Capítulo XII - Natal à Sherlock Holmes!

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*Duarte

Mas que chuva forte! Retiro o cesto e a manta do piquenique e começo a correr para o alpendre. Toco à campainha e Carla abre - me a porta.

C.: Estás todo encharcado!

D.: Não sou só eu. - mostro a cesta e a manta também todas molhadas.

Entro em casa e tiro os sapatos e o casaco. 

D.: Já encomendaste a piza? - grito para Carla, que estava na cozinha.

C.: Já! - grita também da cozinha.

Vou até à sala e vejo Miguel sentado no chão a jogar xadrez sozinho, mas, pelos vistos, não estava sozinho, pois estava a falar com alguém. Aproximo - me dele para ouvir melhor a sua conversa.

M.: É a tua vez. 

E nesse momento acontece uma coisa extraordinária: uma peça do jogo mexe - se sozinha e começa a andar pelo jogo.

Fico sem palavras. Nem sequer me aproximo de Miguel, limito - me a ficar num canto da sala, encondido para observar melhor.

M.: Eu já te disse que ele não está aqui! - diz Miguel, irritado, e segura a cabeça com mão. - Ele foi - se embora. - faz a sua jogada - É a tua vez. 

Vou até à cozinha para chamar Carla.

D.: Carla! - digo a sussurar.

C.: O que é que foi?

D.: Anda ver isto. - fiz sinal para andar - Não faças barulho!

C.: Mas o que é que se passa?

D.: Segue - me e não faças barulho.

Chegamos à sala e ficamos num canto, escondidos.

C.: O que é que tem?! 

D.: Vê.

C.: Só vejo o Miguel a jogar xadrez...

D.: Vê com quem ele está a jogar. - aponto para ele.

Miguel continua a jogar e a falar com não sei quem.

M.: Mas ele pareceu - me simpático... Eu até mostrei - lhe a minha coleção de carros e ele gostou muito. - faz uma pausa, como se estiveste a ouvir a resposta.

C.: Mas com quem é que ele está a falar? - Carla sussura muito baralhada.

D.: Não faço ideia...

Miguel continua a falar.

M.: Eu sei... Já me disseste isso mil vezes...

C.: Duarte, ele nunca teve amigos imaginários, tu achas que...?

D.: Acho. - faço sinal com a cabeça para irmos falar com ele.

Saímos do canto da sala e fomos ter com Miguel.

M.: Pai, olha para ti, estás todo molhado!

C.: Filho, com quem é que estavas a jogar...? - diz Carla, cautelosamente.

M.: Com o Mestre.

D.: Com o tal Mestre que nos falaste?

M.: Sim, o irmão da Patrícia e do Lourenço.

D.: Espera lá... - retiro do bolso a foto da Patrícia com o Lourenço e esse tal Mestre - É este o Mestre? E é esta a Patrícia?

M.: Sim, são mesmo esses! 

C.: Onde é que arranjaste essa foto, Duarte?

D.: Estava na gaveta daquele móvel. - aponto para um armário - Miguel, estavas a dizer ao Mestre que um tal homem já se tinha ido embora e que lhe mostraste a tua coleção de carrinhos... Estavas a falar do Lourenço?

M.: Sim, o Mestre disse - me para ter cuidado com ele.

C.: Mas porquê? Porque é que precisas de ter cuidado com o Lourenço? Afinal, o que é que ele tem a ver com este assunto?! - Carla senta - se no sofá, muito agitada.

D.: Tem calma, Carla. Diz lá, Miguel, o que é que o Lourenço tem a ver com isto?

M.: O Mestre e a Patrícia disseram que o Lourenço os matou.

Carla fica parada, sem reação.

D.: O Lourenço, o dono da casa?

M.: Sim e o Mestre disse - me que ele nunca foi nem nunca será o dono desta casa.

D.: Eles disseram - te mais alguma coisa, filho? - aproximou - se dele - Pensa bem, isto é muito importante.

 M.: Só para termos cuidado que ele vem aí.

D.: Miguel, deixas - me falar com a mamã a sós? - dou - lhe uma pancadinha nas costas - vai preparar o banho de imersão.

M.: Ok, mas não demorem. - levanta - se.

D.: Não tenhas medo, filho, nós estamos aqui em baixo. - dou - lhe um abraço rápido.

Miguel sai da sala. Assim que ele se vai embora, sento - me ao lado da Carla.

D.: Carla, isto está a fic-

C.: Duarte, tenho de dizer uma coisa. Tive uma visão enquanto tu e o Miguel jogavam à bola.

D.: Porque é que não me contaste?

C.: E como é que eu te ia contar?! Não ia falar disto à frente do Miguel!

D.: E como é que foi a visão?

C.: Eu... Estava a ir para o quarto de criança, onde o Miguel vai dormir esta noite e... Abri a porta e não vi nada lá, por isso fui até ao quarto de casal e a Patrícia estava escondida debaixo da cama. Devias de ver o olhar da pobre mulher, estava aterrorizada e assim que me viu... Parece que me  reconheceu e depois volto a ficar assustada e disse: «Como é que és capaz de nos fazer uma coisa destas, aos teus irmãos por apenas uma casa?!». O que é que isto quer dizer?

D.: Espera lá, ela disse «Aos teus próprios irmãos»?

C.: Sim.

D.: Então ela deve estar a falar de Lourenço.

C.: Mas tu achas que ele matou os irmãos?

D.: Acho que sim, mas porquê? Porque é que ele mataria os seus próprios irmãos?! - levanto -. me já nervoso e agitado com esta conversa.

C.: Para ficar com a casa! Então, a Patrícia disse: «Como é que és capaz de fazer uma coisa destas aos teus próprios irmãos por apenas UMA CASA?!»!

D.: É isso, o Lourenço matou a Patrícia e o Mestre para ficar com esta casa!

 C.: Isso é uma boa teoria, mas não temos provas...

D.: Ainda não, mas vamos ter...! 

C.: E achas que o Lourenço nos pode fazer mal?

D.: Acho que não, afinal o meu pai era bastante amigo dele... Espera lá...

C.: O quê, achas que ele é capaz de nos magoar?!

D.: Não, não é isso. Não te lembras de eu te contar a conversa que tive com o Lourenço? Ele disse - me para sairmos imediatamente daqui, porque é que ele nos queria proteger da casa se o único  perigo aqui é ele?!

C.: Será que foi mesmo ele que matou a Patrícia e o Mestre?

D.: Não sei, já não estou a perceber nada de nada... Mas, olha, temos uma semana inteira para descobrir.

C.: Uhh, vai ser um Natal à Sherlock Holmes!

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