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STEPHEN BONNET

*AVISO DE GATILHO: Violência, insinuação de estupro*

Brianna não costumava falar palavrão. O impulso que a fez blasfemar tão horrendamente fora o mesmo que a fizera colocar a mão sobre a barriga inchada, tentando desesperadamente proteger alguém que ela não podia tocar. Suas veias se encheram de pavor, fazendo o sangue congelar repentinamente e deslizar com dificuldade pelas suas artérias. O que aconteceria com o bebê se sua pressão arterial subisse ainda mais?

— Maldição, mamãe — preguejou ela, andando de um lado para o outro enquanto esperava Jamesina voltar com Charles Morrison. — Onde você está?

Jamie e Claire haviam partido para Fraser's Ridge com o intuito de preparar a cordilheira para a ausência deles quando fosse se hospedar em Mount Josiah durante o inverno para fazer companhia à filha. Brianna havia feito todos os exames disponíveis no século XVIII e sabia que continuaria grávida por pelo menos mais uma semana, talvez até mais — somente essa certeza fora capaz de convencer sua mãe a deixá-la por algumas semanas. Todavia, um parto surpresa era o menor dos seus problemas. Seus pais provavelmente já estavam a caminho da Virgínia, mas ainda não estavam minimamente perto para orientá-la sobre que fazer.

— Maldito orgulho masculino — continuou ela, sem ar. — Eu disse para você enviar uma maldita carta, mas seu maldito senso de honra o enfiou nessa maldita confusão e agora eu não sei o que fazer com esse maldito pedido de resgate!

Ela amassou o papel em suas mão com mais força, perguntando-se onde diabos Jamesina havia se enfiado. As letras no envelope eram floreadas, ainda que bastante tortas, e a breve mensagem parecia ter sido escrita às pressas e com muita dificuldade. A tinta estava borrada em vários pontos, como se a mão segurando a pena estivesse pesada demais para sustentar o próprio peso. Independente disso, ela reconheceu a caligrafia de John.

— Sra. Bree — sr. Morrison apareceu pela porta, com uma Jamesina bastante assustada logo ao seu encalço. — O que aconteceu?

— Feche a porta — ordenou ela, decidindo se agarrar à fúria incoerente ao invés do medo sufocante. Só falou novamente quando seu comando fora obedecido. — John está em perigo. Preciso que você reúna dez mil libras e enviei para Petersburg em quatro dias.

Sr. Morrison a encarou como se ela tivesse acabado de sugerir que ele criasse asas e cacarejasse.

— O que você está esperando? — grunhiu Brianna, despejando o conteúdo do envelope aos pés do homem. — Eles vão matá-lo!

O chefe da contabilidade assistiu os fios de cabelo deslizarem lentamente em direção ao assoalho de madeira, erguendo-os para a encarar logo em seguida.

— Acalme-se, criança — disse ele, secamente. — Precisamos pensar bem antes de agir.

— Não temos tempo!

— Nem dinheiro — o coração de Brianna afundou em direção ao estômago e ela precisou se apoiar em uma poltrona. Jamesina se aproximou apressadamente, pálida como leite azedo, segurando sua senhora pelo cotovelo.

— Sra. Bree? A senhora quer se sentar? — perguntou a criada, a voz trêmula e esganiçada.

— Não. Obrigada, Jamesina — seus olhos continuavam fixos em Morrison. — O que você quer dizer com isso? Como assim nós não temos dinheiro?

O homem suspirou, parecendo precisar reunir paciência antes de responder.

— Lorde John chegou à América há pouco tempo — explicou ele. — Ele me encarregou de entrar em contato com o banco de Londres para enviar uma quantia de dinheiro para cá. Contudo, esse processo é mais demorado do que vocês, jovens imediatistas, podem entender e levará meses até que você veja um centavo sequer. Nós temos dinheiro, sim, mas essa quantia vem da plantação e não é nem de longe suficiente para atender as exigências desses bandidos.

Canções de um incendiárioOnde histórias criam vida. Descubra agora