Curiosa Terapeuta

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Pela manhã, Dan apareceu na delegacia para entregar os laudos de Chloe ao departamento pessoal. Ao sair da sala, ele viu Eva olhando o painel de foragidos perto da entrada.

-Tudo bem, Eva? – ele perguntou. Ela o olhou surpresa, mas sorriu.

-Oi, Dan! Está sim. Estou olhando para ver alguém que precisa ser punido! – ela fez cara de mau, mas Dan riu achando-a fofa.

-Maze não está com você?

-Não, ela está com a Linda. Depois do acidente com o Charlie, Maze está cuidando dele vinte e quatro horas.

-Ela é uma boa tia. – reconheceu Dan ao lembrar da própria filha. Depois, vendo Eva um tanto perdida na delegacia perguntou:  -Mas como você está? Quero dizer, esse lance de caçar recompensas com a Maze...

-Eu achei um jeito de punir quem merece, que era algo que eu gostava no Lúcifer. Ajudo a Maze nos detalhes, mas eu sei que não tenho vocação. Não consigo fazer isso sem ela. – Eva confessou. – A verdade é que achei que seria um bom jeito de me aproximar dela de novo, não sei se está dando muito certo, nos falamos, mas ela não está me dando mais abertura.

-Vem tomar um café. – Dan sugeriu e os dois foram para a copa. Ele colocou um gole de café para ambos, pensando em como falaria.

-Sabe, Eva, a Maze se apaixonou por você de um jeito que eu nunca vi e eu acho que por isso ela sofreu tanto. Eu, bem, ela é cabeça dura, mas eu gosto dela. Queria que você tivesse certeza de seus sentimentos pela Maze. Sei que quando a gente percebe o que uma pessoa faria por nós nos encantamos, mas precisamos ter certeza se isso é realmente amor, eu ficaria bem mau se ela tivesse uma recaída de novo. – Dan comentou. Eva ficou quieta, pensativa, mas depois sorriu.

-Obrigada, Dan. – ela deu um gole no café. – Não quero magoá-la.

                Chloe acordou quando Trixie espirrou ao seu lado. A menina virou-se e se acomodou para longe. Chloe coçou a vista e se sentou na cama, ela estava revigorada de todos os acontecimentos sobrenaturais que passou. Ainda sentia-se mexida por pensar que esteve momentaneamente morta ou que esteve no Céu, no tão falado Céu da Bíblia, no mesmo Céu que expulsou Lúcifer o homem que amava, era uma mistura de sentimentos muito grande que ela não conseguia digerir.

                Ela vestiu um roupão e foi a janela, o céu estava claro e o relógio indicava que eram sete e vinte da manhã. Pensou que quando ela foi dormir, Lúcifer teria ido para casa, mas parou ao ver pela janela no jardim dos fundos algo que chamou a atenção. A mulher desceu e abriu a porta da cozinha que dava ao jardim de trás. Ela ajoelhou-se e pegou a pena branca alongada e cintilante e instintivamente olhou para o céu.

                Chloe lembrava, no íntimo, como se alguém tivesse soprado-lhe pelo ouvido a frase “Filho, venha a mim!”, teria ela ouvido ou mesmo teria dito? Naquele momento ela não sabia exatamente, mas teve certeza de que Lúcifer foi ao encontro do Pai. Do homem que em diversas ocasiões viu Lúcifer murmurar achando ser metáforas e hipérboles para seus problemas familiares, mas que agora tinha ciência da grandeza da situação e ficou com medo, com muito medo de algo ter acontecido.

                Uma semana depois, dra. Linda estava encerrando seu expediente no consultório. Ela desligou o notebook e fechou as persianas. Finalmente ela e Amenadiel estavam se adaptando a nova fase do pequeno anjo Charlie. Ele mostrava as asas quando sentia suas emoções descontrolarem. Amenadiel cantava músicas angelicais e ele se acalmava, mas quando não estava por perto, Linda conseguia resolver o problema com um pedaço de chocolate. Ela pegou a sacola de doces comprados mais cedo justamente para a situação e estava prestes a sair quando uma sombra transpassou pela persiana. Ela estranhou e a abriu, ao fazer isso viu a figura de Lúcifer no jardim do consultório. Ele estava com aspecto cansado, o cabelo desgrenhado e com marcas de queimaduras de sol, como se tivesse ficado dias andando no deserto. As asas expostas, descansavam suavemente ao chão, vibravam como se tivessem voado por muito tempo, os lábios secos e ressecados, estava descalço com um tipo de roupa branca que Linda jamais o vira usar.

-Lúcifer. – ela murmurou entre surpresa e o espanto.

-Me ajuda, doutora. – ele pediu, os joelhos fraquejando e caindo ao chão, desmaiando.

                Quando Lúcifer acordou, estava deitado em seu tão conhecido divã. Amenadiel e Linda o encaravam preocupados e suspeitos.

-Água. – o homem murmurou e Linda, como se já soubesse, estendeu o copo em mãos. Lúcifer bebeu para molhar a boca seca.

-Onde esteve, Luci? Estava preocupado. – quis saber Amenadiel.

-Estive com o Pai, irmão. – Lúcifer respirou fundo e sentou-se. – Com o Pai em pessoa. – ele completou. Amenadiel arregalou os olhos, mas não respondeu de antemão.

-Não costumam ver o Pai de vocês? Tipo, cara a cara? – Linda quis saber.

-Não. – murmurou Amenadiel sem alterar a expressão séria. – Só o vi uma vez pessoalmente, e foi para uma missão.

-Bom, então o que ele queria? – Linda perguntou curiosa e fascinada.

-Dizer algumas coisas, explicar o sumiço da minha cara de Diabo, da minha não entrada no inferno e da Chloe...

-Da Chloe?  - Linda perguntou.

-Conte a ela, Amenadiel. – Lúcifer bebeu mais água.

-O Pai havia pedido para que eu abençoasse um casal, e esse casal se tornou pais de Chloe Decker.

-Oh. – Linda arregalou os olhos e olhou com cautela para ver a reação de Lúcifer.

-Eu estava tentando superar esse pequeno detalhe da minha vida até descobrir que Chloe não foi criação do Pai e sim minha! – Lúcifer se ergueu, zangando-se de novo.

-Sua? – Amenadiel pareceu surpreso.

-Sim! De acordo com o Pai, Chloe foi a canalização do meu “amor” por tudo que a humanidade possuía de bom.

-Mas, vocês anjos podem fazer isso? – Linda estava mais perto, sedenta para saber.

-Teoricamente não todos, mas eu posso. – Lúcifer olhou com significado a Amenadiel.

-Claro! Ele é portador da Luz, arcanjo de Deus. – anunciou Amenadiel e depois sorriu. – Isso era tão obvio, mas depois que decaiu...

-Exato. Eu achei que tinha perdido os poderes junto com o título pomposo. – Lúcifer coçou a cabeça cansado.

-Mas você não falou porque não pode voltar ao Inferno. – apontou Linda, tentando encaixar todas as peças.

-Estou ascendendo! – Lúcifer abriu os braços, rindo, como se fosse a piada do ano. – O Inferno não comporta mais minha angelicalidade!

-Achei que para assumir o inferno tinha que ser justamente um anjo! – comentou Linda confusa.

-Sim, qualquer anjo pode assumir o trono. Mas, a sua teoria, Amenadiel, mais uma vez acertou na mosca. Eu a assumi de livre vontade porque me sentia digno do inferno, porque me permiti assim ser, me achava tão indigno quanto a escória humana. Mas em teoria um arcanjo não pode permanecer muito tempo no inferno, sua vibração no comporta o ambiente denso.

-Ok, muita informação. – Linda sentou-se no divã e pegou o copo de água da mão de Lúcifer e o olhou como se o descobrisse pela primeira vez. – Então se não há mais diabo e seus poderes angelicais estão ampliando... qual, afinal, seu destino agora, Lúcifer? – perguntou Linda, como se temesse a resposta.

-Tenho que descobrir. – o homem olhou a janela. Linda abriu a boca, mas como se Lúcifer lesse sua mente ele completou – O Pai não diz o destino, Doutora, interfere no amado livre arbítrio dele, é por nossa conta tomar as decisões.

Continua...

A Ascensão de Lúcifer (Depois do Adeus)Onde histórias criam vida. Descubra agora