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NO MEIO DO CAMINHO HAVIA UM CORPO

Fraser's Ridge, Carolina do Norte

A vida na cordilheira era muito mais simples do que Brianna poderia sonhar. Havia muito o que se fazer, isso era indubitável, mas a sensação de tranquilidade e de paz que se alastrava pelo seu corpo era tão tangível que quase a fez se sentir sufocada quando chegara ao refúgio construído pelos pais. Fazia três semanas desde que chegara e, apesar do choque e timidez inicial, sua relação com Jamie Fraser estava infinitas vezes menos tensa.

Fora um choque, tanto para Brianna quanto para os pais, quando ela e Lizzie chegaram à cavalo na clareira em que a cabana de madeira se encontrava. Bree desejava secretamente poder encontrar a mãe primeiro para que tivesse ajuda e suporte quando finalmente fosse conhecer o gigante ruivo que lhe concebera mais de vinte anos antes, durante o prelúdio da Batalha de Culloden. Todavia, as jovens foram recebidas por um burro extremamente escandaloso que anunciou a presença delas como um arauto extremamente inconveniente.

— Quem precisa de campainha, não é mesmo? — Brianna se lembrou de ter murmurado antes que a figura alta e forte como um touro aparecesse pela porta, calçando uma das botas apressadamente enquanto praguejava em uma língua que Brianna acreditava ser gaélico.

Já fazia um tempo desde que Bree analisara seu reflexo em um espelho, mas conhecia os traços do seu rosto muito bem para sentir o ar ficar preso na garganta quando o guerreiro escocês se aproximou, com o kilt oscilando com a mesma brisa morna que fazia as mechas soltas do cabelo de Brianna chicotearem-lhe as faces.

— Bom dia — cumprimentou o homem e a jovem sorriu ao ouvir sua voz. Não era como ela havia imaginado, mas, de alguma forma, parecia combinar perfeitamente com ele.

Lizzie soltou um ganido como um cachorro cuja pata acabara de ser pisada e se encolheu ao lado de Brianna. Jamie Fraser as estudara com certa cautela e curiosidade, visivelmente preocupado com a falta de resposta.

— O que querem aqui, moças? — perguntou ele, olhando para a floresta atrás delas como se esperasse uma emboscada a qualquer momento.

Brianna abriu a boca para lhe dar uma resposta, mas todas as palavras que conheciam pareceram fugir-lhe tão rapidamente que ela hesitou por alguns segundos, tentando desesperadamente encontrar algo para dizer.

— Você — sussurrara, fazendo as sobrancelhas do homem se arquearem.

— Perdão, mas sou um homem casado — disse Jamie, ameaçando dar um passo para trás.

Sem pensar duas vezes, Brianna deslizou para o chão com o máximo de graciosidade que suas inúmeras anáguas permitiam, fazendo seu cavalo relinchar em forma de protesto.

— Eu falo sério — disse, parecendo surpreso ao vê-la de pé na frente dele. Brianna era tão alta que Jamie Fraser pareceu perder o fio da meada por um breve instante. — Eu tenho uma esposa. Ela foi fazer um parto e voltará em breve.

Mamãe, pensou Bree, com os olhos se enchendo de lágrimas. Ela o havia encontrado! Ambas o haviam encontrado!

— Você é... — começara ela, a voz falando antes que pudesse terminar a frase. Meu Deus, é óbvio que é ele! — Você é Jamie Fraser, não é?

A suspeita voltou a tomar a expressão do escocês e Brianna sentiu uma vontade inesperada de rir. Ele achava que ela era alguma ameaça? Alguma isca libidinosa de um inimigo que ele tinha?

— Sou — respondeu, olhando para Lizzie e então para os lados novamente. — Quem quer saber? Você tem uma mensagem para mim, moça?

Brianna sorriu e as lágrimas escorreram pelas maçãs do rosto, deixando um rastro quente e úmido até o queixo.

Canções de um incendiárioOnde histórias criam vida. Descubra agora