Com a chegada da cerimônia de enterro, os Magos partilharam do pouco de sua mana para conceder como os falecidos da guerra se prontificavam em vida. Ilusões de como suas faces eram reproduziram diante centenas de pessoas. As ruas da cidade foram abarrotadas pelos moradores, que seguindo os demais, também fizeram um dia inteiro para honrar aqueles que um dia pereceram por eles.
O silêncio de um dia conduzido para aqueles alem-vida. O enterro de Torat, entretanto, era o único que talvez não seria partilhado para todos os demais. Anneton e Mirella buscaram um lugar tranquilo onde poderiam apenas os Doze e alguns convidados a fazer suas orações. Mesmo sendo reconhecido por todos, não podiam deixar de zelar individualmente pelo homem que protegeu seus ideias até o fim.
Oliver, subindo as escadas de pedra do castelo, parou diante a porta de seu filho, e suspirou antes de entrar. Seu filho estava sentado no chão, de costas para a cama e com a cabeça em cima do colchão, vidrado no teto. Seus livros espalhados no chão marcavam o quanto estudava durante o tempo ali, mas a vivacidade dele não se mantinha mais tão presente.
– O enterro de mestre Torat irá acontecer agora, Orion. – Oliver pegou os livros do chão e os fechou, deixando os marcadores nas páginas indicadas. – Eles esperam que você esteja presente.
– Não posso ir – respondeu com indiferença. – Eles não precisam de mim agora.
Oliver guardou os livros e sentou-se ao lado do filho.
– Eles precisam de você tanto quanto você precisa deles. Você lutou para construir uma grande paz dentro desses muros, e Torat foi quem deu essa possibilidade a você. Tenha um pouco de consideração, por favor.
– Pai. – Orion olhou para ele, triste. – Ele disse que não era para se preocupar com ele. Disse que estava tudo bem. – A mão de Orion apertou o braço do pai, mas fracamente. – Não consigo deixar de pensar no rosto dele.
– Eu sei como se sente, rapaz. Sei como é ver o rosto dos outros antes de falecer, e sei que suas últimas palavras podem ser piores que uma vida inteira de sofrimento, mas – ele apertou a mão de Orion –, não podemos deixar que as piores fases de nossas vidas tomem conta do que podemos construir aqui pra frente. Eu aprendi isso com você, filho, depois que saiu de casa, quando confrontou a mim para orgulhar a nossa família, e agora, os Baker não precisam mais ser olhados de forma negativa. Eles possuem honra, uma honra que uma pessoa viva trouxe a nós. Uma honra que Torat também confiava. Aquele homem uma vez me disse uma coisa que nunca esquecerei, Orion.
Curioso, o filho ajeitou a postura.
– Ele me disse – continuou – que a vida inteira de uma pessoa é decidida no momento de sua primeira escolha. O sim e o não, independente de como sejam, são apenas caminhos contrários, mas somos nós que moldamos isso. Eu não entendia esse conceito, não até ver você lutando contra um mundo inteiro para conquistar algo que perdemos faz anos. Torat sabia muito bem que você tinha um potencial para conquistar o mundo, e até o final, acreditou nisso.
– Como sabe disso, pai?
– Ele me deixou algo. Era para entregar a você caso alguma coisa acontecesse com ele. – Uma pequena carta foi entregue nas mãos de Orion. – Ele não deixou que eu lesse, estava com uma runa que apenas você poderia retirar. Deixarei que leia sozinho.
Oliver se levantou, indo até a porta e saindo. Orion continuou sentado, mas olhando para a pequena carta de papel que, como qualquer outra, possuía o nome do destinatário. A mana fluía tanto de dentro quanto de fora. Orion desfez a mana do lado de fora e abriu. As letras negras do interior se desfizeram em pedaços, sendo lançadas para cima, ganhando forma.
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Passos Arcanos: Sombras do Leste
PertualanganDurante milhares de anos, o Continente Hunos resistiu a casa dos Elfos, Humanos e Anões, em suas batalhas territoriais e ideológicas. Cegos por suas disputas, um imenso tufão de horrores se move em suas direções. Sem se importar com qualquer rivalid...