Vinte e seis

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Os ponteiros do relógio pendurado na parede da recepção do hotel marcam 14:00 quando Stefani se levanta pela milionésima vez para falar com os recepcionistas.

As pessoas passam por nós apressadas e felizes, e não parecem notar o grupo grande de meninas amontoadas nas poltronas do saguão à espera de um telefonema ou qualquer notícia sobre Manoel e o paradeiro de Raíssa.

— Vocês têm certeza que Manoel não mandou nada? Nenhum recado? — Stefani pergunta para o moço entediado atrás do balcão.

Ele balança a cabeça de um lado para o outro e volta a olhar para a tela de seu computador.

— Sinto muito. Vamos avisar se recebermos algo.

Ela agradece sem esconder a frustração e volta para o lugar onde estamos.

— Não é possível — Luciana diz. — A gente já ligou um milhão de vezes pra ele e nada. Tem alguma coisa muito errada.

Mylenna se levanta da poltrona.

— Isso não é justo. A gente devia estar nadando com os golfinhos agora – ela fala. — Raíssa devia estar aqui com a gente, rindo e fazendo os comentários debochados dela.

Ela esconde o rosto, mas não consegue esconder os ombros subindo e descendo cada vez que soluça. Paula  apoia uma mão em suas costas e afasta os cabelos dela que caíram sobre o rosto. 

— Calma, My — ela diz. — Logo logo ela tá aqui com a gente. Espera só mais um pouco.

— Mais um pouco?! — Mylenna retruca. — A gente já esperou um monte! Manoel prometeu mandar notícias, e até agora não falou nada... A gente não faz a menor ideia de onde procurar Raíssa, a gente não conhece nada nesse lugar, e ninguém tá nem aí pra isso!

— Ei, para com isso, Mylenna — Luciana pede. — Você não pode surtar. Você é a que acalma todo mundo e acha uma solução pra tudo. Não surta, por favor...

Mylenna balança a cabeça de um lado para o outro.

— Dessa vez eu não posso fazer nada — ela responde, em voz baixa.

— Então fica calma, por nós... — Paula reforça o pedido de Luciana. — Vai dar tudo certo.

— Vou tentar... — Mylenna promete, e termina a frase com um sorriso triste.

Eu fito meu celular, na esperança de ver alguma mensagem nova, mas a única coisa que minha retina alcança é a rachadura enorme no meio da tela. Fecho os olhos e penso no dia em que ela foi parar ali. Era o começo do sonho. E ele não pode ser estragado agora.

— Só queria um sinal de vida — eu digo, enquanto passo o dedo pelo vinco da tela quebrada. — Qualquer coisa.

Hari concorda com a cabeça. Meus olhos se perdem pela multidão de turistas que seguem passando por nós sem se importar, e eu teria feito um comentário sobre isso, se não tivesse notado uma garota se distanciando dos outros hóspedes e vindo em nossa direção.

Ela é alta e caminha com a postura totalmente ereta, apesar de suas maçãs do rosto vermelhas de suor e de sua respiração ofegante.

— Oi... — ela cumprimenta, apoiando as mãos nos joelhos. — Achei vocês.

— Oi — Gabriela responde com uma sobrancelha erguida. — Quem é você?

Ela respira fundo e nos lança um olhar sombrio. Sua boca se abre e se fecha algumas vezes, como se ela estivesse escolhendo cada palavra com muito cuidado. Então, sem nenhum aviso prévio, ela diz:

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