Canções de um incendiário

EPÍLOGO II

OCRACOKE

1º de maio, 1786

Jeremiah Grey conseguia ouvir o rugido das pedras; a fúria por trás dos inúmeros anos de história por trás do véu do tempo. Ele sempre ouvira as vozes, desde muito pequeno, mesmo que nunca tivesse visto um círculo como aquele. Elas não o chamavam em uníssono, não. Algumas cantavam, outras gritavam, mas todas pareciam querer a mesma coisa dele. Daquela vez, entretanto, Jemmy sabia que tinha uma escolha diante de si. Ele podia atender ao chamado das pedras, ou passar o resto de sua vida se perguntando o que elas queriam lhe mostrar.

Ele sabia que havia nascido em um incêndio, seus pais haviam lhe contado aquela história inúmeras vezes. Quando ele era mais novo, ele costumava ficar sentado observando as chamas por horas, tentando decifrar o motivo por trás de tanto poder. Tudo o que ele tinha, naquele momento, era a chama dentro de si e a certeza de que ele precisava chegar em algum lugar. As vozes, infinitas vezes mais altas enquanto ele se aproximava do círculo, pareciam reverberar pelos seus ossos, como se cada fibra do seu corpo também estivesse gritando. Ele sabia que, ali, não deveria tentar domar as vozes, mas seria tolo se não as mantivesse sob controle.

— Você consegue ouvir? — gritou ele, virando-se para Germain Fraser, que havia dito algo que ele não ouvira sob os gritos das pedras.

Seu primo o observou, parecendo bastante assustado, mas negou com a cabeça.

— Você tem certeza, primo? — seus lábios disseram, mesmo que nenhum som parecesse sair dele.

Jemmy assentiu, virando-se novamente para o círculo de pedras.

Ele tinha certeza. Quando ele era pequeno, achava que as vozes desapareciam quando ele fosse um homem. Agora, entretanto, ele entendia. Sua paz sempre dependeria das cinzas que ele deixaria pelo caminho. Ele viu a esmeralda em seu anel reluzir quando estendeu a mão para se agarrar ao seu futuro e o mundo explodiu ao seu redor. Tudo escureceu.