Deus

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-Deus Johnson? Não me diga que morreu. – Lúcifer deu um passo, ficando frente a frente com o homem.

-Não, filho, sou eu. – o homem estava ereto, uma mão em direção a Lúcifer, convidando-o a se aproximar. – Esta foi a forma a que me chamou. Gosta desse homem?

-Sim, ele foi um pai para mim em dias a qual você não foi em milênios. – Lúcifer escarnou ao perceber que não era o Johnson, o brilho que emanava dos olhos, como se mal contivesse a divindade numa forma humana; era Deus.

-É bom vê-lo, Samael. É bom tê-lo aqui. – ele sorriu.

-Não me chame assim, você me transformou no Diabo e quero que me trate como tal! – Lúcifer ameaçou. – O que quer?! Diga logo!

-Samael, meu filho, os anos não suavizaram sua raiva. – lamentou o Pai.

-Muito pelo contrário, Pai, só as aumentou! – rangeu Lúcifer. – Qual será o preço pela vida de Choe? Fale e vamos acabar logo com isso.

-Não o chamei pela mulher, filho, já é chegado o tempo de conversarmos.

-Não tenho nada a dizer. – disse Lúcifer, sentindo alívio em saber que Chloe não era alvo da conversa. – Se era só para me ver aqui então posso ir.

-Se quiser pode ir, mas sei que não é o caso. Tem coisas a me dizer.

-Você sabe não, é? Óbvio que sabe! Então qual a diferença de sair pela minha boca ou não?!

-A diferença, Samael, é que eu responderei aos seus vazios mais profundos. – Deus estava sério e até severo. – Eu errei em muitos aspectos, filho, mas jamais com você e acho que precisa saber!

-Estranho você dizer isso, achei que eu só existia ainda pela benevolência da Mãe. – Lúcifer cruzou os braços.

-Oh, filho! No fundo você sabe que sua mãe mentiu sobre isso para que se aliasse a ela. – Lúcifer não respondeu, ele sabia que depois de tudo não seria novidade sua mãe ter mentido.

-Então voltamos à estaca zero, muito bom! Agora que tudo foi esclarecido, eu acho que...

-Não quer saber porque está se sentindo diferente? – o homem caminhou até o precipício, como Lúcifer fazia quando criança. Olhou a vasta paisagem que se perpetuava a sua frente, Lúcifer não respondeu de antemão, porque até então estava ignorando o assunto pois temia vir problemas.

-Tem algo a ver com a revelação de que eu não posso mais voltar ao Inferno?

-Sim. – o homem virou-se e encarou Lúcifer sério. – Sua barragem do Inferno na verdade é uma consequência, não a ação. A ação seria justamente a elevação de seu poder, não comporta mais a entrada num plano tão baixo.

-E porque diabos isso agora? Isso é algum tipo de truque para eu perdoá-lo? Não tenho o ego tão inflado quantos os outros para querer mais poder, seu jogo foi inútil, Pai. – Lúcifer escarnou. Mas o homem o fitou e sorriu.

-Venha comigo. – o homem virou-se e começou a caminhar, Lúcifer, a contragosto, o seguiu.

                Os dois começaram a descer o vale em silencio, o som suave da natureza acalmava os nervos do Diabo à medida que seguiam por entre as árvores úmidas. Ao chegar num riacho rodeado de vegetação, o homem sentou-se numa larga raiz de árvore exposta e indicou para que Lúcifer sentasse ao seu lado, ele demorou alguns segundos, mas sentou-se na borda mais distante do Pai, os dois agora olhavam o riacho.

-Eu criei Amenadiel para que fosse o sábio, o protetor e o maior guerreiro dos Céus, alguém forte e um bom pensador para que ajudasse seus irmãos. Criei, então, você e Miguel para que fossem os co criadores do mundo, e assim o foram. Você era o meu portador da luz. – Lúcifer lembrou das poucas vezes em que ficou com o Pai, e da missão que ele incumbiu a ele e a Miguel, de zelarem pelo equilíbrio cósmico, Miguel era o idealizador e Samael encaixava, moldava e dava sentido; ele trazia a vida. Deus prosseguiu:

A Ascensão de Lúcifer (Depois do Adeus)Onde histórias criam vida. Descubra agora