A maior parte das bonecas desapareceu, ficando apenas algumas e estas já estam todas velhas e gastas. Umas sem um olho, outras sem um braço ou uma perna e outras com ainda em pior estado!
Este quarto está bastante diferente, as paredes em vez de rosa e com papel de parede, estão pintadas de verde; a cama agora encontra - se em frente à janela e também parece - me que já não é a mesma. Tudo foi mudado...!
Saio do quarto e vou até ao quarto buscar a minha escova de dentes. Tiro - a juntamente com a pasta dentífica e vou até à casa de banho que pertence mesmo ao quarto. Começo a lavar os dentes e, ao lavar a escova com água, com a ajuda dos meus dedos, faço um corte no dedo, não sei como.
Preciso de um penso rápido! Encontro um no armário em baixo do lavatório e ponho - o sobre o dedo. Reparo nos nomes dos medicamentos que estão no armário: aspirinas, calmantes,... Calmantes, preciso de um calmante!
Pego no frasco de calmantes e começa a ter outra visão. Desta vez, vejo o Lourenço a retirar dois comprimidos do mesmo frasco e dirige - se ao balcão da cozinha. Está um cheiro agradável aqui na cozinha, acho que é da carne assada que está no forno. Lourenço pousa os comprimidos sobre uma tábua de madeira e começa a esmagá - los com uma faca, tornando - os em pó branco. De seguida, deita o pó sobre a salada pelos vistos preparada por ele e mistura - o bem, para não se notar a sua presença.
Entretanto, a Patrícia chega à cozinha acompanhada pelo mestre.
P.: Hum, que cheirinho...!
L.: Fiz lombo de porco assado.
Mestre Pedro.: Lourenço, eu e a Patrícia precisamos de falar contigo.
P.: Pedro, falamos nisso a seguir do jantar.
M.: Não, falamos disso já aqui, sem rodeios!
L.: Digam lá, o que é que se passa?
P.: Lourenço, tem calma...
M.: Credo, Patrícia, eu estou bem! - começa a falar com um tom de voz cada vez mais irritado e arrepiante - Não sou louco...!
P.: Eu não disse que eras louco, pedi - te apenas que te acalmasses. - olha para Pedro assustada e irritada ao mesmo tempo - Vá, vamos pôr a mesa e começar a comer e depois falamos.
Pedro olha para ela e suspira.
Lourenço parece estar mais calmo, mas continua a não conseguir disfarçar a sua raiva. Pega nos pratos e nos talheres e coloca - os bruscamente sobre a mesa.
Patrícia pousa o lombo de porco assado, a salada e a panela de arroz na mesa, muito nervosa, enquanto, Pedro põe os copos.
Os três sentam - se à mesa e cada um se serve de comida, sempre muito calados, tornando o ambiente entre eles ainda mais constrangedor.
M.: Bem, já que estamos à mesa, posso começar, Patrícia?
Patrícia prepara - se para falar, mas Lourenço interrompe - a.
L.: Diz lá de uma vez! - e começa outra vez a ficar irritado...!
M.: Muito bem - faz uma pausa e olha para Patrícia - O pai deixou - nos a casa.
E então, Lourenço levanta - se da mesa tão bruscamente que quase que esta e a sua cadeira viraram. Patrícia deu um pulo, mas o Mestre parecia já estar à espera daquela atitude do Lourenço.
L.: Repete lá. - dá voltas à cozinha, com o punho fechado enconstado à boca.
P.: Lourenço, nem eu nem o Pedro percebemos a atitude do pai...
Lourenço vem rapidamente, quase a correr, até Patrícia e põe - se tão próximo dela, como se lhe estivesse quase a bater.
L.: Cala - te! - grita, agora nem sequer tenta esconder a sua raiva - Tu e o Pedro sabem exatamente porque é que o pai vos deixou a casa!
Pedro levanta - se para defender a irmã.
M.: Hey, vamos ter calma... - afasta com a mão o irmão de Patrícia.
L.: Tu não me digas para ter calma! - grita, furioso com o gesto e com a frase do Mestre.
P.: Por favor, Lourenço, senta - te. Vamos falar como três adultos.
Lourenço continua a olhar para Pedro, mas desvia o olhar e volta a se sentar.
P.: Nenhum de nós pensou que o pai faria tal coisa...
L.: Ai não? Deves achar que sou tonto...!
M.: Nós podemos te dar a tua parte, se quiseres.
L.: Qual parte?! - inspira fundo - Que eu saiba o sacana do nosso pai deixou a casa onde cresci aos meus dois irmãos e nem sequer me deixou nada.
P.: Não chames o pai de sacana! - começa a ficar irritada.
M.: Lourenço, às tantas o pai deve ter - se enganado no testamento...
L.: Não, ele não se enganou, Pedro. E tu sabes perfeitamente. O pai nunca gostou de mim. A Patrícia era a «menina do papá» e tu eras a versão pequena dele, o Mestrezinho!
M.: Não digas disparates...!
L.: Tem piada, ele olhava para ti com tanto orgulho... E, para mim... Com desprezo!
P.: Lourenço, o pai não tinha filhos preferidos... E não adianta nada estarmos para aqui a dizer se o pai gostava mais daquele do que d'outro, isso não importa. - faz uma pausa - O mais importante é que vais receber a tua parte, tal como eu.
L.: Vais vender a tua parte?
P.: Vou. - faz uma pausa, olha para Pedro - Não faz muito sentido mudar - me para cá se tenho a minha própria casa e mesmo no centro do Funchal. Se me mudasse para aqui, precisava de um carro para ir trabalhar, coisa que não tenho, e também precisava de me levantar mais cedo todos os dias. Nâo... Não faz sentido mudar - me para aqui, é por isso que acho que o Pedro é que deve ficar com a casa, ele tem a garagem do pai onde ele trabalha e dá - se melhor a viver aqui do que nós.
M.: Mas não se preocupem que eu compro - vos a vossa parte.
Lourenço fica uns segundos parado, sem dizer absolutamente nada, apenas a ouvir e a pensar para si mesmo.
P.: O que é que achas, Lourenço?
M.: É óbvio que eu não te vou conseguir pagar logo, vou pagando a prestações...
L.: Não te preocupes com isso. - diz pausadamente, o que foi muito estranho.
M.: Então estás de acordo?
Lourenço não responde, continua a pensar para si mesmo.
P.: Lourenço?
L.: Hã? - acorda - Sim, estou de acordo.
M.: Ok... Não dizes mais nada...? - Patrícia fica surpreendida com a atitude de Lourenço.
L.: Heee... Vamos comer antes que a comida arrefeça...?
Patrícia e Pedro dão uma ligeira gargalhada e os três começam a comer.
L.: Sirvam - se da salada.
Desculpem a demora, o que é que acharam?
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Férias Arruinadas
HororUma família que decide passar as suas férias de natal numa casa de campo, totalmente isolada, sugerida pelo colega de trabalho do pai, passa por um grande período de terror. Chamam a isto férias?! ____________________________________________________...