Capítulo 3 - Som da Invocação

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– Os sacos de rações estão no final da rua, não vai demorar – Leonardo bufou ao pegar mais uma das grandes sacas amarradas e jogar nas costas. – Ele podia falar que teríamos que levar mais de 40 dessas.

Orion segurava uma por cima do ombro e carregava uma segunda na outra mão. Sorria da infelicidade e reclamação de seu colega.

– Ele deixou a gente dormir em uma cama confortável. Vamos fazer o trabalho e ver se ele pode dar uns trocados para comprar comida e água para o caminho.

O Elfo resmungou um pouco mais, mas Orion deixou que falasse sozinho. Desde o dia passado, estava com as palavras dele em sua mente. Os Humanos eram parecidos por conta de seu passado, eles se faziam, se dedicavam, mas no final, eram todos iguais.

Leonardo era muito mais do que um Elfo, com suas capacidades de ler as pessoas, de entender uma situação, de contornar diálogos. Ele era diferente dos Elfos que conhecia, mas seu passado poderia dizer que era o mesmo?

Ao ultrapassarem o terreno aberto para a locação das sacas, abaixaram os últimos e sentaram em cima. Respiraram com dificuldade e alivio.

– Finalmente – Leonardo fechou os olhos deitando em cima de alguns eles.

A grande porta abriu, Benedit Armios chegou caminhando. Seu tamanho e espessura ainda incomodavam e muito os dois. Como alguém era tão parrudo e não era usado pela Ordem?

– Vocês terminaram? - seus olhos já estavam nas quarenta sacas. – Parece que está tudo aqui. Foi um ótimo trabalho, eu demoraria algumas horas a mais, mas vocês fizeram tudo com muito fervor. Eu poderia contratar vocês – e riu.

– Agradecemos, senhor. Estávamos querendo comprar algumas coisas, mas não temos dinheiro, como sabe, tem mais alguma coisa para a gente fazer?

O balconista sacudiu a cabeça.

– Acho que não. Essas sacas são para os Magos de Segundo Núcleo que cuidam da cidade, eles vão vir pegar. Se não viesse, eu pediria que levassem até onde eles se reúnem. Mas... - ele negou – é muito perigoso.

– Perigoso? – Repetiu Leonardo.

– Eu estava com dúvidas se eram mesmo daqui, mas se não sabem, isso responde e muito minhas perguntas. – Se sentou em uma das sacas. – A cidade do Chifre tem estado muito agitada com as novas leis decretadas pelo novo Rei Elfo.

– Primeiro – o braço de Leonardo se esticou para o homem. – Diga-me o nome do novo Rei.

– Acho que é Walock. Ele é o filho do antigo Rei, e a Rainha também aprovou sua condução. Pelo que ouvi dos Magos, a coroação dele não foi das mais pacificas. Teve muitos que esperavam a permanência de Balick, e agora com esse garoto no controle, muitos da Ordem estão irritados.

– Por que?

– Essa cidade tem duas Escolas Mágicas. Balick era um dos maiores patronos para os diversos utensílios e também dos estudos. O filho dele negou qualquer envolvimento com os Humanos, então, eles começaram a ficar sem ninguém para ajudar.

Uma Escola sem dinheiro para se manter acabava em falência. Em um passado distante, muitos dos Magos tentaram usar as ligações raciais para conseguirem benefícios. Os Elfos e Anões sempre se ajudavam, mas nunca com os Humanos.

Em uma guerra entre sua própria espécie, a Ordem e o Clero nunca buscaram a renovação naqueles que consideravam inutilizados para seus combates. Agora, sem a ramificação dos Elfos, que eles tanto detestavam, os Magos acabavam por flutuar na beirada do abismo.

– Duas Escolas Mágicas – Orion repetiu, pensativo. – São as Escolas de que tipo?

– Fogo e Velocidade. – Benedit deu um tapinha na sacola que sentava. – Faz muito tempo que fiz parte da Ordem. Agora que estou livre, eu tento ajudar pelos anos de aprendizado. Porém, como são duas escolas numa mesma cidade, o conflito é ainda maior.

Passos Arcanos: Sombras do LesteOnde histórias criam vida. Descubra agora