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PROPOSTAS, BOATOS E MAL-ENTENDIDOS

Capitão Stanford tinha razão, como John Grey ficara feliz em constatar. Depois de uma semana, ninguém mais fazia comentários indecentes sobre o que acontecia entre quatro paredes com ele e Brianna Fraser. Muito disso se devia ao fato de que Brianna o evitou pelas três semanas que se seguiram, praticamente desaparecendo sempre que seus caminhos se cruzavam. Se devido aos rumores ou ao que ela ouvira naquele dia em sua cabine, ele não sabia dizer. A tempestade sumira há muito tempo e o sol quente fazia várias pessoas, tanto marinheiros quanto passageiros se aventurarem no convés de vez em quando, para tomar um pouco de sol e aproveitar o ar fresco.

John passou por um grupo de mulheres conversando sobre seus ciclos menstruais e afastou-se quase imediatamente, temendo que elas pudessem achá-lo intrometido.

— Tenho certeza de que ela está grávida. Nenhum ciclo é tão irregular assim — dissera uma das mulheres, fazendo as outras resmungarem em desaprovação. — E vocês não vão acreditar no que Margaret encontrou nas roupas dela.

Grey as ignorou e se apoiou na amurada, sentindo a brisa quente contra o rosto. Isobel adorava dias assim, pensou ele. Fazia alguns meses desde que a esposa morrera, mas ele ainda pensava nela às vezes, com carinho e respeito. Sentia falta de Willie, mas sabia que tinha tomado a decisão correta. Levá-lo para as Colônias iria ser bom para tirar sua mente da morte da mãe e assim eles poderiam resolver o assunto da propriedade na Virgínia. E ver Jamie, sussurrou uma vozinha indesejada na sua cabeça. O encontro com Jamie Fraser era inevitável já que John precisava se assegurar de que Brianna chegaria a salvo em Fraser's Ridge.

Ficou ali por mais um tempo, apreciando o calor do sol que começava a esquentar suas roupas e aquecê-lo por inteiro. O ritmo das ondas batendo contra o navio era muito mais tolerável do que fora durante a tempestade e John sentia a preguiça tomar conta de todo o seu corpo. O café da manhã pesou em seu estômago, fazendo-o bocejar de leve enquanto observava o horizonte.

Quando finalmente deu-se por satisfeito, caminhou novamente para sua cabine enquanto cumprimentava alguns passageiros e marinheiros. Estava quase com pé no primeiro degrau para descer as escadas quando ouviu uma voz feminina fazendo um comentário que chamou-lhe a atenção.

— Eu não me importaria de ficar se conseguir andar por uns dias se isso significasse poder cavalgar em Sua Senhoria.

— Imagine morder aquela marca de nascença, tão perto do coração.

John congelou, com o pé parado no ar, a centímetros de tocar o degrau. Seus dedos imediatamente tocaram sua marca de nascença na lateral direita do corpo — nas costelas a dois dedos da linha do mamilo — sobre o casaco. Elas não poderiam estar falando dele, poderiam?

As mulheres eram as mesmas de outrora e estavam reunidas como abutres ao redor de um pedaço pútrido de carne. Cochichavam entre si e não perceberam quando John se aproximou o suficiente para vê-las segurando um retrato seu. O desenho parecia tão real que ele ficou assustado por um segundo, mas logo a surpresa se transformou em fúria. Sua mão agiu como se tivesse vida própria, como se fosse uma serpente dando um bote certeiro na direção do desenho.

As mulheres deram um pulo e se viraram para John, assustadas e envergonhadas. Muitas desviaram o olhar, mas algumas pareciam estáticas demais para fazê-lo.

— Quem mais viu esse desenho? — perguntou, quase engasgado de raiva.

— N-ninguém, senhor — murmurou uma das mulheres, quando nenhuma outra se prontificou a respondê-lo. — Acabamos de achá-lo nas saias da...

— Elsbeth — censurou a mais velha entre elas e a jovem logo se calou.

— Nas saias de quem? — sibilou John, resistindo ao impulso de estrangular uma por uma. Aquilo era um afronte sem tamanho a sua dignidade.

Canções de um incendiárioOnde histórias criam vida. Descubra agora