Não me lembro de ter apanhado um susto tão grande na minha vida.
M.: Assustei - te!
D.: Não me assustaste nada...!
Miguel ri de mim.
M.: Pois não...
Carla aparece, com receio. Mas, assim que me vê com Miguel, dá um suspiro de alívio.
C.: Ah, és tu, querido! - dá uma festinha a Miguel.
M.: Quem é que pensavam que era? - olha para nós os dois.
D.: Ninguém...
Carla, atrapalhada, tenta mudar de assunto.
C.: Vamos então ao piquenique, antes que escureça?! - mesmo com um sorriso na cara, notava - se o pânico nos seus olhos.
M.: Boa! - dá um abraço a Carla e depois olha para mim - Já estás melhor, papá?
D.: Muito melhor e cheio de fome! - dou - lhe uma festa na cabeça.
C.: Ok, mas primeiro toma os comprimidos.
16:45
Estendemos a manta de piquenique no relvado húmido da chuva.
M.: Porque é que o chão está molhado?
D.: É da chuva, filho.
C.: Vá, comecem a tirar os pratos de plástico.
M.: Vamos jogar à bola, pai! - levanta - se e pega na bola.
D.: Primeiro, vamos comer.
M.: Mas...
C.: Não tens fome, querido? - tiro - lhe a bola da mãos.
M.: Não, eu quero é jogar à bola...!
D.: Primeiro comemos, depois, jogamos. - faz sinal para Miguel se sentar na manta de piquenique.
C.: E então, Miguel, estás a gostar das férias?
M.: Mais ou menos...
D.: «Mais ou menos»?! - Duarte tira uma sandes de atum do cesto de piquenique e começa a come - la.
C.: Porquê mais ou menos?
M.: Eu não gostei muito da casa... - desembrulha o papel de alumínio da sandes e dá uma dentada.
C.: Por causa da Patrícia e do Mestre?
Miguel fica desconfortável ao falar nisto à frente de Duarte.
D.: Não faz mal, Miguel, a mamã já me contou que tinhas medo de estar sozinho no andar de cima.
M.: Como é que eu vou conseguir dormir hoje?
C.: Bem, vais ter que vencer o teu medo, querido. Pensa bem, hoje ainda é dia 18 e vamos ficar aqui até dia 27, por isso, é bom que te habitues a andares sozinho no andar de cima.
D.: Ouve, querido, se o problema é a Patrícia e o Mestre, nós tratamos deles, não tenhas medo. - dá - lhe uma festa na cabeça.
M.: O problema não são eles, pai. Eu não tenho medo da Patrícia e do Mestre!
D.: Então de quem é que tens medo?
M.: Do homem que os matou.
Arrepiei - me ao ouvir a palavra «matar», afinal o homem que estava lá fora foi o homem que os matou? E ele poderá ainda estar vivo e nós corrermos perigo?
C.: Quem é esse homem, Miguel?
M.: Não sei...
C.: Não sabes como? O que é que a Patrícia e o Mestre te disseram?
M.: Disseram - me para ter cuidado com ele e para não me aproximar demasiado dele.
C.: Mas quem? - começo a ficar impaciente com essas meias palavras.
M.: Não sei, já te disse que não sei quem é o tonto do homem! - grita, irritado. O Migue nunca me falou assim.
D.: Não fales assim com a tua mãe.
C.: Miguel, eu só estou a tentar perceber o que é que se está a passar aqui.
M.: Também eu.
C.: Desculpa... - dou - lhe um abraço.
O meu telemovel começa a tocar.
C.: É a avó. - digo, olhando para o ecrã.
D.: E que tal irmos jogar à bola enquanto a mamã fala com a avó Isabel?! - Duarte tenta animar o Miguel.
M.: Ok...
Duarte e Miguel vão - se embora e atendo o telemovel.
«C.: Estou?
I.: Querida!
C.: Mãe!
I.: Como é que está tudo aí?
C.: Estamos todos bem. - o meu tom de voz falso até a mim me soa estranho.
I.: Tens a certeza, filha, estás estranha...
C.: Não, está tudo bem, mãe. A sério.
I.: É que estás com a voz estranha.
C.: Estou meia constipada, mas já tomei dois comprimidos.
I.: Não apanhes frio, tem cuidado.
C.: Sim, eu sei, mãe.
I.: Já viste o que é teres de passar o natal constipada?! Toma um chazinho, querida.
C.: Ok.»
Começo a ter outra vez aquela sensação estranha.
«C.: Mãe, tenho de ir. Eu, o Duarte e o Miguel vamos fazer um piquenique.
I.: Ah, que bom! O Miguel vai adorar, levem uma bola para ele brincar que ele gosta.
C.: Ok, mãe. - uma camada de arrepios volta a invadir o meu corpo - Agora tenho mesmo de ir, falamos mais logo.
I.: Ok, filha. Cuida - te.
C.: Adeus.»
Desligo a chamada.
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Férias Arruinadas
TerrorUma família que decide passar as suas férias de natal numa casa de campo, totalmente isolada, sugerida pelo colega de trabalho do pai, passa por um grande período de terror. Chamam a isto férias?! ____________________________________________________...