Anjo da Guarda

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Lúcifer estacionou seu carro ao lado da quadra de basebol e viu ao longe o homem ruivo com o pequeno Michael. Lúcifer caminhou tranquilo ao ver a bola ser arremessada pelo garoto para o homem, o menino estava sério enquanto o homem parecia conversar com ele.

-Oi, Michael! – cumprimentou Lúcifer. O menino virou e sorriu.

-Oi, Lúcifer. – o menino acenou. O homem estava com um boné surrado de um time antigo, o cabelo num coque atrás. Ele olhou para Lúcifer e suspirou.

-Quem é seu amigo? – Lúcifer perguntou já perto o bastante.

-É o Roni! – o menino disse sério.

-Pode me deixar a sós com ele? – Lúcifer pediu. O menino assentiu e saiu correndo. Lúcifer se aproximou sozinho.

-Quando descobriu? – perguntou Lúcifer.

-Há dois meses. – o homem respondeu e tirou o boné. – Ela não tinha o direito.

-Mas matá-la?

-Jamais teria matado! Eu... descobri que Michael era meu filho por uma carta do desgraçado do Jason, nós éramos amigos no colégio, só que eu amava Emília. Ele havia descoberto que Emília tinha o traído na escola comigo e, bem, decidiu fazer alguns exames. Eu amei Emília, mas ela nunca iria largar um cara promissor por um órfão sem futuro, principalmente para criar um filho. Se agarrou ao Jason e fingiu que o filho era dele. Eu fiquei tão chocado, assustado e sem saber o que fazer quando soube. A primeira coisa que fiz foi ir atrás dela confirmar. Então eu pedia para saber mais do menino. Eu ia todos os dias ao café, pedia para ver fotos, desenhos dele e tudo o mais. Teve um dia que ele foi visita-la no trabalho com a babá, eu o vi de perto e era uma criança muito meiga. Eu quis então conhece-lo, falei com Emília que queria fazer parte da vida dele, mas ela me proibiu, disse que me mostrou tudo o que devia e que não era mais para procura-la.

-Então foi visita-lo mesmo assim. – Lúcifer presumiu.

-Emília barrou minhas entradas e então me afastei por uns dias. Eu comecei a sentir raiva dela. O que aquela criança poderia ter feito de diferente na minha vida? Será que eu teria ficado preso aquela oficina sem futuro? Eu poderia ter tido uma família! Eu... queria Michael, queria que ele pudesse ter um pai de verdade. Eu matei Emília no ápice de loucura e desespero, a intenção era só assustá-la com a arma! O menino saía cedo para a escola eu não esperava vê-lo lá, ela revidou e eu a estrangulei, perdi noção da força e ela já estava morta. Desesperado apenas corri.

-Como pôde ter a audácia de ir atrás do garoto de novo? – Lúcifer grunhiu.

-Eu tinha que me explicar, antes dele descobri que seu pai matou a mãe. Tive que pelo menos falar com ele. – o homem chorava. -Nao queria ser um monstro, mas eu queria minimizar o que eu fiz. Jamais vou me perdoar pelo que eu fiz para aquele garoto.

                Lúcifer estava com raiva, como aquele homem pôde tirar a vida de uma mulher na frente da criança? Sentia raiva e profunda amargura pelo pobre Michael que cresceria, sem mãe, com o pai morto e acaba de descobrir que seu pai biológico apodrecerá na prisão. Mas Lúcifer olhava aquele homem, digno de pena e não conseguiu puni-lo, porque via a si mesmo no homem, tentando corrigir seus erros.

-Espero que Michael possa perdoá-lo um dia. – Lúcifer murmurou. O homem se jogou no chão ao ver o carro da polícia e ergueu as mãos se rendendo aos prantos.

                Chloe correu apontando a arma, mas a abaixou ao ver que Lúcifer estava sob controle e o homem se rendera.

 Depois e de terem levado o homem a delegacia, Lucifer foi ate Michael.
-Ele matou minha mãe. - o menino murmurou.
-Ele vai pagar pelo erro dele. Mas não guarde mágoa dele. Você não merece esse sofrimento. - Lucifer se abaixou. - Mike, se precisar de um amigo eu estou aqui, ouviu? - o menino concordou e abraçou Lucifer.
-Obrigado. Você realmente é meu anjo da guarda!

***

                Maze encontrou-se com Dan num bar não muito longe da delegacia. O caso havia desgastado Daniel e ele ter sido encerrado foi mais um motivo para o drink. A mulher sentou-se ao seu lado no balcão sem maiores cumprimentos.

-Uma gim tônica. – pediu Maze. Dan deu um gole na sua cerveja. – Soube que resolveram o caso.

-Sim, o cara foi preso. Descobriu que teve um filho e surtou. – Dan tamborilava o dedo no balcão. – Foi extremo, mas como pai acho que entendo ele.

-O importante é que ele foi punido. – Maze ergueu a taça e Dan fez o mesmo.

-Então hoje é sem estresse, sem conflitos amorosos. Só duas pessoas precisando encher a cara sem julgamentos.

-Isso aí. – ele abriu um sorriso e brindaram.

-Sabe, Maze, estou tentando aceitar meu demônio interior, não para ser dominado por ele, mas para conhece-lo e domá-lo. Estou cansado de agir por impulso, de não saber quem eu sou.

-Perspectiva interessante. – Maze passava o dedo pela borda do copo.

-O que eu quero dizer é que a gente tem jeito, sabe.

-Não, eu não. Você tem seu demônio interior, mas eu sou o demônio em pessoa. – Maze bebeu toda a gim de uma vez e sorriu.

-Aí é que está. Você é o próprio demônio, como se intitula, então conhece-o por inteiro. Domine para que ele não o faça com você. – Dan deu um tapinha em seu joelho e pediu mais bebida para os dois, deixando uma Maze pensativa.

 
***
                Na manhã seguinte, Lúcifer estava sentado ao piano de sua suíte. Dedilhava acordes soltos de um soneto de Bach sem de fato se atear ao que fazia. O elevador abriu e Amenadiel entrou com o pequeno Charlie no colo.

-Oi, Luci. – Amenadiel parou ao lado do piano.

-Charlie. – Lúcifer levantou e olhou o menino que esticava as mãozinhas para ele. – O que estão dando para essas crianças crescerem tanto? – Lúcifer comentou esticando a mão. Charlie agarrou seu dedo. – Ele já mostrou algum sinal celestial?

-Não, estou na expectativa. – Amenadiel disse sorrindo para o filho.

-Irmão, você acha que eu daria um bom pai? – Lúcifer perguntou, sentindo o quanto isso era estranho saindo de sua boca. Amenadiel ficou surpreso.

-Puxa, Luci, eu... você engravidou alguma humana?

-Ah, não... eu, só estou me envolvendo com a Chloe e tem a criaturinha dela e...

-Você realmente sente algo muito forte por ela, não é?

-Bem, na verdade sim, irmão! Nós... tivemos finalmente nossa noite ontem, se é que me entende.

-Eu não acredito! Luci, que bom! – Amenadiel bateu no ombro do irmão realmente feliz.

-Amenadiel, quando você e a Linda transaram, você sentiu algo? Quero dizer, algo fora do carnal?

-Como assim, Luci?

-Eu não sei, sentiu algo intenso?

-Nunca achei que fosse viver para ver meu irmãozinho pedindo conselhos sobre essas coisas.

-Esquece, Amenadiel. Você consegue estragar com o momento. – Lúcifer bufou e pegou uma bebida no bar. Amenadiel ria enquanto deixava Charlie no sofá, o menino engatinhava em cima do couro italiano.

-Luci, sinceramente, eu não senti nada fora do “esperado”, mas se você, o rei da luxúria, está incomodado com algo é de se estranhar mesmo. – Amenadiel tomou um ar mais sério e deu um gole na bebida também. – A gente não pode esquecer que a Chloe foi um milagre do Pai. – Lúcifer rangeu os dentes ao lembrar disso.

-Algo a mais aconteceu naquela noite, Amenadiel, mas eu não sei ainda o que foi.

-Irmão, você sabe que o caminho para a Cidade Prateada está aberto. Aceite o pedido e vá conversar com o Pai.

-Não! E peço para não insistir nisso novame... Amenadiel, cadê o Charlie? – Os dois viraram e o bebe não estava no sofá.

                Os irmãos rodaram o andar inteiro, desceram a Lux e olharam o quarteirão. O bebê havia sumido.

-Linda vai me matar! – Amenadiel murmurou.

Continua...

A Ascensão de Lúcifer (Depois do Adeus)Onde histórias criam vida. Descubra agora