Capítulo IV - Mas o que é que o teu pai tem a ver com isto?

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Chego à cozinha e vejo o Duarte sentado, a beber uma cerveja.

C.:Já a beber?! - sento - me numa cadeira lá da coozinha.

D.:Tem que ser, é que tu nem imaginas... - dá um gole.

C.: O que é que se passa?

D.: O Sr.Lourenço veio - me com uma conversa estranha...

C.: Sim...?

D.: Disse que nós tínhamos de sair daqui.

C.: Sair?! Porquê, fizemos alguma coisa de mal?

D.: Também não percebi. E depois ele começou a falar do meu pai que «o seu pior erro foi não ouvir o seu instinto».

C.: Espera lá, o que é que o teu pai tem a ver com isto?

D.: Não sei, se queres que te diga, não sei. Ele está completamente louco! - deu - me as mãos - Eu não quero que as nossa férias se estraguem por causa de uma conversa sem sentido nenhum de um homem que deve estara enlouquecer, só pode!

 C.: Mas e se ele tiver razão? E se houver algum psicopata que mate todas as pessoas que vêm para cá?!

D.: Carla, não há psicopata nenhum. Por amor de Deus, estamos no Santo da Serra, não na América! - deita a garrafa de cerceja no balde do lixo e aponta para o jardim da janela da cozinha - Olha, está um dia tão bonito lá fora e nós estamos aqui dentro a discutir! 

C.: És capaz de ter razão...

D.: Vamos lá para fora... Podíamos fazer um piquenique, estou cheio de fome!

C.: Ok, mas  não temos comida aqui em casa. Temos de ir ao supermercado.

D.: Queres que eu vá e ficas aqui com o Miguel?

C.: Não, eu vou e tu ficas com o Miguel. Ele está chateado comigo porque disse que não havia nada no quarto.

D.: Ah, aquilo da velha...

C.: Pois, fala com ele sobre isso. Diz - lhe que é imaginação dele, não sei...

 D.: Não te preocupes...

C.: Ok. - dou - lhe um beijo - Até logo.

D.: Até logo.

Entro no carro, está um frio de rachar! 

Entro numa mercearia ali perto onde só estava eu e mais meia dúzia de pessoas. Tiro pão, queijo de barrar atum, maionese, um pacote de batatas fritas e uma garrafa de coca - cola. Chego à caixa e não havia nenhuma fila, que bom! 

Empregada da caixa: É tudo?

C.: É, vou fazer um piquenique.

E.: Que bom, mas 'tá um bocado de frio não acha, senhora?

C.: Pois está, mas vou ter que me habituar... Eu e a minha família vamos passar o Natal cá no Santo.

E.: Mas a senhora e o marido têm casa cá?

C.: Não, o meu marido vivia cá em pequeno, mas depois a casa foi vendida. Por isso, estamos na Casa do Mestre.

E.: Na Casa do Mestre, é? 

C.: Deve saber qual é...

E.: Se não sei... É apenas a casa mais falada daqui do Santo!

C.: E é falada por bons ou maus motivos?

E.: Depende...

C.: A sério, pode - me dizer. É que ultimamente, toda a gente fica esquisita assim que eu digo que vou passar o Natal na Casa do Mestre... Não sei porquê, sabe?

E.:Bem, é apenas um rumor, quer dizer,... É mais uma lenda do que um simples rumor! 

C.: Por favor, diga - me o que é que aconteceu na casa?

E.: 'Miga, agora estou muito ocupada.

C.: Não parece. - olho para o minimercado totalmente vazio.

E.: Oiça, Dona, eu estava a tentar não assustá - la, mas já que quer tanto saber, tudo bem! - olha em volta - Mas, para as  minhas colegas não fazerem queixa de mim ao meu chefe, vá buscar mais umas coisinhas que se esqueceu.

C.: Mas porque é que elas haveriam de fazer queixa sua se não clientes aqui?!

E.: Quer ou não ouvir a história?!

C.: Pronto, parece que me esqueci de comprar... Salsichas! 

Vou até à secção dos elatados e pego numa lata de salsichas. Volto, muito rapidamente, para a caixa do supermercado.

C.: Feliz? - pouso a lata em cima da caixa.

E.: É uma casa bonita, eu lembro - me de estar sempre a pedir aos meus pais para passar lá de carro, aos fins - de - semana.

C.: Mas não se dá para ver a casa da estrada...

E.: Eu sei, não sou tonta, senhora. Os meus pais ficavam na rua, a aguentar o carro, enquanto eu ia às escondidas ver a casa. Só por fora.

C.: E nunca foi apanhada?

E.: Nunca, sempre que alguém ia passar férias ou fins - de - semana naquela casa, toda a gente sabia e aí, os meus pais diziam - me para não ir lá.

C.: E acontecia alguma coisa a essas pessoas?

E.: Não, eu nunca ouvi falar em mortes de turistas naquela casa... Se morreram a caminho de casa, não sei, mas se morreram dentro da casa do Mestre, tenho a certeza que não! Se não, sabia - se logo.

C.: Que alívio...

E.: Mas acho que deve saber isto. - olha à sua volta.

C.: Diga.

E.: Eu já estava farta de passar lá de carro, eu queria era entrar e ver como era! Mas os meus pais não tinham dinheiro para passarmos lá férias, na altura estava ainda mais caro do que agora, acho que está a fechar... Bem, então, eu pedi - lhes para ir outra vez de carro lá. Mas desta vez, eu fui até à porta principal e tentei abrir, mas não consegui. Por isso, fui até às traseiras e vi uma janela que não estava fechada, mas era demasiado pequena para eu entrar. Então tentei espreitar por dentro e ouvi a voz de homem e de uma mulher e... Parecia que ela estava a gritar e a pedir ajuda, não sei já foi há tanto tempo... 

C.: Mas viu quem era?

E.: Não, desatei logo a correr.

C.: E aconteceu mais alguma coisa?

E.: Não, nunca mais lá voltei.

C.: Ok, obrigada pela informação.

E.: No que eu puder ajudar...

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