*Duarte
Mas que chuva forte! Retiro o cesto e a manta do piquenique e começo a correr para o alpendre. Toco à campainha e Carla abre - me a porta.
C.: Estás todo encharcado!
D.: Não sou só eu. - mostro a cesta e a manta também todas molhadas.
Entro em casa e tiro os sapatos e o casaco.
D.: Já encomendaste a piza? - grito para Carla, que estava na cozinha.
C.: Já! - grita também da cozinha.
Vou até à sala e vejo Miguel sentado no chão a jogar xadrez sozinho, mas, pelos vistos, não estava sozinho, pois estava a falar com alguém. Aproximo - me dele para ouvir melhor a sua conversa.
M.: É a tua vez.
E nesse momento acontece uma coisa extraordinária: uma peça do jogo mexe - se sozinha e começa a andar pelo jogo.
Fico sem palavras. Nem sequer me aproximo de Miguel, limito - me a ficar num canto da sala, encondido para observar melhor.
M.: Eu já te disse que ele não está aqui! - diz Miguel, irritado, e segura a cabeça com mão. - Ele foi - se embora. - faz a sua jogada - É a tua vez.
Vou até à cozinha para chamar Carla.
D.: Carla! - digo a sussurar.
C.: O que é que foi?
D.: Anda ver isto. - fiz sinal para andar - Não faças barulho!
C.: Mas o que é que se passa?
D.: Segue - me e não faças barulho.
Chegamos à sala e ficamos num canto, escondidos.
C.: O que é que tem?!
D.: Vê.
C.: Só vejo o Miguel a jogar xadrez...
D.: Vê com quem ele está a jogar. - aponto para ele.
Miguel continua a jogar e a falar com não sei quem.
M.: Mas ele pareceu - me simpático... Eu até mostrei - lhe a minha coleção de carros e ele gostou muito. - faz uma pausa, como se estiveste a ouvir a resposta.
C.: Mas com quem é que ele está a falar? - Carla sussura muito baralhada.
D.: Não faço ideia...
Miguel continua a falar.
M.: Eu sei... Já me disseste isso mil vezes...
C.: Duarte, ele nunca teve amigos imaginários, tu achas que...?
D.: Acho. - faço sinal com a cabeça para irmos falar com ele.
Saímos do canto da sala e fomos ter com Miguel.
M.: Pai, olha para ti, estás todo molhado!
C.: Filho, com quem é que estavas a jogar...? - diz Carla, cautelosamente.
M.: Com o Mestre.
D.: Com o tal Mestre que nos falaste?
M.: Sim, o irmão da Patrícia e do Lourenço.
D.: Espera lá... - retiro do bolso a foto da Patrícia com o Lourenço e esse tal Mestre - É este o Mestre? E é esta a Patrícia?
M.: Sim, são mesmo esses!
C.: Onde é que arranjaste essa foto, Duarte?
D.: Estava na gaveta daquele móvel. - aponto para um armário - Miguel, estavas a dizer ao Mestre que um tal homem já se tinha ido embora e que lhe mostraste a tua coleção de carrinhos... Estavas a falar do Lourenço?
M.: Sim, o Mestre disse - me para ter cuidado com ele.
C.: Mas porquê? Porque é que precisas de ter cuidado com o Lourenço? Afinal, o que é que ele tem a ver com este assunto?! - Carla senta - se no sofá, muito agitada.
D.: Tem calma, Carla. Diz lá, Miguel, o que é que o Lourenço tem a ver com isto?
M.: O Mestre e a Patrícia disseram que o Lourenço os matou.
Carla fica parada, sem reação.
D.: O Lourenço, o dono da casa?
M.: Sim e o Mestre disse - me que ele nunca foi nem nunca será o dono desta casa.
D.: Eles disseram - te mais alguma coisa, filho? - aproximou - se dele - Pensa bem, isto é muito importante.
M.: Só para termos cuidado que ele vem aí.
D.: Miguel, deixas - me falar com a mamã a sós? - dou - lhe uma pancadinha nas costas - vai preparar o banho de imersão.
M.: Ok, mas não demorem. - levanta - se.
D.: Não tenhas medo, filho, nós estamos aqui em baixo. - dou - lhe um abraço rápido.
Miguel sai da sala. Assim que ele se vai embora, sento - me ao lado da Carla.
D.: Carla, isto está a fic-
C.: Duarte, tenho de dizer uma coisa. Tive uma visão enquanto tu e o Miguel jogavam à bola.
D.: Porque é que não me contaste?
C.: E como é que eu te ia contar?! Não ia falar disto à frente do Miguel!
D.: E como é que foi a visão?
C.: Eu... Estava a ir para o quarto de criança, onde o Miguel vai dormir esta noite e... Abri a porta e não vi nada lá, por isso fui até ao quarto de casal e a Patrícia estava escondida debaixo da cama. Devias de ver o olhar da pobre mulher, estava aterrorizada e assim que me viu... Parece que me reconheceu e depois volto a ficar assustada e disse: «Como é que és capaz de nos fazer uma coisa destas, aos teus irmãos por apenas uma casa?!». O que é que isto quer dizer?
D.: Espera lá, ela disse «Aos teus próprios irmãos»?
C.: Sim.
D.: Então ela deve estar a falar de Lourenço.
C.: Mas tu achas que ele matou os irmãos?
D.: Acho que sim, mas porquê? Porque é que ele mataria os seus próprios irmãos?! - levanto -. me já nervoso e agitado com esta conversa.
C.: Para ficar com a casa! Então, a Patrícia disse: «Como é que és capaz de fazer uma coisa destas aos teus próprios irmãos por apenas UMA CASA?!»!
D.: É isso, o Lourenço matou a Patrícia e o Mestre para ficar com esta casa!
C.: Isso é uma boa teoria, mas não temos provas...
D.: Ainda não, mas vamos ter...!
C.: E achas que o Lourenço nos pode fazer mal?
D.: Acho que não, afinal o meu pai era bastante amigo dele... Espera lá...
C.: O quê, achas que ele é capaz de nos magoar?!
D.: Não, não é isso. Não te lembras de eu te contar a conversa que tive com o Lourenço? Ele disse - me para sairmos imediatamente daqui, porque é que ele nos queria proteger da casa se o único perigo aqui é ele?!
C.: Será que foi mesmo ele que matou a Patrícia e o Mestre?
D.: Não sei, já não estou a perceber nada de nada... Mas, olha, temos uma semana inteira para descobrir.
C.: Uhh, vai ser um Natal à Sherlock Holmes!
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Férias Arruinadas
TerrorUma família que decide passar as suas férias de natal numa casa de campo, totalmente isolada, sugerida pelo colega de trabalho do pai, passa por um grande período de terror. Chamam a isto férias?! ____________________________________________________...