RESGATE
O envelope com os cabelos de John havia chego no nono dia desde que ele partira para Nova York. Brianna estava em uma das salas de visitas; suas tintas e pincéis espalhadas em um pequeno aparador que um dos criados a ajudou a arrastar para mais perto da janela. A tela em que trabalhava já mostrava traços da árvore sob a qual ela e John faziam amor quando foram rudemente interrompidos por Roger. Seus dedos se agitaram, traçando linhas invisíveis diante dela enquanto sua imaginação reinventava a cena que ela via através da janela. Passos apressados contra o assoalho de madeira a fizeram abrir os olhos e Jamesina passou como um furacão pelas portas duplas, pálida como um se tivesse acabado de ver um fantasma.
Brianna, irritada pela presença petulante de Manoke e desesperada para que o ser humano no seu ventre saísse logo de dentro dela, emitiu um grunhido de irritação por ter seu momento de contemplação interrompido de forma tão repentina e seu aborrecimento só não se intensificou porque ela conseguiu ver o pavor no semblante da jovem, que tremia dos pés à cabeça e estava tão pálida que parecia prestes a desmaiar a qualquer instante.
— Jamesina? — chamou Brianna, deixando o pincel que estava usando de lado e limpando a tinta verde que marchava os seus dedos no avental encardido que carregava ao redor da cintura. — O que aconteceu, querida?
A criada abriu a boca e a fechou logo em seguida, parecendo um peixe recém pescado. Seus olhos estavam tão arregalados que pareciam prestes a saltar das suas órbitas e rolar pelo piso de madeira.
— Aconteceu alguma coisa com Willie? — o sentimento de preocupação rastejou pelo peito dela, envolvendo seu coração como uma sombra gelada e sufocante. Ela se levantou, segurando as saias e anáguas volumosas com os braços para correr na direção do problema.
Sem esperar por uma resposta, Brianna já havia começado a se afastar para correr até os estábulos, onde ela sabia que o meio-irmão estava cuidando do cavalo que John lhe dera no seu décimo aniversário quando, Jamesina a segurou pelo pulso, fazendo-a se virar para encarar o olhar amedrontado da jovem.
— S-Sua Senhoria — gaguejou ela, entregando um envelope aberto.
Ela estava prestes a dar um sermão sobre invasão de privacidade e como não era educado abrir as cartas destinadas a outras pessoas quanto os dedos trêmulos de Jamesina derrubaram o envelope, fazendo uma chuva de fios castanho-claros flutuar no ar e se amontoar no chão em chumaços de — Brianna percebeu com um arfar engasgado — cabelo humano.
— O que diabos é isso? — perguntou ela, franzindo o cenho e ignorando o ganido desesperado que a criada emitiu diante da blasfêmia. Seu coração retumbou contra sua caixa torácica enquanto inúmeras possibilidades apavorantes corriam sem rumo pela sua mente. — Me diga que isso é crina de cavalo.
Brianna sabia muito bem que algumas tribos de nativo-americanas eram particularmente aficionadas à escalpos e seus olhos foram imediatamente na direção da cozinha. Os comentários ácidos e insinuações de Manoke sobre o passado libidinoso de seu marido a irritavam profundamente, mas ela nunca sentiu que ele fosse uma ameaça para ela ou o bebê. Ela direcionou o olhar para os chumaços de cabelo novamente, reprimindo um suspiro de alívio ao perceber que nenhum pedaço de couro cabeludo ensanguentado manchava o tapete. Curvando-se com dificuldade por causa da imensa barriga, Brianna pegou o envelope e mais um chumaço caiu em direção ao chão, deixando um rastro de fios soltos flutuando lentamente até se juntarem com os outros. Junto com os fios, um anel rolou pelo assoalho, parando ao redor dos montes de cabelo. Seus dedos pegaram o pequeno objeto dourado e ela arfou, cobrindo os lábios com as costas da mão que segurava o papel. O anel estava um pouco sujo com resquícios de cera vermelha, mas ela reconheceu o símbolo de John.
Não havia nenhuma carta dentro do envelope, nem mesmo um bilhete. Ela estava prestes a amassá-la em desespero quando letras cursivas e mal feitas chamaram sua atenção. Para a sra. Grey, era a primeira linha. As palavras haviam sido escritas às pressas com uma tinta vermelha que se assemelhava muito à sangue. Brianna conteve o impulso de se encolher e todos os pelos do corpo se arrepiaram, enviando uma onda desagradável pela sua espinha.
— Dez mil libras — leu ela em voz alta. — Petersburg. Quatro dias. Fale com o xerife e a próxima parte que enviaremos fará bastante falta para a senhora.
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Canções de um incendiário
Ficción histórica✧・゚OUTLANDER AU ✧・゚ "When I was a child, I'd sit for hours Staring into open flame Something in it had a power Could barely tear my eyes away" Dois anos após a dolorosa despedida que a separou da mãe, Brianna Randall faz uma descoberta sobre o futur...