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- O senhor está dizendo que o brinco da senhora Diana Monteiro estava em seu poder? - o delegado pergunta com notória desconfiança.

- É exatamente isso que estou dizendo. - Vicente responde, calmo.

- Vou chamar o escrivão para o seu depoimento. - o delegado continua. - Tem certeza que não quer esperar seu advogado?

- Absoluta. - o delegado assente e chama o escrivão. 

O depoimento de João Vicente Santiago começa.

***


- Por que você fez isso, Vicente? - pergunto assim que nos encaramos.

- Não se preocupe com isso. - suas mãos que antes me envolviam se afastam. - O Tadeu falou que um brinco não é uma prova consistente. Amanhã mesmo saio daqui.

- Se não é uma prova consistente como você diz, por que fez isso, então?

Ele fica calado.

- Vicente...

Vicente continua calado, relutante em falar, posso ver isso em seus olhos. Eu falo o nome dele novamente. Passa a mão pelo cabelo. Ele sempre faz isso quando está nervoso.

- Eu não podia deixar você passar a noite numa cadeia, Diana.

-Vicente... - meu coração comprime ainda mais de amor por esse homem falho. Por esse homem que me magoou tanto. O homem que eu nunca consegui arrancar de dentro de mim.

- Não se preocupe com isso, Diana. Nem se sinta em dívida comigo. Eu não fiz isso pra me redimir ou pra você me perdoar e voltar pra mim. Eu fiz isso porque a minha consciência gritou. Eu não podia deixar você aqui sabendo que a mãe do meu filho é inocente.

- Você também é. 

Ele dá um suspiro casado olhando pra baixo, querendo finalizar aquela conversa.

- Tudo bem. Não vou mais falar nisso. Obrigada. - ele, enfim,  me encara e eu sorrio levemente. - Por pensar em mim. Pelo seu cuidado. Pelo seu ato de amor.

- Diana, eu não fiz isso...

- Eu sei. - interrompo-o. - Eu não quero falar nisso agora. Nós não temos muito tempo. Eu só quero te beijar.

E sem esperar qualquer reação dele, minhas mãos envolveram seu pescoço e minha boca atacou a dele. Vicente correspondeu ao beijo. Suas mãos me puxaram para mais perto. Tão perto que me apertava a ponto de doer, mas eu jamais reclamaria. Nosso beijo foi faminto, apaixonado, necessitado, desesperado. Seu gosto se espalhou pela minha boca, seu cheiro se entranhou em mim. Acariciei sua barba, sua orelha, seu cabelo. Queria agarrá-lo mais se eu pudesse. Me apertar mais a ele pra garantir que aquele beijo era real. Que nós dois ali juntos era tudo real. Porque meu amor por ele sempre foi real. Mesmo há distância. Mesmo com tanta mágoa. Sempre foi real demais. 

Quando estávamos ofegantes, separamos a boca um do outro, mas a distância era mínima. Ele me segurava pela nuca e nos olhávamos com os olhos ardendo de amor, desejo e paixão.

Eu odeio meu ex-marido (FINALIZADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora