Cap. 5

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As moças foram recebidas com imensa alegria pelos moradores, principalmente Ane que não aparecia por ali há muito tempo.

- Você está ainda mais linda, Ane! - exclamou Matilda avaliando-a com ternura e nostalgia. Admirava a filha de sua melhor amiga falecida pois ela havia ajudado, mesmo que indiretamente, Talita a amadurecer.

- Ah, obrigada! - a nora corou. - Você também está ótima! - retribui analisando a sogra que não mostra ter a idade que possui, parecendo mais a irmã mais velha da sua noiva do que mãe.

- Podemos saber o motivo dessa repentina visita? - Cleuza questionou, desconfiada, retirando-as da distração, deixando sua intuição lhe guiar. Ane tinha sumido e deveria ter algum motivo especial para aparecer sem avisar.

Talita olhou para a noiva constrangida, esta depois de corresponder seu olhar, fitou a avó. Ambas não achavam necessário contar sobre a traição, o término e a reconciliação. Preferiam resolver este assunto somente entre elas. Era inútil envolver os familiares, e preocupá-los, sendo que só quem podia solucionar a questão, era elas mesmas, visto que seria inevitável, em algum momento, eles tomarem conhecimento da consequência de suas decisões.

- Sim, vovó! Eu vim buscar a Talita. Ela vai morar comigo na capital - conta sem delongas.

Os presentes arregalaram os olhos. Até mesmo Talita que não esperava dar uma notícia tão importante subitamente. Mas talvez fosse melhor mesmo não prolongar a despedida que seria dolorosa de qualquer jeito. Internamente, agradeceu a Ane por ter tomado a iniciativa e assim lhe poupar da responsabilidade.

- Morar? - Artur indagou rindo descrentemente. - Talita longe da cidade que nasceu e cresceu? Ah mas só se o senhor Jesus Cristo descer nesse planeta de novo!

- Sim, pai. Por que a surpresa? - a vaqueira lançou a mochila no sofá, sentindo-se subestimada e odiava esta sensação. - Não vai precisar de tanto.

Notando que não é uma piada, a expressão e o tom do homem ganham seriedade: - Tu vai me desculpar Lita, mas não consigo te imaginar na cidade grande. As coisas são muito diferentes do que está habituada!

- Seu pai tem razão, minha filha. Talvez estejam se precipitando! - Matilda reforçou embora estivesse mais preparada psicologicamente para que um dia isso viesse a ocorrer. Afinal, já pressentia que, ou elas iriam terminar de vez por conta da distância ou uma das duas decidiriam mudar de cidade para ficarem perto uma da outra. Como Ane não era tão ligada a roça como sua filha, teoricamente era mais fácil a segunda ir para Curitiba, levando em consideração que na capital existia mais oportunidades na área acadêmica e profissional. Era sábia o suficiente para entender que o ser humano pode encontrar a realização pessoal até mesmo numa cabana isolado sobrevivendo da própria plantação, e que não tem nada a ver com status. Sabia também que Talita era esse tipo de pessoa, porém, o amor por Ane a compelia a buscar novas experiências. E, isso não era ruim de um todo, já que as inúmeras vivências trazem mais sabedoria.

- De jeito nenhum. Ane e eu conversamos muito. Não queremos mais ficar tanto tempo separadas.

- Caramba! A gente vai sentir saudades! - a voz de Teodoro soou.

Ane o encarou. O menino exalava um ar muito maior de maturidade. Havia ganhado tamanho e músculos. Era o retrato masculino da irmã. Até ali nem tinha se dado conta de sua presença. O garoto estava sentado no sofá, escondido atrás das silhuetas dos adultos, lendo como de costume, neutro e imparcial, como só ele conseguia ser e parecesse saber de tudo antes de todos, enxergando coisas que ninguém mais era capaz.

- Prometemos que viremos visitá-los mais vezes -  garantiu. - Além do mais, Curitiba não fica tão longe assim, vocês também podem e devem ir nos ver.

- Se é para o bem e a felicidade de vocês eu abençoo essa decisão - Cleuza concordou sempre muito compreensiva com os anseios juvenis.

- O que eu posso dizer, não é mesmo? Não vou impedir que assim seja - Matilda sorriu. - Talita não é mais criança e já tomou a rédea da própria vida tem tempo.

- Sim Tilda, mas nós ainda lhes devemos obediência e o mínimo que é manter a comunicação - Ane complementa.

- Mas e o campo? Os cavalos? - Artur não se deu por achado provocando a filha.

- Pai, eu vou sentir falta disso tudo, principalmente de vocês, mas meu coração pertence a Ane, e eu vou pra onde ele for.

O homem soltou um suspiro desanimado: - Está certo. Torço pelas duas.

- Vamos comer? Terminei de preparar - Matilda convidou também com a intenção de saírem do clima tenso que ficou entre o marido e sua filha. - Já estava adivinhando que íamos ter visita pro almoço!

Eles concordaram rindo das previsões da mulher, e todos acabaram se contagiando com sua agradável energia. Sentaram na mesa posta fartamente e comeram colocando os assuntos em dia. Ane encontrou uma desculpa convicente para explicar o motivo do seu afastamento e a família aproveitou a brecha para repreendê-la, e esta ficou envergonhada de sua atitude caprichosa, mas reconheceu seu erro e estava disposta a corrigi-lo. Sua avó já está anciã e precisa aproveitar cada instante de sua existência terrena, pois sabe bem a falta que alguém querido faz quando desencarna, por isso é recomendável aproveitar a companhia deles enquanto pode, porque apesar de crer na vida após a morte, a separação mesmo que temporária, ainda se mostra abrupta. Apenas ouviu a tudo com humildade e no fim não teve o quê contestar.

Minha Cowgirl na Cidade ( Sáfico) Onde histórias criam vida. Descubra agora