Um

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Eu acordo com o barulho alto do celular anunciando a chegada de milhares de notificações. Resmungo alguma coisa para mim mesma e tento ignorar a tela brilhosa piscando sem parar, mas algo dentro de mim me impede de fechar os olhos.

São quatro da manhã. Por Deus, quem está me chamando a essa hora?!

Me arrasto até a escrivaninha do meu quarto e pego o aparelho, me xingando mentalmente por ter esquecido de colocar no modo avião antes de dormir.
Rolo o dedo pela tela, e vejo 256 mensagens da Luciana.

São figurinhas da Tulla gritando. Milhares delas. E não param de chegar.

Pauriany assumiram, por acaso?! — eu digito, mas aparentemente ela nem lê, porque continua mandando suas figurinhas.
Caralho Luciana, olha a hora!

Posso te ligar???? — ela digita de volta, e meio segundo depois meu celular começa a tocar.

Eu atendo.

— Stefani? — ela me chama. Sua voz está estranha, meio embargada. Parece que ela estava chorando.

— Oi — eu digo. — O que houve? São quatro da manhã.

— Eu tenho relógio — ela resmunga. — Desculpa pelas figurinhas. Só queria chamar sua atenção.

— E entupir a memória do meu celular — eu retruco. — Aconteceu alguma coisa?

O silêncio do outro lado me incomoda. Alguns segundos depois, ela diz:

— Eu tive um pesadelo.

Eu não digo nada e a espero continuar.

— Foi... com a Raíssa. Foi tão real, sabe? Tô com medo de alguma coisa acontecer com ela.

— Por que aconteceria algo com ela? — eu pergunto, um pouco irritada por ter sido tirada do sono.

— Porque... — ela começa, mas faz uma pausa. Sua voz está trêmula. — Porque eu já tive um sonho assim antes. Muito tempo atrás. Com outra pessoa.

Eu caminho até a minha cama, e me deito com o celular na orelha.

— Com quem?

— Uma amiga. A gente era criança, e... eu tive um sonho horrível com ela. O mesmo sonho que tive agora.

— O que aconteceu com ela? — eu pergunto, sentindo um incômodo no fundo da garganta.

Ouço um suspiro do outro lado da linha.

— Ela desapareceu. — Sua voz sai como um sussurro; eu sinto um calafrio meio inexplicável.

— Foi coincidência, tenho certeza — eu digo, tentando soar confiante. — A Raíssa tá bem, e tá dormindo. Que é o que você deveria estar fazendo.

— Não consigo dormir — ela diz.

Eu suspiro. Meus olhos estão fechando, mas me sinto inquieta.

— Eu vou ficar aqui até você dormir —  digo.

— Obrigada — ela diz, e fica um longo tempo em silêncio. Só sei que ainda está na linha por conta do som de sua respiração entrecortada.

Fecho meus olhos e apoio o celular do meu lado na cama. Sei que o resto de noite vai ser longo, e que amanhã vou acordar com olheiras.

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