Capítulo X - O homem que os matou

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Não me lembro de ter apanhado um susto tão grande na minha vida.

M.: Assustei - te!

D.: Não me assustaste nada...!

Miguel ri de mim. 

M.: Pois não...

Carla aparece, com receio. Mas, assim que me vê com Miguel, dá um suspiro de alívio.

C.: Ah, és tu, querido! - dá uma festinha a Miguel.

M.: Quem é que pensavam que era? - olha para nós os dois.

D.: Ninguém...

Carla, atrapalhada, tenta mudar de assunto.

C.: Vamos então ao piquenique, antes que escureça?! - mesmo com um sorriso na cara, notava - se o pânico nos seus olhos.

M.: Boa! - dá um abraço a Carla e depois olha para mim - Já estás melhor, papá?

D.: Muito melhor e cheio de fome! - dou - lhe uma festa na cabeça.

C.: Ok, mas primeiro toma os comprimidos.

16:45

Estendemos a manta de piquenique no relvado húmido da chuva.

M.: Porque é que o chão está molhado?

D.: É da chuva, filho.

C.: Vá, comecem a tirar os pratos de plástico.

M.: Vamos jogar à bola, pai! - levanta - se e pega na bola.

D.: Primeiro, vamos comer.

M.: Mas...

C.: Não tens fome, querido? - tiro - lhe a bola da mãos.

M.: Não, eu quero é jogar à bola...!

D.: Primeiro comemos, depois, jogamos. - faz sinal para Miguel se sentar na manta de piquenique.

C.: E então, Miguel, estás a gostar das férias?

M.: Mais ou menos...

D.: «Mais ou menos»?! - Duarte tira uma sandes de atum do cesto de piquenique e começa a come - la.

C.: Porquê mais ou menos?

M.: Eu não gostei muito da casa... - desembrulha o papel de alumínio da sandes e dá uma dentada.

C.: Por causa da Patrícia e do Mestre?

Miguel fica desconfortável ao falar nisto à frente de Duarte.

D.: Não faz mal, Miguel, a mamã já me contou que tinhas medo de estar sozinho no andar de cima.

M.: Como é que eu vou conseguir dormir hoje?

C.: Bem, vais ter que vencer o teu medo, querido. Pensa bem, hoje ainda é dia 18 e vamos ficar aqui até dia 27, por isso, é bom que te habitues a andares sozinho no andar de cima.

D.: Ouve, querido, se o problema é a Patrícia e o Mestre, nós tratamos deles, não tenhas medo. - dá - lhe uma festa na cabeça.

M.: O problema não são eles, pai. Eu não tenho medo da Patrícia e do Mestre!

D.: Então de quem é que tens medo?

M.: Do homem que os matou.

Arrepiei - me ao ouvir a palavra «matar», afinal o homem que estava lá fora foi o homem que os matou? E ele poderá ainda estar vivo e nós corrermos perigo?

C.: Quem é esse homem, Miguel?

M.: Não sei...

C.: Não sabes como? O que é que a Patrícia e o Mestre te disseram?

M.: Disseram - me para ter cuidado com ele e para não me aproximar demasiado dele.

C.: Mas quem? - começo a ficar impaciente com essas meias palavras.

M.: Não sei, já te disse que não sei quem é o tonto do homem! - grita, irritado. O Migue nunca me falou assim.

D.: Não fales assim com a tua mãe.

C.: Miguel, eu só estou a tentar perceber o que é que se está a passar aqui.

M.: Também eu.

C.: Desculpa... - dou - lhe um abraço.

O meu telemovel começa a tocar.

C.: É a avó. - digo, olhando para o ecrã.

D.: E que tal irmos jogar à bola enquanto a mamã fala com a avó Isabel?! - Duarte tenta animar o Miguel.

M.: Ok...

Duarte e Miguel vão - se embora e atendo o telemovel.

«C.: Estou?

I.: Querida!

C.: Mãe!

I.: Como é que está tudo aí?

C.: Estamos todos bem.  - o meu tom de voz falso até a mim me soa estranho.

I.: Tens a certeza, filha, estás estranha...

C.: Não, está tudo bem, mãe. A sério. 

I.: É que estás com a voz estranha.

C.: Estou meia constipada, mas já tomei dois comprimidos.

I.: Não apanhes frio, tem cuidado.

C.: Sim, eu sei, mãe.

I.: Já viste o que é teres de passar o natal constipada?! Toma um chazinho, querida.

C.: Ok.»

Começo a ter outra vez aquela sensação estranha.

«C.: Mãe, tenho de ir. Eu, o Duarte e o Miguel vamos fazer um piquenique.

I.: Ah, que bom! O Miguel vai adorar, levem uma bola para ele brincar que ele gosta.

C.: Ok, mãe. - uma camada de arrepios volta a invadir o meu corpo - Agora tenho mesmo de ir, falamos mais logo.

I.: Ok, filha. Cuida - te.

C.: Adeus.»

Desligo a chamada.

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