Epílogo

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Estou sentado no chão da sala do meu apartamento. Tem garrafas de bebida alcoólica por toda parte. Tudo está um caos. Estou fedendo a álcool. Minha roupa está amarrotada. Levanto-me cambaleando e vou em direção ao banheiro. Olho-me no espelho e vejo o cara derrotado. O cara que perdeu tudo por ter sido idiota o bastante por não ter confiado na única mulher que merecia tudo de mais maravilhoso no mundo. 

Diana.

A saudade que eu tenho dela me consome por inteiro e a vontade de morrer sobrepuja tudo. Falta um pedaço enorme de mim. Eu não me reconheço. Como o cara que vivia sorrindo, vivia feliz e com o coração leve se transformou nesse protótipo de homem? Se transformou nisso que me olha de volta do espelho?

Eu não quero ser esse homem infeliz. Esse ser humano sem esperança. Essa pessoa que me causa repugnância e ânsia de vômito. Sem pensar duas vezes soco o espelho e a dor é dilacerante. 

Acordo suado e ofegante. Olho assustado para o lado e a vejo. Serena. Ressonando baixinho. A minha doce e linda esposa. Por sorte não a acordei. Começo a tentar recuperar minha respiração. 

Foi só um sonho, digo a mim mesmo. Aquilo foi há muito tempo. Não faz parte mais da minha vida. Agora sou feliz com a minha família. Começo a repetir essas frases em minha mente. 

Minha garganta está seca. Olho o relógio ao lado: 2h45. Levanto-me para ir à cozinha tomar um copo d'água. Mas antes de sair dou mais uma olhada no anjo da minha vida, na mulher que é a minha própria vida. Tão linda. Ainda mais linda com aquele abaulamento no ventre. Sorrio bobo. Minha mulher grávida é a coisa mais linda do mundo. Se fosse feita a minha vontade, ela engravidaria mais umas duas vezes, mas ela diz que não será responsável por povoar o mundo. Sorrio e vou em direção à cozinha.

Enquanto tomo minha água gelada, inevitavelmente me lembro do pesadelo. Eu sei porque o tive essa noite. Hoje é a data em que eu supostamente  flagrei minha esposa na cama com aquele filho da puta que armou tudo com aquela vadia. Que os dois apodreçam no quinto dos infernos. A raiva me toma novamente e eu me forço a me acalmar. Eu os odeio, mas no fundo sei que o maior culpado de tudo fui eu. Por não confiar na Diana. Jamais serei capaz de me perdoar e acredito que esses pesadelos nunca cessarão. Mas o que importa é que a minha doce esposa me perdoou e me deu uma família abençoada, mesmo sem merecê-los agarrei-os com unhas e dentes e meu projeto de vida é fazê-los felizes.

Antes de voltar para o quarto, vou dar uma olhada nas crianças. 

Abro lentamente a porta do quarto decorado com os vingadores e o vejo dormir na mesma posição em que a mãe estava quando saí do nosso quarto. Bernardo está com seis anos. É um menino lindo e inteligente. Fisicamente sempre pareceu mais com a mãe, mas a personalidade é muito parecida com a minha. Temos o mesmo jeito, os mesmos gostos e os mesmos defeitos que enlouquecem um pouco a mamãe. Sorrio ao me lembrar das inúmeras vezes em que  a personalidade forte do garoto lhe rendeu alguns sermões. Mas o sorriso esmorece ao me lembrar que perdi o período em que Diana o gerava e só fui conhecer meu próprio filho com um ano de vida. Afasto aqueles pensamentos e penso nas palavras que Diana me fala quando retorno a esse assunto: o que importa é o agora e você é o melhor pai do mundo para o nosso Bê. Aproximo-me dele e dou um leve beijo na cabeça.

- Eu te amo, filho. - sussurro, mas ele abre os olhinhos e me vê. Seu sorriso me ilumina. Ele volta a fechar os olhos.

- Te amo, papai. - e já está dormindo outra vez. 

Eu odeio meu ex-marido (FINALIZADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora