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MEA MAXIMA CULPA


Os dedos de Brianna seguravam a xícara com força; longos, delicados, pálidos, trêmulos e com algumas manchas esquecidas de sangue que há muito havia secado. Ela já deveria ter parado de tremer — estava aquecida e alimentada. A mãe a havia examinado e, depois de alguns minutos angustiantes, disse que estava tudo bem com ela e com o bebê. Sangramentos, ela dissera, eram normais depois do sexo ou em momentos de estresse. Ainda assim, a jovem não conseguia afastar a sensação de temor que percorria todo o seu corpo, fazendo-a esquecer o chá da camomila que ela segurava até ele ficar gelado.

O bebê se ajeitou no seu ventre e ela ficou surpresa ao perceber que o movimento lhe trouxera lágrimas aos olhos. A gravidez fora um acidente, mas ela não suportaria dizer adeus ao pequeno intruso cuja companhia ela aprendera a apreciar.

— Você me deu um baita susto, sabia? — sussurrou ela, a voz soando rouca e estranha até mesmo para os seus ouvidos. Colocou a xícara com o chá intocado na mesinha ao seu lado e pousou ambas as mãos cuidadosamente sobre a barriga protuberante. — Você e o seu... bem, o seu pais.

Sem obter uma resposta, ela continuou.

— É complicado, eu sei, mas você é um Fraser e eu acho que não dá para ficar mais complicado que isso — murmurou, sem conseguir evitar o sorriso amarelo que surgiu no seu rosto. — Espero que um dia você me perdoe por fazer você ser uma daquelas crianças com pais divorciados. Eu nunca quis ser uma delas, mas agora eu entendo. — O pequeno movimento sob as palmas da sua mão a encorajaram a prosseguir com o desabafo e, sem que Brianna percebesse, a conversa com seu filho que ainda não nascera começara a tranquilizá-la. — Existem casamentos por obrigação; sua avó e seu avô Frank eram casados por obrigação. O único vínculo verdadeiro deles era a filha que compartilhavam. Já o casamento da vovó com o vovô Jamie é cheio de amor. Espero que você possa se casar por amor, seja com quem for.

Brianna ergueu os olhos, esquadrinhando o quarto em direção à cama de John. Ela fizera amor com ele ali várias vezes desde o dia em que se casaram. John não possuía nenhuma obrigação para com ela ou a criança que ela estava gerando, mas concordara com aquele plano mirabolante que ela lhe propora aquele dia à bordo do navio. Ela sabia que se apaixonaria por ele, não poderia ser diferente. Temia, entretanto, que ele fosse incapaz de se apaixonar por ela.

— Eu amei o seu pai — admitiu Bree, suspirando pesadamente. — Roger é um bom homem e eu lhe direi isso quando você for velho o suficiente para entender. Eu o perdoei por ter mentido e omitido, mas nunca poderia confiar nele novamente.

O fogo da lareira estalou, emanando sua onda de calor por todo o cômodo. Apesar da atmosfera aconchegante, o sentimento de preocupação ainda borbulhava no estômago dela. Claire havia se retirado para ver como John estava e nenhum deles havia voltado ainda.

— Seu outro pai... John — sua voz estava tão baixa que era quase inaudível. — Ele vai amar você, eu sei que vai. E você vai amá-lo, é impossível não amar. Meu Deus, se você for um menino vocês serão insuportáveis juntos! — apesar da imagem em sua mente não ser da mais calmas, ela sorriu. — Espero que ele possa me amar também. Que droga, eu quero que ele me ame também.

O som da porta abrindo fez o coração de Brianna quase sair pela sua garganta.

John estava acabado. Os cabelos estavam soltos e emaranhados, o olho esquerdo estava inchado e roxo. Apesar dos hematomas e do lábio cortado e inchado, ele parecia bem.

— Graças à Deus você está bem! — disse ela, levantando-se e correndo na direção dele. — Eu sinto muito! Eu não fazia ideia de que ele havia me seguido até aqui. Ele não tinha o direito de machucar você.

Canções de um incendiárioOnde histórias criam vida. Descubra agora