Cap. 51

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Adriano se vira na direção de Vanessa, após alguns segundos refletindo em que desculpa irá dar. A vampira, que é uma espécie de cavaleira das trevas; líder de um grupo relativo de vampiros, mas não passa de um capacho do chefe, assim como todos os outros, apenas com algumas regalias de diferença, está com os braços cruzados o encarando intimidadoramente.

- Acho que acabei me perdendo. Esse lugar é muito grande - diz o mais natural possível.

- Você está mentindo pra mim? - toda sua testa se franze.

Adriano recolhe seu cinismo e frieza da adolescência em Vicente Diaz, quando hostilizava as pessoas sem o mínimo pudor e maltratava qualquer um apenas para se divertir, e como a fumaça cobrindo o céu depois de um fogaréu, ele camufla o medo que sente naquele tenso momento.

- Eu não seria capaz de uma atitude tão tola dentro do covil. Com sua experiência como mestra, ninguém conseguiria tamanho feito.

- Hum. O chefe te aguarda. Me acompanhe - ela simplesmente o dá as costas e sobe as escadas. Adriano a segue. Ele sabe bem que atiçar a vaidade de alguém é a melhor forma de enganá-lo.

- E então, - ele fala assim que alcançam o segundo andar daquela casa, onde há uma sala. As janelas estão fechadas, e os móveis antiquados são cobertos por lençóis brancos - o chefe não tem um nome? - Vanessa o fita desinteressada, alcançando mais uma escada que os levará para o terceiro andar.

- E o que importa um nome? - ela pergunta subindo rapidamente, como se estivesse saltando dois degraus de uma vez.

- Só acho meio esquisito, termos que chamá-lo de chefe - dá de ombros.

- Eu já me acostumei. Você também vai se acostumar, assim como todos nós. Ele nunca revelou sua verdadeira identidade. Tudo que sabemos sobre ele é que nos resgatou de nós mesmos e nos deu uma segunda chance de recomeço. Estávamos perdidos e confusos quando ele nos achou, nos acolheu e nos treinou para usar a magia negra para sobrevivermos de uma nova e mais interessante perspectiva.

- Hum. Digamos que vocês o tem como um salvador então?

- Sim. O fato é que; a maioria dos encarnados já estão presos nas dimensões astrais inferiores e nem se deram conta disso. Lugares frios, silenciosos, que causam dor e desespero a mente dos fracos. Como eu era. Ele me ajudou a conviver com as trevas que eu própria criei.

Os jovens já estão no quarto andar. Ganham um novo corredor em penumbra. As velas pretas são a única luz que o ambiente destila. O ar ali chega a ser sufocante. O cheiro é quase insuportável; uma mistura de mofo e carne podre. O estômago de Adriano revira. Sente falta de um ar puro. Aquelas criaturas tem um sério problema com iluminação. Eles gostam de ficar em repleta escuridão. É como se estivesse tendo um déjà vu ao imaginar que será como eles daqui a algum tempo.

Vanessa abre a porta de madeira onde o chefe se acomoda naquele andar e esta solta um rangido que incomoda os tímpanos de Adriano.

- Boa sorte - ela deseja ironicamente e sai dali.

Adriano a acompanha com o olhar sumir completamente no corredor, e depois entra no quarto. O chefe está deitado em sua cama, sua pele é pálida como cera, e seu hálito infecta todo ambiente. Adriano engole o pouco da saliva que se instalara em sua boca.

- Aproxime-se Adriano - a voz do ser é rouca e falha. Ele respira com bastante dificuldade.

Adriano o obedece. Senta ao seu lado no leito, e observa a pele dele se desfazendo no braço, como se tivesse entrado num estado de decomposição.
Ele cobre o braço até a mão com a túnica preta que veste.

Minha Cowgirl na Cidade ( Sáfico) Onde histórias criam vida. Descubra agora