CAPÍTULO 86

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LUKE

Quando cheguei na academia, o local ainda estava um pouco vazio, visto que era cedo da manhã de um sábado. Avisei o Tony concentrado enquanto ajudava o Jason White a alongar as pernas, e coloquei minha mochila em um dos bancos.

Tirei a bermuda que vestia, ficando apenas com os shorts folgados que eu usava por baixo. Senti meu ombro repuxar um pouco quando estiquei os braços para amarrar os cadarços dos meus tênis, e fiz uma leve rotação para aliviar a dor no local. Finalmente, quando eu estava amarrando as bandagens nas mãos, me preparando para subir no ringue, o Tony notou minha presença no local e veio até mim.

- O que você está fazendo? - ele indagou num tom levemente impaciente -

- Colocando minhas bandagens. - falei, explicando o óbvio -

- Não, não está. - ele puxou as bandagens de minhas mãos, fazendo-as desenrolar dos meus punhos -

- Mas o que...

- Você está completamente maluco se acha que vou permitir que você suba nesse ringue. - ele avisou -

- Minha mãe falou com você, não foi? - eu deduzi -

Ele assentiu em silêncio, deixando transparecer um olhar preocupado.

O Tony era o cara mais durão que eu conhecia. Ele sabia exatamente como me fazer sofrer nos treinamentos e sempre me pressionava, sem descanso, até que eu lhe desse o melhor de mim.

Só que debaixo daquela casca dele, existia um cara reservado, que mal falava de sua vida pessoal e que parecia ter muitos problemas internos pra lidar. Nós dois éramos muito parecidos neste aspecto, e talvez, por isso, nos déssemos tão bem como aluno e treinador.

Mas o Tony sempre priorizava a saúde de seus alunos. Ele era, acima de tudo, um cara íntegro, honesto e cuidadoso. Ele não se importava com o dinheiro da mensalidade nem com os troféus que seus alunos poderiam ganhar se isso colocasse em risco a vida deles. E não sei porque pensei que seria diferente comigo.

Eu só esperava que minha mãe não tivesse dito nada pra ele e me deixasse treinar em paz. Mas também fui ingênuo de pensar que ela assistiria de braços cruzados eu arriscar minha vida a cada vez que colocasse meus pés num ringue.

O Tony era o mais próximo da figura de um pai que eu tive nos últimos anos e minha mãe estava usando disso para tentar me fazer mudar de idéia. E mesmo sabendo que nossa relação deveria ser estritamente profissional, nós dois sabíamos que ia além disso. Eu o considerava um pai e ele me considerava um filho.  E embora não falássemos nunca sobre isso, o sentimento de admiração - um pelo outro - estava ali, sempre presente.

Talvez fossem as nossas histórias de vida parecidas que nos aproximassem, embora eu não soubesse exatamente a história dele. Mas parecia que eu e ele tínhamos muito mais em comum do que o amor pela luta. Parecia que travávamos batalhas internas contra os mesmos demônios.

- Sinto muito. - ele falou num tom mais calmo - Sei o quanto você queria continuar lutando. Sei que esse era o seu sonho. O nosso sonho, afinal, sonhamos juntos. Mas não posso permitir que faça isso, filho.

Eu abaixei a cabeça, sentindo meus olhos marejarem novamente. Não ousei derramar uma lágrima, apesar disso.

- Isso é tudo que eu tenho, Tony. - expliquei - Preciso lutar. Esse sempre foi plano, lembra?

Proibida Pra MimOnde histórias criam vida. Descubra agora