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- Vicente?

- Oi, Tadeu. - responde, mesmo estranhando a voz carregada do amigo. 

- Te liguei pra falar sobre a Vivi.

- Não me diga que aquela filha da puta foi solta? - pergunta transtornado.

- Não, cara. A Vivi se matou no presídio.

- E você me fala isso com essa voz de quem tá me dando uma notícia ruim, porra? Eu quero mais é que aquela desgraçada queime no inferno. Eu quero soltar fogos, Tadeu. O mundo tá livre daquela praga. Meu ar até ficou mais puro agora.

***


Eu saí do hospital no dia seguinte. Meu filho foi meu único conforto. Bernardo, apesar de muito novinho, parecia pressentir que eu não estava bem, então se agarrou à mim assim que cheguei em nossa casa. Vicente tentava me animar, mas eu estava me sentindo vazia. Oca. O sentimento de perda é uma das piores coisas que um ser humano pode sentir. Aquele pequeno ser que habitava meu ventre já era muito amado e experienciar sua perda foi um dos momentos mais difíceis pra mim. 

Eu não consegui sentir raiva da Vivi. E quase um mês depois a notícia de que ela cometera suicídio na prisão não me fez sentir pena também. Eu não sentia nada por ela. Mas eu senti alívio. Senti que estava, enfim, livre daquela figura transtornada, daquela pessoa maléfica, daquele ser humano infeliz. Ela só semeou o mal em seu caminho, seu fim combinou com a jornada que ela teve em vida. Prometi a mim mesma que jamais pensaria nela dali por diante.

Eu segui com a minha vida. Meu trabalho. Minha família. 

- Telefone, amor. - Vicente aparece no quarto me tirando da leitura de um livro que ganhei da minha amiga Maya, um livro que fala sobre superação, amor, recomeços e que vinha me encantando a cada página: a última gota de chuva.  - A Dany. - assinto e pego o telefone.

- Oi, Dany.

- A Maya acaba de ter as meninas. - ela nem me cumprimenta, já dispara a notícia.

- Ahhhhhhhhhh. - gritamos juntas.

Vicente me olha assustado, mas ao me ver rindo, relaxa.

- Eu tô indo já vê-las. - digo já me levantando.

Dany me passa os dados do local e o número do quarto em que Maya e as meninas estão. Conto ao Vicente a novidade.

- Você vai pra lá agora? - ele me pergunta com um vinco na testa.

- Vou por que? - vejo a preocupação evidente em seu rosto e me aproximo dele. Circundo seu pescoço com as mãos. - Não se preocupe comigo, amor. Estou bem. - Ele me abraça forte.

- Só não quero que você sofra mais. - eu o aperto de volta, depois o encaro.

- Não há porque sofrer. - sorrio. - Os bebês da Maya nasceram e isso é motivo pra festa. Eu não vou ficar presa ao que aconteceu e ao que seria se eu não tivesse perdido nosso bebê.Eu decidi não olhar mais pra trás, amor. Só pra frente e eu pressinto que nosso futuro será lindo. - sorrio e vejo que ele abre lentamente o sorriso. - Eu, você, o Bê e outros filhos tão lindos quanto ele.

Eu odeio meu ex-marido (FINALIZADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora