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BENEFÍCIO MÚTUO

— Eu tenho certeza que não foi isso que o seu pai quis dizer quando me fez prometer tomar conta da família dele — replicou John, sem se importar em tentar esconder sua descrença.

— Eu sei — murmurou Brianna, impaciente. — Mas, se eu não perguntasse, pelo bem do meu filho...

— Filho? — John se empertigou, apoiando as mãos na mesa de jantar abarrotada de livros e cartas. A expressão de Brianna Fraser se manteve impassível, deixando claro que ela não havia cometido um erro. John imediatamente se lembrou das mexeriqueiras no convés, falando sobre alguma jovem grávida no navio e seus nervos se inflamaram. — Brianna, alguém te machucou? Aqui no navio? Ou talvez aquele rapaz, MacAdam?

A jovem pareceu confusa por um instante e então pareceu entender o que causara a ira do homem.

— O qu-? Não! Não. Eu não fui agredida, não.

— Então, essa criança foi gerada a partir de...

— Amor, acho que pode-se dizer que sim. Foi um acidente, mas houve consenso de ambas as partes.

Isso fez os ombros de John relaxarem um pouco, mas ele ainda estava irritado por algum motivo que não conseguia identificar.

— Você é filha do seu pai, isso é certo — praguejou ele, com o maxilar cerrado. Apesar de amar e idolatrar Jamie,era inegável que o guerreiro escocês tinha um talento perspicaz para tirar John do sério quando se colocava em situações perigosas para fazer algo estúpido por aquilo que acreditava ser o certo. Brianna Fraser parecia causar esse mesmo efeito nele.

— Eu não quero o seu dinheiro — garantiu a jovem, colocando a mão sobre a barriga enquanto falava. — Eu até assino um documento dizendo isso. Você nem teria que morar comigo! Apesar de ser uma boa ideia se eu fosse com você para a Virgínia, pelo menos por um tempo, depois que eu encontrar os meus pais.

John encarou-a, sem conseguir acreditar naquela situação. Hesitou por alguns instantes, tentando encontrar a forma apropriada de se expressar.

— Jamie é uma das pessoas que eu mais aprecio na Terra — começou ele. — E atraído por motivos que vão além da minha compreensão, mas... Eu não posso me casar com você.

Foi a vez de Brianna hesitar. Ela o olhou nos olhos pelo que pareceu ser uma eternidade, visivelmente lutando com as palavras. O barco inclinou um pouco para o lado, deslizando suavemente sobre as ondas. A jovem não se desequilibrou, mas ergueu o queixo e inflou o peito, pronta para um confronto que John não queria ter.

— Lorde John — disse Brianna, tão minada com falsa arrogância que ele teve que controlar o ímpeto de rir. — Se você recusar a minha oferta é com grande pesar que eu terei que revelar o que eu ouvi nessa cabine noites atrás.

— O que quer que você ache que ouviu, está enganada.

— Não. Eu sei o que eu ouvi — sua postura vacilou um pouco e John percebeu que ela estava desesperada. Seu coração, antes enrijecido pela ousadia, ameaçou titubear também. — E eu vou escrever cartas. Para o governador nas Colônias, o xerife...

— Sabendo do quão severa é a punição para esse crime, você faria isso? Minha vida estaria arruinada.

Brianna desviou o olhar, mas John não precisava de provas para saber que ela nunca faria aquilo. Apesar de desesperada, ela ainda era filha de Jamie e ele nunca destruiria uma vida inocente para salvar a própria pele.

— Então eu vou contar ao Jamie — tentou ela, lançando sua última cartada na tentativa de salvar sua reputação.

— Supondo que ele já não sabia.

Canções de um incendiárioOnde histórias criam vida. Descubra agora