A PROMESSA DE JOHN GREY
Brianna queria ter se despedido de Archie MacAdam — havia muito o que agradecer, afinal —, mas acabara tão absorta no conteúdo das cartas que Jamie havia escrito para a irmã que nem prestou atenção quando ouviu o amigo atiçando o cavalo da família e partindo com sua carroça pelo caminho tortuoso que haviam acabado de fazer até Lallybroch. Sua tia Jenny a deixara sozinha com as cartas, provavelmente imaginando que ela precisaria de um tempo para processar aquele momento. Todos ali possuíam uma enxurrada de informações novas com as quais lidar e ninguém parecia saber muito bem por onde começar.
Distraidamente, Brianna deslizou os dedos pelas palavras que Jamie Fraser havia escrito no papel grosso. Sua pele mal encostava na superfície áspera, mas ela, de alguma forma, sentia um arrepio estranho levantar os cabelos na sua nuca. Seu pai era real, assim como seus tios e primos. Claire lhe contara tanta histórias sobre Jamie que Brianna já deveria estar acostumada com os traços de sua personalidade, seus trejeitos e até sua aparência, mesmo que um ainda não conhecesse o outro. Entretanto, o forte e bondoso guerreiro escocês com quem sua mãe se casara mais de vinte anos antes não passava de um personagem fictício na mente de Brianna, uma miragem criada com base nos relatos contados por uma mulher apaixonada. Ler suas palavras, ver os pontos onde a caneta fluía com mais leveza e, quando os relatos eram mais tensos, onde o papel ficara marcado com a força que lhe fora aplicada, era um pouco sufocante.
— O que será que você vai escrever sobre mim quando nos conhecermos?
— Vai escrever sobre sua beleza — a voz de Jenny sob a soleira da porta fez Brianna se sobressaltar. — Sobre a cor dos seus cabelos sob a luz do sol e a forma como você sorri quando ele diz alguma coisa estúpida. Vai escrever sobre sua inteligência e sobre sua personalidade forte. "Ela é uma Fraser, de dentro para fora." Jamie é um homem observador, a leannan, e muito amoroso.
— Queria tê-lo conhecido antes — confessou Brianna, sentindo-se imensamente culpada ao pensar em Frank. Sentiu as lágrimas voltarem a queimar atrás dos seus olhos, deturpando sua visão. — Mas eu... eu não podia... eu não...
Jenny se aproximou, sentando-se na cama ao lado da sobrinha. Passou os braços ao redor do corpo esguio de Brianna e a apertou com força. A jovem retribuiu o gesto, sentindo o cheiro de sabão nas roupas da tia.
— Sua mãe achava que ele morrera em Culloden, eu sei — sussurrou Jenny, acariciando as costas da jovem.
Brianna não respondeu, apenas deixou o abraço desatar os nós que vinham segurando seus músculos desde o instante em que decidira abandonar sua vida no século XX para se lançar em uma missão extremamente perigosa em um século que ela não conhecia.
— Sempre sonhei com o dia em que Jamie teria seus próprios filhos — admitiu a tia, afastando-se um pouco para olhar o rosto da sobrinha. Seus dedos percorreram o rosto de Brianna, contornando suas feições e os ossos sob a pele. — Nada me daria mais alegria do que vê-lo carregando um bebê nos braços. Educando-o e ensinando-o tudo o que um pai deve ensinar a um filho. Deus sabe o quanto eu rezei para que ele conseguisse isso depois que Claire desapareceu e ele voltou de Culloden — Brianna imaginou que Jenny devia ter sentido a tensão em sua postura, pois a mulher logo acrescentou: — Jamie queria acreditar que Claire havia morrido. Ele nunca tocou no nome dela até o dia em que eles voltaram juntos para casa, dois anos atrás.
— Mamãe também não — murmurou Brianna, fungando levemente. — Ela achava que Jamie havia morrido e era doloroso demais para ela falar sobre o assunto. Eu não soube de sua existência até alguns anos atrás quando ela... — impediu-se de imediato, piscando algumas vezes ao lembrar da viagem para a Escócia. As lembranças vagaram em direção às tardes que passara com Roger nos intervalos da pesquisa atrás do escocês que vivera duzentos anos no passado. Brianna empurrou essa memória para debaixo do tapete em seu cérebro e se aprumou na cama. — Quando ela descobriu que ele estava trabalhando em uma gráfica em Edimburgo, sob o pseudônimo de A. Malcolm.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Canções de um incendiário
Historical Fiction✧・゚OUTLANDER AU ✧・゚ "When I was a child, I'd sit for hours Staring into open flame Something in it had a power Could barely tear my eyes away" Dois anos após a dolorosa despedida que a separou da mãe, Brianna Randall faz uma descoberta sobre o futur...