BRIANNA FRASER GREY
A noite de núpcias havia sido a parte fácil. Fizeram sexo — Brianna podia ser jovem, mas não era tola para chamar aquilo de amor; não tão cedo, de qualquer forma — mais de uma vez, indo dormir apenas quando o brilho rosáceo do amanhecer surgiu nos céus, afugentando os tentáculos negros da escuridão com seus raios de luz preguiçosos. Ela testemunhou, lânguida e satisfeita, os primeiros raios de sol invadirem os aposentos de John — seus aposentos, ela se corrigiu —, resplandecendo e emanando vida por todo o cômodo.
As persianas estavam abertas e a noite havia sido agradável, com uma brisa fresca e revigorante que fazera as peles suadas e afogueadas deles se arrepiarem enquanto se conectavam da forma mais primitiva que existia. Agora, com o nascer do sol, um vento morno soprava pelo interior do quarto, fazendo-a querer afundar ainda mais nos travesseiros de penas de ganso que eram infinitamente mais confortáveis que os que ela usara na cordilheira.
Seus cabelos estavam esparramados pela fronha branca, parecendo labaredas brilhando contra a luz do sol. Ela estava cansada e com os músculos das pernas e dos braços doloridos, fazendo-a se sentir desconectada com o próprio corpo. Brianna visitara uma cartomante uma vez em Boston com as amigas da faculdade. Fora uma experiência engraçada, apesar de nada esclarecedora. A mulher, Madame Quinn, como era chamada, explicara para uma das amigas de Bree, Juliet, que os sonhos vívidos que ela vinha tendo eram causados por projeções astrais. Segundo a charlatã, o espírito de Juliet Watson se desprendia do corpo durante a noite e vagava por aí, retornando quando o sol ameaçava surgir. Depois de uma noite com o galante lorde inglês, Brianna acreditava que havia experienciado a sensação em primeira mão.
Perscrutou os arabescos dourados que se espalhavam como teias de aranha muito bem desenhadas por todo o teto, tentando determinar um padrão que logo percebeu não existir. Aquilo a deixou curiosa e ela decidiu que o perguntaria assim que ele acordasse.
Quase que inconscientemente, levou os dedos até o meio das pernas e sentiu os resquícios dele, seco e estranho ao toque, na parte interna das coxas. Sentiu também os lábios inchados e um pouco doloridos, contorcendo-se de leve ao ser invadida pela enxurrada de lembranças da noite anterior. John era um homem mais velho e experiente, como ela bem sabia. Recordava-se dele ter mencionado algo sobre já ter se deitado tanto com homens quanto mulheres e agradeceu mentalmente pelo serviço que todos os amantes que ele já tivera haviam lhe prestado. Ele, de fato, sabia muito bem o que estava fazendo.
Ouviu um ronco suave enquanto John — seu marido — se ajustava no travesseiro e logo a respiração dele se normalizou, permitindo-a voltar ao estado de felicidade e satisfação contemplativa em que ela estivera instantes antes. De costas para os primeiros raios de sol da manhã, o rosto de John ficava parcialmente escondido pelas sombras e Brianna sentiu o coração acelerar e os dedos se fecharem ao redor de um lápis imaginário. Aquilo sempre acontecia quando ela encontrava algo que a fizesse querer desenhar desesperadamente. Empurrou o estupor e a rigidez dos músculos e deslizou para o chão com o máximo de delicadeza que conseguiu. A casa já havia despertado havia algum tempo, mas ela sabia que ninguém viria incomodá-los ali.
O fogo da lareira tinha sido reduzido a cinzas durante a noite, mas havia alguns pedaços grandes de carvão que Brianna se esticou para pegar. Uma voz cheia de pudor e timidez em sua cabeça gritava para que ela se vestisse, mas ela ignorou aquele pensamento e apenas jogou um robe de seda clara por cima dos ombros. Encontrar uma folha de papel não foi difícil ali; John tinha uma escrivaninha abarrotada de envelopes, cartas e livros.
Ela atravessou o quarto, o coração ficando acelerado toda vez que uma tábua rangia, e sentou-se em uma das poltronas que ficavam sobre as diversas janelas. Seus dedos começaram a trabalhar, reconhecendo os traços familiares que ela já rabiscara uma vez. O som do carvão arranhando o papel era reconfortante e íntimo; terapêutico até.
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Canções de um incendiário
Ficción histórica✧・゚OUTLANDER AU ✧・゚ "When I was a child, I'd sit for hours Staring into open flame Something in it had a power Could barely tear my eyes away" Dois anos após a dolorosa despedida que a separou da mãe, Brianna Randall faz uma descoberta sobre o futur...