Cap. 35

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Quando a sertaneja chega no Haras, o grupo de amigos está confraternizando em volta de uma fogueira. Eles bebem, conversam, e Gabi anima a noite com sua linda voz e talento para o violão. Porém, não vê sua eterna ruiva entre eles.

- Ei, Talita. Onde você se meteu? - Ryan questiona preocupado. Havia se simpatizado sinceramente com a vicentina, e ela praticamente evaporara depois da cavalgada.

- Resolvendo um problema - a morena fulmina Patrícia que ao lado de Isa finge sequer vê-la.

- Qualquer coisa que precisar estamos aqui, viu? - Ryan, esperto do jeito que é, entende que é pessoal e lembra com um sorriso gentil.

Talita assente e fita o conterrâneo:

- Posso falar contigo, Dri?

- Claro, Tatá. Chega mais - Adriano se levanta e a encaminha para metros longe da fogueira, para que ninguém os ouçam. - O que houve? Achei que ia dormir com a Iaska na cabana! - pisca safadamente.

- Arg, Dri. Tu tem esterco no lugar dos miolos - revira os olhos.

- Ah, vai me dizer que não rolou nada? - franze a testa.

- É uma longa história. Depois a gente põe essa conversa nos trilhos. Cadê minha sardentinha?

- Sua sardentinha?! - o rapaz é irônico. Afinal, ela acabou de ganhar mais um par de chifres e já está atrás da ex igual uma cadela procurando a dona.

- Sim, a garota que eu amo! Que eu desejo de todo meu coração! Que eu quero ao meu lado!

- A Iaska abriu o bico? - desconfia vendo sentido.

- Sim. Ela me contou tudo. E pelo visto só eu que não sabia né? - o fuzila.

- Ah, obrigado meu Deus! - ele levanta os braços para cima, sacudindo-os aliviado. - E não me culpe. O segredo era da Ane, a Iaska só me contou porque não aguentava mais carregar este peso sozinha.

- Certo. Deixa isso pra lá, ok? Me diz onde ela está? - Talita o pega pela camisa, impaciente.

- Trancada no quarto. Ela está deprimida. Não quis descer.

- Valeu - a garota praticamente desliza os pés na grama para chegar no casarão, deixando Adriano com um sorriso satisfeito. Adentra-o agilmente e sobe os degraus ainda mais rápido.

- Ane! Abra a porta - Talita exige batendo com força nesta e mexe na maçaneta para abri-la, mas está trancada. Ane não aparece. Ela começa a se preocupar e decide arrombar a tábua de madeira. Dá um chute certeiro na fechadura e esta se escancara sem muita dificuldade visto que é de trinco.

Ane surge da porta do banheiro com a face espantada, enrolada na toalha.

- Talita! O que é isso? Ficou doida?

- Ane! Pensei que tinha se suicidado! - a peoa corre euforicamente para os braços da loira.

- Me suicidar? Que maluquice, meu Deus! Eu jamais atentaria contra minha vida. Isso vai contra as leis do universo. Só estava tomando banho. Eu hein!

Talita ri nervosamente. Pega Ane no colo impulsivamente e a roda no ar.

- Ane, tu me ama! Minha sardentinha! Você me ama, tu nunca deixou de me amar! - exclama com um sorriso que substitui a face inchada de tanto chorar.

- Talita, o que você tem? Eu acabei de te trair! Você não deveria estar aqui, ainda mais nessa animação toda! - a vidente estranha.

- A Iaska me despejou toda a verdade - Talita cessa o giro, capturando profundamente os olhos da amada.

- Toda a verdade? - Ane leva a mão em seu rosto, acariciando-lhe a bochecha. Não esperava que Iaska seria tão honrada ao ponto de abrir mão de sua paixão por Talita e nesse instante uma admiração gigantesca pela sua pessoa desperta.

- Sim... Ane. Pior que te perder pra morte, é te perder pra vida! Eu vou encontrar uma forma de te livrar do seu fim. Eu vou percorrer céus e terra em busca de uma solução. Mas você não vai partir, não antes de eu te ver de bobs e camisola de estampa, andando com uma bengala pela casa.

Ane sorri entremeio as lágrimas que invadem abundantemente seu rosto.

- Ah, Talita. Não há nada o quê possamos fazer - lamenta.

- É claro que existe. Eu vou te amar como nunca e vou permanecer ao seu lado para sempre!

Ane se entrega a comoção e sela um beijo amoroso nos lábios de sua cowgirl favorita.

- Me perdoa, Talita. Eu fui uma idiota... Uma imbecil - Ane roça o nariz no de Talita. - Eu perdi a cabeça, enlouqueci. Não quero me separar de você. Eu não sabia o que fazer. Não queria que você sofresse com minha partida.

- Ane... Será que não percebe que a mentira dói muito mais que a verdade? Sua atitude só estava gerando mais sofrimento. Você não pode fazer escolhas por mim. Sou eu que devo tomar minhas próprias decisões. Você não é Deus pra decidir o destino das pessoas... Tu brincou com os meus sentimentos, os da Iaska e até os da Patrícia que é interessada em ti. Você estava nos prendendo num círculo perigoso de manipulação. Como pensou que eu poderia corresponder a Iaska? Só sinto amizade por ela. Não se dá conta? Se tinha medo de que eu me envolvesse com ela, pronto, pode tirar isso da sua cabeça. Já matei minha curiosidade e a Iaska compreendeu que não há espaço no meu coração para mais ninguém além de você. Vamos esquecer tudo isso Ane e iremos superar nossos problemas juntas. Não fala mais nada, ok?

- Unrum. Mais nada - Ane anui se sentindo vencida pelo discurso recheado de razão de sua noiva e principalmente pelo amor que as conecta desde a infância. O desespero havia lhe afetado negativamente a capacidade de raciocinar com sabedoria e graças a Iaska agora tem tempo de concertar seus equívocos.

- Só me deixa sentir sua boca na minha... - a vaqueira implora salivando em excesso.

- Eu posso fazer isso, Talita. Nem precisa pedir.

Talita a deita sobre a cama como uma flor sendo depositada na jarra depois de ter sido colhida do mais belo jardim, para vencer as adversidades distante do conforto de seu lar e exalar seu aroma até o último instante. Passa seus dedos nos lábios de Ane para desenhá-los e sela os seus nos dela em movimentos delicados, expressando seus anseios, confortando-a em suas inseguranças e temores, nesta plena troca de energias.

(...)

Adriano resolve ir ao encontro de Iaska na cabana para saber como ela está, já que não apareceu no haras depois da volta de Talita. Está preocupado com a amiga quando se depara com ela chorando com a cabeça no meio das pernas.

- Iaska... - chama com o tom de voz suave carregado de compaixão. Senta ao lado dela e lhe afaga os cabelos.

- Ah, Dri - a moça suspira pesarosamente, afugentando-se nos braços do rapaz.

- Você fez a coisa certa, Iaska. Você vai encontrar alguém que te ame de verdade, que te mereça, e que corresponda seus sentimentos.

- Então... é isso não é?

- Sim, você não é a única que renunciou o seu amor, para a ver a felicidade da Talita. Quem ama deseja que o outro seja feliz, seja como for. Eu sei que isso tudo parece muito bonito na teoria, mas acaba que na prática as coisas são mais dolorosas. Mas com o passar dos dias você acaba se acostumando. Vai se conformar. Veja pelo lado positivo! Tu conhece a Tatá tem pouco tempo, tem mais chances de esquecê-la. Já eu a tenho desde a infância, e hoje consigo vê-la como uma irmã muito querida. Sua atitude foi de uma mulher íntegra e nobre.

- Obrigada pelo apoio e por não me deixar sozinha nesse momento difícil. Eu, eu só quero enterrar isso no passado, mas podemos dormir aqui hoje?

- Claro. Eu te faço companhia.

Adriano retira os tênis, espera Iaska se acomodar devidamente e deita ao lado dela abraçando-a. É difícil ignorar seus instintos carnais, no entanto, procura focar no respeito que tem por ela.

Minha Cowgirl na Cidade ( Sáfico) Onde histórias criam vida. Descubra agora