Capítulo 20

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Sebastiã Montanari

Quando acordei no dia seguinte, percebi que a Elisabeth já tinha se levantado. Arrumei a cama e desci pra tomar café.

— Bom dia, crianças.

As encontrei todas na sala, tomando café e assistindo televisão. Bom, nem todos. Cass, Robert e Stella estavam no celular. Eles me cumprimentaram rapidamente antes de voltarem ao que estavam fazendo.

— Bom dia, meu amor.

Encontrei Elisabeth sentada à mesa, de olhos fechados e massageando as laterais da testa.

— Bom dia.

— Ainda de ressaca?

Peguei um tigela, a caixa de cereal e leite.

— É. Já tomei uns dois comprimidos pra dor de cabeça, mas parece que não está adiantando.

— Já que tocamos no assunto...

Me sentei de frente pra ela.

— Você vai me explicar o que aconteceu ontem?

— Eu não me lembro de nada.

— Faz um esforço.

Ela abriu os olhos e me encarou.

— Tá tentando começar uma briga, por acaso?

— De modo algum, só quero saber o que houve.

— Já disse, eu não me lembro.

— Então deixa eu te contar do que eu lembro. Na tarde de ontem eu sai pra fazer compras e quando voltei, o Gabriel estava sem camisa, encima de você, com a cara dentro do seu decote. Os dois bêbados.

— O Gabriel tinha vindo aqui porque encontrou uma mensagem minha no celular, dizendo que eu estava passando mal e precisava da ajuda dele.

— Por que enviou essa mensagem?

— Eu não enviei, vai ver foi uma das crianças que mandou sem querer pro número errado.

— Já perguntou pra elas?

— As crianças nem se recordam do que comeram ontem, muito menos de uma porcaria de mensagem.

— Daí ele veio e vocês começaram a beber até não poderem mais?

— Não, o CJ quem preparou alguns drinks pra gente.

Bati encima da mesa.

— Eu sabia!

— Eu tô com uma enxaqueca de matar. Se bater nessa mesa de novo, eu bato com ela em você.

— Querida, presta atenção. Desde que esse garoto chegou, essa casa anda um caos.

— Lá vem você de novo... Achei que tivesse parado de pegar no pé dele.

— Você é quem tem que parar de se enganar tanto. Ele pode muito bem ter feito isso de propósito.

— O que? Embebedar a mim e ao Gabriel só pra você nos flagrar juntos?

— É.

— Isso é ridículo!

— Esses dias pra trás as crianças mencionaram sobre ele e um tal de Ritchie. Com certeza devem ter dito mais alguma coisa quando ele as levou pra escola.

— Bota isso na sua cabeça, o CJ é um cara legal e totalmente inofen... Peraí, o que você disse? Sobre ele ter levado as crianças na escola?

— Merda!

Fechei os olhos e os punhos, arrependido.

— Não confia no garoto mas gosta que ele leve as crianças na escola por você!? O que estava fazendo de tão importante que não pôde?

— Eu... eu...

Comecei a procurar por uma resposta. Quando não encontrei nenhuma, resolvi dizer a verdade.

— Fui assistir ao jogo. Pronto, falei.

— Numa coisa eu concordo, que ele é um estranho para nós porque ainda não o conhecemos. Por isso pedi pra você levar as crianças, mas estou vendo que foi um erro porque você também não é lá essas coisas.

— Me desculpa amor. Eu ia, só que... era a final e ele é muito manipulador. Ele soube me convencer direitinho.

Agora que pensei à respeito... chega a ser ridículo! Só sei julgar o garoto e acabei caindo na conversa dele. Nem acredito que me deixei ser enganado. E ainda tem a Elisabeth, que me fez perder completamente a moral. Eu cheguei na cozinha todo cheio de razão e a perdi num piscar de olhos.

— Crianças, vamos. Não quero que se atrasem pra escola.

Beth se levantou da cadeira.

— Amor, olha. Isso não vai se repetir de novo, tá? Se quiser posso levá-las. Você não tá bem.

— Não, obrigado. Vai que... você tem algo mais importante pra fazer.

Assim que a Beth saiu, eu comecei a arrumar a casa. Achei que a deixaria feliz. Nunca vou saber, ficamos sem nos falar o dia inteiro. A não ser quando ela me perguntou se eu iria levá-la até o consultório do Gabriel para a remoção dos pontos. Mas sabe quando a pessoa pergunta se você pode mas sem parecer necessitado, como se dissesse "se você não puder, sem problemas".

No caminho, Cristian acabou me ligando. Coloquei a chamada no meu fone de ouvido multilaser e o atendi.

— Eai cara, já deu início ao seu plano?

— Do que é que você está falando?

— Você não lembra de ontem?

— Quando ficou enrolando tanto pra falar que eu perdi a paciência e te deixei falando sozinho?

— Vai até o consultório do Gabriel e conversa com ele. Descobre o que realmente aconteceu. Ele pode ajudar. Se aliar ao inimigo. Recordou?

— Nossa...

Respondi tedioso.

— Mas pode dar certo. Vou tentar. Valeu.

Encerrei a ligação.

Assim que chegamos, Elisabeth foi se trocar enquanto eu procurava pelo Gabriel.

— Ai...

Ele se assustou ao me ver.

— O-oi. E-eu ia te ligar p-pra agradecer ao seu irmão por me trazer em casa. O p-problema é que... eu estava sem tempo.

Engoli em seco.

— Não vim aqui falar sobre isso.

— Então o que você quer?

Arregalou levemente os olhos e enfiou as mãos no jaleco, pegando o celular discretamente.

— Sei que há muitos casos onde o homem mata o verme que comeu a mulher dele, mas esse não é um desses casos, portanto... larga o telefone.

— Sebastiã, eu juro que não dormi com a Elisabeth.

— Então o que vocês fizeram?

— Eu não me lembro. Só entrei pra dentro para ajudá-la a se sentar depois que ela teve uma leve tontura.

— Daí o CJ começou a embriagar vocês.

Mais afirmei que perguntei.

— Exatamente.

Àquilo era tudo o que os dois se lembravam, então deve ter realmente acontecido só isso. Ambos se acabaram de tanto beber; e seus corpos estavam tão moles que eles caíram um por cima do outro. O resto eu também vou adivinhar : CJ tirou a blusa do Gabriel e fez parecer que os dois estavam se pegando.

Acho que eu nunca vou descobrir a verdade se não chegar no pivete pra perguntar. Não duvido que as coisas possam ter acontecido na minha versão, o que me deixaria bastante aliviado. Mas também não descarto a possibilidade deles terem tido mesmo algo. Eu confio no meu taco e confio na minha mulher, eu só não consigo confiar num cara que é ex namorado dela e a viu bêbada e invulnerável.

CRISTIAN- MÁFIA MONTANARI [L3]Irmãos Da Máfia 2018Onde histórias criam vida. Descubra agora