Cap. 53

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- O que te fez pensar que tem o direito de entrar no meu quarto sem bater? - Adriano vocifera escondendo o revólver calibre 38 no cós da calça e encara Edgar sem desviar. O único culpado por ter esquecido de trancar a porta é ele mesmo, visto que qualquer um poderia ter entrado e o flagrado num instante comprometedor, mas está tão estressado que acha a oportunidade perfeita de descontar em alguém.

- Me desculpe. Eu achei...

- Achou errado - Adriano o corta secamente - O fato de ter me comido ontem à noite não te nomeia nenhum poder sobre mim. Foi só uma noite de sexo, isso não me faz gay! Eu não estou apaixonado, nem nada do tipo, então desencana.

Edgar fita o chão e se concentra em engolir o choro.

- Eu só quero que saiba que não precisa machucar ninguém Adriano - ele consegue aconselhar quase num sussurro com a voz falhando, sentindo-se rejeitado e usado como um objeto descartável. - Você não está sozinho cara. Tem pessoas aqui que te amam e se importam contigo.

Adriano bufa e revira os olhos:

- Acho que você passou tempo demais nessa casa. É melhor ir embora com sua irmã. Não pedi sua opinião em momento algum.

Edgar não encontra palavras para responder e sai do quarto automaticamente, com o coração destroçado e o orgulho ferido. Não compreende porque Adriano muda de um minuto para o outro. Contudo, não acredita que ele seja de fato uma má pessoa e sim que está enfrentando algum problema que o deixa nesse estado, porém, pelo menos agora tem certeza de que não é correspondido e isso extingue de vez suas esperanças de aprofundar o envolvimento amoroso. Então, saber disso não é ruim de um todo, é melhor do que continuar acreditando numa ilusão.

Adriano se senta na cama e passa as mãos nervosamente pelos cabelos. Logo ele se levanta decidido e sai. Perdera toda a manhã na complexidade de comprar uma arma de fogo ilegalmente. Passa por Edgar e Felício conversando na sala e ganha a saída com um ar antipático. O primeiro arrumara um argumento para sumir dali com Marjorie porque não quer olhar tão cedo para Adriano, pois precisa de tempo e espaço para se recuperar, e o segundo contesta, percebendo que está mentindo. Entretanto, no fim, como Edgar não quer contar qual o motivo de estar tão nervoso e desejar ir para casa o quanto antes, Felício se dá por vencido para não pressioná-lo ainda mais, confiando que na hora certa ele irá desabafar, mesmo que sua intuição e os sinais já o antecipem do que se trata.

... Enquanto isso, Adriano vai até o supermercado onde compra alimentos para os reféns e dirige ansiosamente para o sítio. Chegando lá; Vanessa o recebe na porta e o ajuda com as sacolas. Ambos descem para o porão, onde finalmente Adriano almejava entrar. Vanessa bate na porta, e uma janelinha se abre revelando apenas uma barba preta. Logo a porta é escancarada, e são recebidos por um homem magro esquelético, que mais parece um carrasco. Vanessa vai na frente, e Adriano a segue. Caminham alguns passos até chegar numa sala grande, sem qualquer vão necessário para se obter ventilação. Adriano se arrepia ao ver as crianças presas dentro de gaiolas. O único recipiente que há de alimentação ali é uma cumbuca de água, que parece suja.
Elas o fitam com interesse.
Estão franzinas, suas roupas maltrapilhas, e olhares sem brilho. Nem mesmo os cachorros merecem ser tratados assim.

- Hoje é um dia de sorte para vocês - Vanessa ri alto suspendendo as sacolas.

A vampira as entrega para o vigia e ele as serve, abrindo as gaiolas apenas para colocar os alimentos e as fecha novamente. Elas praticamente devoram a comida. Estavam famintas.

“ Meu Deus. Há quanto tempo elas não comem? E como elas aguentaram até hoje? Isso é desumano. Essas criaturas são abomináveis. Merecem morrer! ” - pela primeira vez depois de muito tempo, qual nem se lembra mais, Adriano chama pelo nome dessa força criadora a qual costumava a crer. E logo em seguida em Talita e pensa em como ela reagiria ao ver uma cena como esta. Ele olha de relance para o segurança e depois para Vanessa e pressiona disfarçadamente o revólver na cintura, desejando ardentemente atirar neles e libertar os prisioneiros.

Minha Cowgirl na Cidade ( Sáfico) Onde histórias criam vida. Descubra agora