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O PIRATA

A vida como senhora de Mount Josiah não era tão simples quanto Brianna achava. Fazia mais de uma semana desde que ela se casara com John Grey e se mudara com ele para a imensa plantação que ficava às margens do rio James em Richmond, Virgínia. Apesar de não contar com trabalho escravo, os criados que tomavam conta do casarão faziam de tudo para atender todas as necessidades da sua nova senhora e, mesmo contra sua vontade, ela entendeu que nada podia ser feito para mudar aquela situação.

Os Fraser da cordilheira ainda estavam ali, alguns mais confortáveis que outros. Os pais de Brianna — para o desespero da sra. Campbell — faziam tudo o que podiam para ajudar nas tarefas domésticas; consertar moinhos, costurar ferimentos, sovar o pão, arar a terra e até mesmo ajudar o jovem dono da propriedade a se livrar de sanguessugas. O Jovem Ian não poderia estar mais radiante, sendo paparicado como nunca fora antes. Uma das filhas de Adelaide Campbell se interessara pelo jovem e decidira conquistá-lo pelo estômago, o que Brianna reconhecera como uma tática muito inteligente se tratando do primo. Lizzie estava com uma pontadinha óbvia de ciúmes; Ian, como todo bom representante do gênero masculino, não percebia nada de diferente no comportamento da menina. Fergus, seu meio irmão, e sua cunhada, Marsali, estavam bastante confortáveis, ainda que em constante estado de exaustão graças ao pequeno Germain que, como todos os bebês, só sabia comer, dormir, chocar e sujar as fraldas. Haviam chegado um pouco depois do casamento, mas ficariam para o jantar que estava movimentado o condado.

— Eu realmente não acho que seja uma boa ideia, Bree — repetiu John, pela décima vez só naquela tarde. Como eram novos ali, John decidira que seria prudente convidar todas as pessoas mais influentes da região para apresentar-lhes não só sua nova esposa, mas também o novo senhor da plantação de Mount Josiah. Como ela era ridiculamente mais alta que a falecida Isobel, nenhum dos vestidos de festa da antiga dona da casa serviam em Brianna e por isso John decidira chamar uma costureira para vir até a residência lhe fazer algo apropriado para vestir.

— Eu sei — retorquiu Brianna, sem conseguir conter o impulso de revirar os olhos. — Mas eu realmente acho que preciso de um pouco de ar puro.

— É uma viagem de mais de duas horas para a cidade, não para o campo — respondeu ele secamente.

— Ora, ela está grávida, não invalida — Marsali, que também estava grávida do segundo filho, veio ao seu resgate. Ambas haviam se aproximado muito naquela semana. Bree nunca tivera uma irmã e estava adorando a sensação. — Não é uma viagem tão longa assim. Vai ficar tudo bem.

Estavam os quatro na sala de estar — Os Grey, Fergus e Marsali — conversando e rindo sob a luz alaranjada e bruxuleante da lareira. Já era bem tarde o único ruído que perturbava a quietude sepulcral da casa eram as vozes deles próprios e o estalar periódico da madeira se assentando.

— Eu sei — John levou a mão até as têmporas, seu maxilar trincado de frustração. — Só Deus sabe o quão teimosos e resilientes os Frasers conseguem ser.

Fergus riu, passando o gancho ao redor do seu copo e o levando até a boca.

— Foi uma péssima ideia ter colocado tantos de nós sob o mesmo teto, mon ami.

John emitiu um ruído de concordância que veio do fundo da sua garganta e Brianna colocou a mão casualmente sobre o seu joelho. Mesmo com a fina camada de tecido separando suas peles, o efeito do toque dela fez ele se empertigar e abrir os olhos. 

— Estou começando a desenvolver uma teoria — começou John, cobrindo a mão de Brianna com a dele. — De que a tenacidade dos Fraser não tem nada a ver com sangue e sim com uma ideologia.

Canções de um incendiárioOnde histórias criam vida. Descubra agora