Capítulo XI - Como é que tu és capaz de nos fazer mal por apenas uma casa?!

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17:00

Após desligar a chamada, os arrepios aumentam e espalham - se pelo meu corpo.

Apercebo - me que estou a ter uma visão, mas, desta vez, estou a subir as escadas para o segundo andar. Pela falta de iluminação, parece que é tarde. Chego ao andar de cima e vou até ao quarto de criança, mas assim que entro, vejo não há nada ali, por isso saio do quarto. Oiço um gemido vindo do quarto de casal e, rapidamente, desloco - me até lá. Abro a porta muito lentamente, para não fazer barulho e entro no quarto. O quarto, ao que parece, está vazio, até que oiço um soluço vindo de baixo da cama. Aí, cautelosamente, espreito de baixo da cama e vejo uma mulher loira, apavorada, muito provavelmente essa tal Patrícia. Ela, assim que me vê dá um pulo e começa a gritar:

P.: Não eras capaz...

EU: Queres mesmo me pôr à prova?! - devido ao tom de viz grave, chego à conclusão de que sou um homem.

P.: Como é que tu és capaz de nos fazer mal por apenas uma casa?! Uma  casa que nem é tua!

EU: Eu tenho tanto o direito de ficar com ela como tu e o Pedro!

P.: Nós somos teus irmãos!

Logo após a Patrícia falar, jogo - a para a cama e amarro as suas mãos à cama de ferro. Ela agora já nem tentava protestar, estava clara a sua fragilidade. Pego numa almofada e sufoco - a até deixar de dar luta. 

M.: Mãe?! - Miguel toca - me no ombro.

Acordo de repente e dou um pulo de susto, o meu coração está a mil neste momento.

C.: Diz, Miguel.

M.: Eu e o pai estavamos a perguntar - te se querias jogar à bola connosco.

C.: Não me apetece, querido. Joguem os dois.

Duarte aproxima - se de mim, de forma a que Miguel não oiça a nossa conversa.

D.: O que é que aconteceu? - diz, num tom de voz baixo.

C.: Depois falamos.

D.: Ok, estás bem?

C.: Sim, não te preocupes. - tento mudar de assunto - Vai jogar à bola com o Miguel.

D.: Ok, se precisares de alguma coisa... - levanta - se e vai jogar à bola.

19:20

O Miguel e o Duarte já estavam cansados de jogar à bola, por isso sentaram - se a meu lado.

M.: Mãe, ainda temos alguma coisa para comer?

C.: Só sobrou uma sandes de atum, queres?

M.: Ok.

C.: Divide com o papá.

D.: Estou cheio de fome!

C.: Comam a sandes agora, para depois já irmos embora, antes que anoiteça.

D.: O que é que fazemos para o jantar?

C.: Não sei, não me apetece nada ir outra vez ao supermercado.

D.: Apetece - te uma piza?

M.: Sim!

C.: Ok, podemos encomendar uma.

19:30

Miguel dá - me o papel de alumínio que embrulhava a sua sandes de atum, que tinha acabado de comer, e guardo no cesto da comida.

C.: Vamos?!

M.: Não!

C.: Tem que ser, querido. Já está a ficar escuro e frio, ainda para mais que tens que tomar banho antes de comeres a piza!

M.: Porquê se estamos de férias?

D.: Já olhaste bem para ti, estás cheio de lama!

C.: Vamos.

Levantamo - nos e saimos dali, com muita pena do Miguel. Ai, que bom estar dentro do carro, aqui está tão quentinho!

C.: Bem, lá fora estava um frio...! - encosto a cabeça no banco do carro.

D.: RFM? 

C.: Ok.

M.: E o meu CD? Onde é que ele está?

D.: Não sei, aqui dentro não está de certeza. Eu e a mamã procuramos por todo o lado...

C.: Deixa estar, também já estava na altura de deixar de ouvir o Ruca, não achas Miguel?

D.: Não preferias um CD daquela banda que está sempre a dar na Disney Channel?

M.: Não, eu quero o do Ruca!

C.: Ok, depois eu compro - te outro do Ruca. Mas enquanto ouvimos a RFM. 

Duarte liga o rádio e põe na RFM.

D.: Gostaram do piquenique?

C.: Adorei! - já estava com os olhos fechados, mas ainda os conseguia ouvir.

D.: E tu, Miguel, não gostaste?

M.: Eu goste, só que...

D.: Sim... - Duarte olha para Miguel através do espelho do carro.

M.: Tenho medo da hora de dormir.

E lá se foi a minha sesta...

C.: Miguel, ainda falta tanto tempo...

D.: E já te dissemos que não é preciso teres medo.

M.: Não posso... Dormir... Com vocês...?

C.: Não! 

D.: Então e o que é que acontece no resto da semana?! Vais dormir sempre connosco? Não pode ser, Miguel...!

Por entre o nevoeiro, vejo o portão velho de madeira da casa.

Entramos pela estrada privada e Duarte estaciona o carro, com pouco cuidado. Credo, como a casa ainda parece mais assustadora! Esperem... E, pronto, começou a chover.

D.: Esperem aqui, vou buscar o guarda - chuva. - Duarte sai do carro e, muito rapidamente, tira dois guarda - chuvas velhinhos do porta - bagagem.

Duarte abre - me a porta e passa - me um dos guarda - chuvas e dirige - se a Miguel, acompanhando - o até ao alpendre da casa e, logo a seguir, volta ao carro para trazer as coisas do piquenique.

Enquanto ele vai ao carro, trato de ligar ao Pizza Hut, pois era a única pizaria cujo cartão estava afixado à lista telefónica da casa.

Pego no telefone e começo a marcar o número do cartão.

*Miguel

Boa, a mãe está a ligar para a pizaria, por isso ainda tenho tempo de brincar antes de tomar banho!

Vou para a sala e começo a procurar algum jogo numa cesta. Monopólio... Cartas... Xadrez! Boa, adoro jogar xadrez! Retiro a caixa de cartão coberta de pó e pouso - a em cima de uma mesa pequena e velha que está entre o sofá e a televisão. Retiro o jogo da embalagem e começo a jogar sozinho

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