebia três ou quatro convites pra mudar de academia e de treinador. Mas eu jamais faria isso com o Tony. Eu jamais o abandonaria da forma que ele me abandonou.

E agora, olha só que ironia da vida: aqueles mesmos treinadores que antes matavam e morriam pra me ter como lutador, fechavam as portas de suas academias em minha cara. A vida é realmente uma filha da puta.

- Algum sucesso nas suas buscas? - minha mãe questionou ao me ver entrando em casa -

Pelo meu semblante de decepcionado ela já sabia a resposta para aquela pergunta. Mas, obviamente, ela tinha que me cutucar.

- Não. - respondi, impaciente - Você e o Tony se certificaram que nenhum treinador me aceitasse. Satisfeitos?

- Na verdade, sim. - ela respondeu - Estou muito satisfeita. Prefiro ter você vivo, mas infeliz, do que morto. Prefiro que você viva toda a sua vida se perguntando como seria o seu futuro como lutador do que ter que te enterrar ao lado do seu pai no mausoléu da família.

- Pois eu prefiro tomar o meu lugar no mausoléu da família e ser enterrado ao lado do meu pai do que passar a vida toda trabalhando na oficina da garagem como ele. - informei, subindo as escadas -

Entrei no meu quarto e joguei minha mochila no chão. Passei as mãos pelos cabelos e andei a passos largos de um lado para o outro. Eu precisava pensar em algo. Precisava de uma alternativa. Aquele não seria o meu fim. Não mesmo.

Eu não aceitaria viver condenado daquela maneira. Naquele momento, nada mais na minha vida me importava quanto a luta. E eu não ligava se podia morrer ou se minha mãe me odiaria pro resto da minha vida. Eu realmente não ligava, porque eu precisava fazer aquilo. Não só por mim, mas também pela minha família.

Por mais que minha mãe não entendesse, eu precisava fazer isso, e precisava fazer isso por ela. Pela Emma. Eu não aceitaria vê-las viver daquela maneira pra sempre. Não aceitaria ver a Emma perder grandes oportunidades na vida por falta de dinheiro.

Eu estava obstinado e faria o que fosse preciso pra conseguir o meu objetivo. E se eu precisasse sair da cidade, do país ou até da porra do planeta terra pra conseguir subir em um ringue e lutar profissionalmente, eu sairia. E nada nem ninguém ficaria no meu caminho ou me impediria de cumprir o meu destino.

Se eu não encontraria nenhum treinador em Los Angeles, estava na hora de abrir meus horizontes e de começar a procurar em outro lugar. Peguei meu celular no bolso e localizei um número salvo há alguns meses na minha agenda. O DDD era de Atlanta, que ficava a mais de três mil quilômetros de Los Angeles.

Robert Williams - ou Bobby, como era popularmente chamado - era um treinador casca grossa, sem qualquer escrúpulos, que havia demonstrado interesse em me treinar quando nos conhecemos nos regionais do ano passado. Ele e o Tony eram velhos inimigos, pois o Tony não concordava com seus métodos de treinamento, um tanto quanto duros e severos. Mas se eu tinha certeza de que havia algum treinador no planeta que não hesitaria em me aceitar por causa do Tony, seria ele.

Ele era minha opção. Ele era a minha carta na manga.

Disquei o número na esperança de que ele me atendesse.

- Alô? - ouvi ele dizer do outro da linha -

Eu sorri.

Ora, o Tony dizia que a luta só acabava ao soar do gongo. Ainda não ouvimos o gongo, certo?

Proibida Pra MimOnde histórias criam vida. Descubra agora