Cap. 68

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Ane tomara um atalho ao contrário do asfalto e chega na fazenda assim que eles vão embora.

A ruiva sai inconscientemente de sua Mercedes e adentra às cegas o casarão.

Talita está em vantagem na batalha contra Beatrice. O rastro do que um dia fora uma bonita mulher jaz jogada no meio do círculo ritualístico coberta por hematomas.

- Achou mesmo que podia me vencer? - a vaqueira rosna rondando de um lado para o outro do corpo decrépito com as duas adagas empunhadas em cada uma das mãos. - Você já está morta, Beatrice! Chegou o momento de aceitar seu fim!

- O que está esperando?! Faça isso, Talita! Acabe com o fio de vida que há em mim! - desafia com as escleras enervadas. - É o que Dimitri faria se estivesse aqui. Mas, somos só você e eu não é?! E você não passa de uma covarde!

Talita bufa, pula em cima da constituição física mórbida de Beatrice e, quando está prestes a enfiar as duas pontas direto no coração dela, uma voz desesperada a interpela:

- Talita não! Não faça isso! Pelo amor de Deus!

- Ane... - a olha de canto perplexa, segurando as facas no ar, a centímetros do peito de Beatrice. - O que faz aqui?

- Eu não podia permitir que vá embora sem se despedir de mim... Sem escutar que ainda podemos permanecer, seguir e realizar essa missão juntas... Seja lá qual for! Solta essas armas agora. Você nunca foi capaz de machucar ninguém, e não vai ser hoje...

- Ane... Eu preciso... - murmura plenamente envolvida pela energia do amor de sua sardentinha.

- Você precisa de mim - a vidente fortifica - Eu preciso de você. Precisamos uma da outra. Eu te amo Talita. Não me deixe...

- Ane... Eu também... - Beatrice se põe velozmente de pé, rouba a adaga que lhe cabe da mão direita de Talita, e num golpe certeiro e voraz atinge o peito da vaqueira, qual atravessa metade de seu coração. - te amo... - ainda encontra oxigênio para confessar e cai estatelada sangrando com a faca enfiada no busto.

- Talitaaaaaa!!!! - Ane berra enlouquecida de dor, incredulidade e assombro.

Beatrice se apressa em deitar sobre o tronco da vaqueira e direciona a boca para seu pescoço, onde começa a sugar violentamente seu fluído vital.

Ane grita aflita. Petrificada; não sabe como agir. Lágrimas ferinas inundam seu rosto. Por sua culpa Talita se distraiu e Beatrice conseguira executar seus propósitos sórdidos. Um filme roda em sua mente e enfim compreende os motivos que a fizeram ficar longe da guerra. Entende que há de fato um propósito maior e que por isso suas visões sobre sua esposa foram bloqueadas, embora ainda não saiba do que realmente se trata. Um misto de alívio e inquietude a acomete, pois pode ter certeza do amor incondicional de Talita, porém existem muitos mistérios a serem solucionados e que parecem fugir do seu controle.

- Larga essa faca imediatamente! - um policial que entra armado no quarto exige firme.

Beatrice o fita chocada. Parece um animal em cima de Talita. Suas íris haviam ficado totalmente brancas.

- Mas... Que... Que... porra é essa?! - o outro questiona espantado com a aparência da vampira. - Você não ouviu!? Sai de cima dela neste instante! Ou eu...

- Ou eu o quê?! - grunhe. Acena a mão e eles voam pelo cômodo, batem a cabeça no piso e desmaiam em seguida. Beatrice ri diabolicamente. - Oh, enfim, eu me sinto:forteee!!!! - e continua extraindo a energia de Talita. Uma chama azulada sai da aura da vaqueira e vai parar na boca de Beatrice, fazendo com que ela regenere seus órgãos, tecidos, células, músculos e toda e qualquer partícula que compõe sua matéria...

Ane avista uma das armas dos policiais, a pesca instintivamente, destrava o gatilho, mira seu alvo, e efetua o disparo. A bala acerta o crânio de Beatrice, o perfura internamente, explode sua cabeça, e espalha alguns pedaços de carne para os lados. O corpo morto da vampira desaba em cima do de Talita pelo lado direito.

Ane corre para sua amada, empurra a defunta, e faz carinho no rosto de Talita.

- Talita, Talita, você não pode morrer... Eu nunca vou me perdoar. Talita! - vocifera chorando copiosamente.

- Central precisamos de uma ambulância - um dos policiais que despertara há tempo de ver Ane dando o tiro, meio zonzo; comunica ao rádio. - Repito: Precisamos de uma ambulância... Há um ferido no local! Há um ferido no local!

O parceiro acorda naquele mesmo instante e vendo o desalento da ruiva se aproxima.

- Se acalme moça... - empurra Ane levemente para cumprir com seu trabalho e confere os pulsos de Talita. - Ela ainda está viva...

- Como isso é possível?! Ela tem uma faca no coração! - indaga o outro embasbacado se achegando de ambos.

- Algum milagre talvez?!

- Acho que Deus não tem nada a ver com isso, meu amigo... - comenta descrente, olhando para aqueles utensílios de magia negra, além do círculo no piso, e o corpo sem vida de Beatrice.

- A ambulância vai demorar, temo que ela não chegue a tempo de salvar a testemunha.

- Tem razão. Isso se ela não passar dessa para melhor...

Ane encara os dois com os olhos arregalados de pânico:

- Por favor, ajude...

- Calma, garota. Você fica aqui esperando reforço - sugere ao colega - e eu vou levar as duas para o hospital mais próximo.

- Está certo.

- Só me ajuda a colocar ela no carro...

- Ok.

Os homens descem com Talita desfalecida para a viatura. Ane se acomoda na frente. O policial se despede do companheiro, entra no carro e sai em disparada até um pronto-socorro.

Minha Cowgirl na Cidade ( Sáfico) Onde histórias criam vida. Descubra agora