Cap. 1

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Os alunos fixaram Talita ao constatarem de onde veio o rangido de carteira se arrastando no piso de azulejo. Ela levantou as sobrancelhas como punição aos olhares fuzilantes. O professor não se importou com o barulho que interrompera a aula momentaneamente. A moça estava visivelmente inquieta. Ao arredar a cadeira para ter mais espaço cometeu o importuno. Levou a mão ao bolso dianteiro e pegou o celular conferindo as informações debaixo da mesa para ninguém perceber. Não havia nenhuma mensagem de Ane. Ela não lhe procurou mais depois da briga via chamada de vídeo. Deu um suspiro pesado. Aprendera a usar aquela porcaria para ter contato com a namorada, e agora se encontrava decepcionada. Nunca lidou bem com traições. Ainda mais de alguém que amava tanto. Mas talvez fosse assim com a maioria. Afinal, quanto mais expectativas se cria em cima de algo ou de alguém, mais chances tem de decepcionar-se, e o sentimento de mágoa só as pessoas queridas podem despertar.

Ignorou o WhatsApp de Mateus lhe convidando pra uma festa e enfiou o aparelho no bolso novamente. Não estava nada a fim de forçar sorrisos para os amigos e também continuava com o hábito de não frequentar algazarras, o que acaba acontecendo uma vez em mil, no intuito de sair um pouco de sua rotina ou quando obrigavam-na para não irem sozinhos. Eles logo perceberiam que estava cabisbaixa e não queria falar sobre o término, ao menos por enquanto, levando em consideração a gravidade do motivo. Do outro bolso, sem retirar por completo, apanhou a aliança, e fitando-a, mergulhou em profundas reflexões. Ane mudara radicalmente. Ela não era mais aquela menina insegura e indefesa que viera morar na roça. Saíra dali transformada numa mulher sábia e atraente. Também não podia culpá-la. Ane lhe convidara muitas vezes para ir morar na capital, e até lhe chamou para o passeio no exterior. Dispensou todas as oportunidades de ficarem juntas outra vez. Talita sentia-se igualmente sozinha. Mas não largaria a cidade que idolatrava assim tão fácil. Para Ane era mais simples, pois ela não nascera e nem fora criada em meio aos pastos e aos animais. Ou estava apenas arrumando desculpas para justificar a traição? Quando na verdade, Ane a cometeu conscientemente, por livre e espontânea vontade e não existia argumento algum que pudesse explicar sua falta de respeito! Colocou de volta bufando. Já deveria ter jogado o anel fora junto com o compromisso desfeito, mas não tinha coragem, visto que ainda amava a garota naturalmente ruiva. Por mais quisesse, não tinha como esquecê-la totalmente da noite para o dia e o que queria? Havia mandado Ane sumir de sua vida e foi o que ela fez, não é? Não podia ficar esperando por um milagre principalmente porque não estava disposta a perdoá-la nem que rastejasse aos seus pés, si humilhasse e o escambau. O jeito era seguir sua vida mesmo com o coração aos frangalhos. Com o passar do tempo e das atividades intensas, haveria pelo menos de si conformar. Era no que tinha fé.

Percebeu que Laura estava lhe observando com o mesmo interesse de sempre. Olhou para ela de esguelha. A moça lhe lançou um olhar mais penetrante completando com uma mordida sensual nos seus lábios rosados de batom. Distraiu-se do foco da lição de como inseminar uma vaca. Seu dia estava maçante. Perdera o prazer de fazer certas coisas desde que a namorada se foi. Flertar com a moça não lhe pareceu má ideia. Apenas para se distrair, especialmente pelo fato de estar solteira e com uma vontade imensa de curar sua dor de cotovelo. Correspondeu o olhar dela por longos segundos, sem se importar com a rigidez do professor Juliano. Nem se lembrava mais da última vez que fez sexo. As transas virtuais com Ane não eram satisfatórias. Masturbação nunca foi seu forte. E era isso o que mais lhe magoara. Enquanto resistia fielmente às tentações, Ane caíara nelas. Não era justo que a ruiva, agora loira, havia lhe enfeitado a cabeça com um par de chifres, depois de tantas promessas de amor e fidelidade que foram literalmente jogadas ao vento. Meneou a cabeça para escapar dos pensamentos repetitivos irritantes e sustentou o olhar da cabrita mais uma vez.

A colega de classe deixava explícito quão era a fim dela, desde o começo do curso de veterinária. Sempre lhe convidava para sair a bares e festas com sua turma, mas Talita recusava todos os pedidos por sua cega lealdade a sua noiva, por não se ver enganando-a, e porque sequer sentia vontade de estar com outra pessoa além dela.

Minha Cowgirl na Cidade ( Sáfico) Onde histórias criam vida. Descubra agora