O som dos passos atrás de mim fica cada vez mais alto à medida que minhas pernas falham e se cansam, me fazendo perder o ritmo. O corredor por onde fujo é longo e estreito, não consigo enxergar onde ele desemboca e nem quantos metros faltam para que ele acabe.
— Se você tivesse lido as mensagens, isso não estaria acontecendo — o dono dos passos grita. Sinto que ele está cada vez mais perto.
— Me deixa em paz! — eu grito de volta, sem olhar para o rosto dele.
Ele dá uma gargalhada que faz as poucas lâmpadas penduradas no teto tremerem. Minhas pernas enrijecem e eu não consigo mais correr.
— Eu avisei.... — ele sussurra. Sinto suas mãos alcançarem meus ombros. Eu me debato para arrancá-las de mim, mas ele segura forte. Tento gritar, porém minha voz falha.
Ele chega cada vez mais perto, seu hálito é quente contra o meu rosto e...
— Hari! Hari, acorda!
Acordo com um grito preso na garganta. Paula está sentada na minha frente, me encarando com olhos arregalados. Suas mãos estão em volta de mim como se estivessem tentando me segurar.
Eu sinto meus cabelos suados grudarem nas minhas bochechas. Uma dor estranha percorre meus braços e minhas pernas.
— Tá tudo bem — eu digo, na esperança de acalmá-la, e me desvencilho dela. Me sento na cama enquanto respiro fundo e conto mentalmente até dez.
Ela se senta ao meu lado e segura minha mão.
— Foi um pesadelo? — ela pergunta.
Eu assinto.
— Você tava se debatendo e rolando na cama — ela conta. — Tive que te acordar antes que eu levasse um tapa.
Ela consegue arrancar um meio sorriso de mim, o que é suficiente para fazer com que eu me sinta um pouco melhor.
— Preciso do meu celular — digo.
Paula se levanta da cama e se apressa em buscá-lo. Ela tropeça num dos porquinhos vestidos de sereia que as meninas deram para nós. Eu lembro vagamente de ter dormido abraçada com ele – o coitado deve ter ido parar no chão enquanto eu lutava comigo mesma na cama.
— Aqui — Paula fala, entregando meu celular.
Eu pego o objeto com mãos trêmulas. Duas mensagens piscam para mim, fazendo meu rosto brilhar com a luz repentina.
Não queria ter que dizer isso, mas... Eu avisei.
— Ah, merda! — eu deixo escapar, e encaro Paula com a consciência de que agora quem está apavorada sou eu.
Me levanto da cama num salto. Os olhos dela me seguem enquanto eu vou até a porta do nosso quarto.
— Hari! — Paula chama de novo. — Espera!
— Tenho que avisar as meninas — eu digo, sentindo um aperto no meio do peito, uma pressão que parece prender minhas costelas, me impedindo de respirar direito.
— Avisar o quê?!
Eu não respondo. Abro a porta de uma vez só, sem me importar com o que estou vestindo, e saio correndo pelo corredor do hotel. Vejo com o canto do olho Paula me seguir e gritar meu nome, mas não paro até chegar ao quarto das meninas e bater na porta.
— Calma — Paula diz. — Elas podem estar dormindo ainda.
Eu rezo para que ela esteja errada. Felizmente, a porta se abre em alguns segundos, e eu entro sem prestar atenção em quem abriu para mim. Paula entra logo atrás.
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Cosmos
FanfictionO que você faria por alguém que acabou de conhecer pessoalmente? Letícia, Mylenna, Gabriela, Raissa, Stefani e Luciana são garotas completamente diferentes: idades diferentes, cidades diferentes, vidas diferentes... Se conheceram através do fandom...